Leitura: 2º Crônicas 17:01-19
Texto: 2º Crônicas 17:01-06
Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,
Muitas das coisas registradas no livro dos Reis também se encontram no livro das Crônicas. No entanto, não devemos pensar que o livro das Crônicas é uma mera repetição do livro dos Reis. O livro das Crônicas tem o seu lugar e propósito especial dentro das Escrituras e da história do povo de Deus no Antigo Testamento. Foram escritos primeiramente para os judeus, mas não somente para eles. O livro das Crônicas constitui uma parte da palavra inspirada de Deus que traz instrução, repreensão, encorajamento e consolo para o povo de Deus em qualquer época e geração.
O livro das Crônicas foi escrito para os judeus que voltaram para Jerusalém depois do exílio babilônico, que durou setenta anos. Tal livro foi escrito não simplesmente para dar informações históricas precisas ao povo de Deus, mas com o principal propósito de encorajar e animar o povo de Deus na restauração do reino em Israel. O escritor procura mostrar aos seus leitores que o SENHOR permanece fiel à sua aliança e que o seu povo deve confiar nele. Àqueles que foram levados cativos por causa de sua desobediência à aliança de Deus, agora são chamados a renovar a aliança com Deus por meio da obediência. Os exemplos positivos dos reis fiéis de Judá que foram abençoados por Deus encorajam o povo a obedecer ao SENHOR; enquanto que a infidelidade de alguns, adverte o povo para não pecar contra o SENHOR e assim receber o castigo.
O capítulo 17 do segundo livro das Crônicas introduz o relato histórico do reinado do rei Josafá. Ele foi o sexto rei de Judá depois de Davi. Quando Josafá começou a reinar a situação do povo de Deus não era das melhores. O povo de Deus achava-se dividido em dois reinos: o reino do Norte (Israel) e o reino do Sul (Judá). O reino do norte encontrava-se numa profunda crise espiritual com a introdução da idolatria (culto a Baal) pelo incrédulo rei Acabe e sua perversa esposa Jezabel. No reino de Judá, a situação não era tão crítica quanto a do Norte, mas ainda tinha os seus problemas. Apesar das reformas de Asa, pai de Josafá, nem todos os altos foram tirados (2Cr. 15.17). Além disso, Asa, que mostrou muita fé no início de seu governo, deixou de confiar em Deus no final. Nesse contexto, Josafá é levantado por Deus para reinar em Judá. Nosso texto fala sobre suas primeiras obras como rei de Judá e foi escrito para animar o povo da aliança. Dentro do propósito do livro das Crônicas, o nosso texto é bem apropriado para encorajar o povo que retornou do exílio.
Neste sermão vamos atentar apenas para o que está escrito nos versos 1-6 e aprender o que Deus tem a nos ensinar com esse texto. No texto encontramos dois personagens importantes: o rei Josafá e o SENHOR Deus. Nosso texto nos revela a seguinte mensagem:
O SENHOR GRACIOSO ABENÇOA O FIEL REI JOSAFÁ.
Duas verdades importantes são destacadas no texto:
A fidelidade de Josafá para com o SENHOR (3, 4, 6).
A graça do SENHOR com Josafá (v.3,5).
- A fidelidade de Josafá para com o SENHOR
Nos versos 1 e 2 lemos que Josafá, logo que se tornou rei, se fortaleceu contra Israel. Por meio de um forte exército, Josafá tomou a atitude radical de proteger Judá e as cidades de Efraim contra Israel. Por que Josafá, naquela ocasião, tomou essa atitude radical de se fortalecer contra Israel que também era povo de Deus? Devemos entender o contexto: o clima era de guerra entre Israel e Judá – guerra política e espiritual. Depois da divisão dos reinos houve conflitos regulares entre ambos (Jeroboão e Abias – II Cr. 13.15-20; Asa e Baasa – II Cr. 16.1-6). A época de Josafá ainda é de guerra contra Israel. E ele se fortalece contra Israel por duas razões: 1) razão política: assegurar as terras de Efraim que seu pai havia tomado de Israel. Essas terras eram férteis e produtivas e certamente Israel as queria de volta. Josafá protege o que seu pai conquistou. 2) razão espiritual: proteger o povo de Judá da idolatria reinante em Israel naqueles dias. No reino do Norte o Senhor tinha sido esquecido e o culto pagão a Baal estava em alta. Josafá toma a atitude séria e radical de fechar a fronteira com Israel com os seus exércitos para não se contaminar com a idolatria que lá havia. Essa foi a principal razão da sua atitude. O contexto indica isso: verso 3 – ele buscou a Deus e não aos baalins (divindades pagãs que estavam sendo buscadas no reino do Norte); verso 4 – ele não agiu segundo as obras de Israel (suas práticas pecaminosas). Ele protegeu o seu povo da idolatria para servir somente o Deus vivo.
O povo que retornou da Babilônia precisava ouvir essa mensagem. Eles foram levados cativos por seguirem as práticas abomináveis da idolatria de povos pagãos. E agora que retornaram, pela graça de Deus, eles aprendem com a atitude de Josafá de se fortalecer contra Israel que o SENHOR abomina a idolatria e exige que o seu povo sirva somente a Ele. Eles devem se fortalecer contra toda idolatria para ser o povo santo e exclusivo do SENHOR. Devem se fortificar até contra os membros do povo de Deus que são infiéis a ele. O ato de Josafá se fortalecer contra Israel é também uma mensagem para nós hoje. Deus nos chama a manter uma posição firme diante do pecado que nos ameaça. Deus nos chama a nos fortalecermos contra as ciladas do diabo. Ele nos chama a nos fortalecermos nele em nossa luta contra tudo que tenta ameaçar a nossa fé. Josafá pôs exércitos para impedir que a idolatria de Israel invadisse Judá. Nós temos de nos revestir da armadura de Deus para nos fortalecer contra nossos inimigos (carne, diabo e o mundo) e permanecer firmes no Senhor (Ef. 6.10-18). Com a espada do Espírito nas mãos e em nossos corações, e também em constante oração, Deus nos ajuda a vencer a luta contra os nossos inimigos. Fortaleça-se no Senhor e não dê lugar ao pecado e ao diabo na sua vida.
O ato de Josafá de se fortalecer contra Israel é uma expressão da sua fidelidade ao SENHOR. Os Versos 3-4 explicam ainda mais a atitude de fidelidade de Josafá para com Deus. Ele andou nos primeiros caminhos de Davi, seu pai (fidelidade de Davi ao SENHOR no início do seu reinado) e não conforme os reis de Israel. Andar nos primeiros caminhos de Davi aponta para a conduta fiel e piedosa de Josafá diante de Deus a exemplo de Davi, que foi um homem segundo o coração de Deus. Andar nos caminhos de Davi = andar nos mandamentos do SENHOR (guardar a lei).
A Bíblia fala do caminho dos justos e do caminho dos ímpios (Sl. 1). O piedoso segue a direção de Deus e anda com Deus e não segundo os seus próprios caminhos. Temos vários exemplos bíblicos de homens fiéis que andaram nos caminhos do SENHOR (ex: Enoque – Gn. 5.22, Noé – Gn. 6.9, Abraão – Gn. 17.1; Davi e Josafá). O ímpio segue o seu próprio coração e não os mandamentos do SENHOR (ex: os ímpios reis de Israel que andaram nos maus caminhos de Jeroboão). Josafá serviu fielmente a Deus. Ele não buscou os baalins nem seguiu as práticas pecaminosas de Israel. Seu prazer estava em andar nos caminhos do SENHOR e guardar os seus mandamentos.
E quanto a nós? Como está a nossa conduta diante do SENHOR? Em que caminhos temos andado? Nos caminhos do SENHOR ou em nossos próprios caminhos? O que temos buscado para nossa vida? O SENHOR e os seus mandamentos? Ou a satisfação dos nossos desejos pecaminosos? O SENHOR exige fidelidade da nossa parte. Ele quer o nosso coração. Ele tem prazer em que andemos fielmente nos seus caminhos. Às vezes falhamos em andar fielmente nos caminhos do SENHOR. À exemplo de Israel, coxeamos entre dois pensamentos, querendo servir a Deus e a Baal ao mesmo tempo. Queremos ser membros da igreja e ainda viver em nossos pecados. Tentamos servir a dois senhores. Eu quero Cristo, mas quero também os meus pecados. É impossível servir a dois senhores. Ou caminhamos no caminho dos justos em obediência aos mandamentos do SENHOR ou caminhamos no caminho de rebeldia dos ímpios. Ou entramos pela porta estreita e o caminho apertado que conduz à vida ou entramos pela porta larga e andamos pelo espaçoso caminho que conduz a perdição. O que você prefere? Que caminho você quer seguir? É tão triste saber que são muitos que seguem o caminho do pecado que leva à morte e perdição. Mas o SENHOR está chamando o seu povo a andar nos seus caminhos para que tenham vida. Ele manda pregar a palavra para trazer seu povo de volta ao caminho da obediência (Is. 30.21). Ele faz isso para nossa salvação. Ele faz isso para nos conduzir ao arrependimento. Pois ele não tem prazer na morte do ímpio, mas em que ele se arrependa dos seus maus caminhos e viva. O exemplo positivo da fidelidade de Josafá nos encoraja a também andarmos no caminho e nos mandamentos do SENHOR e não em nossos próprios caminhos. E é isso que Deus requer de cada um dos seus filhos.
O que é necessário para tomarmos a posição firme de andarmos nos caminhos do SENHOR e abandonarmos nossos pecados? Precisamos de coragem e ousadia para seguir fielmente ao SENHOR. O rei Josafá foi ousado em seguir a Deus. (v.6). Muitos reis elevaram o coração para pecar contra Deus, mas Josafá elevou o seu coração no sentido positivo de obedecer a Deus. Ele serviu a Deus com fidelidade e também com toda coragem. Sua ousadia em seguir os caminhos do SENHOR se manifestou na sua atitude séria e radical de tirar os altos e os postes ídolos de Judá (lugares de adoração pagã onde se encontravam estátuas de falsos deuses e onde o culto a Deus era misturado com o culto a Baal). Logo depois da separação dos dois reinos, Judá também foi afetada com a idolatria. Asa tentou abolir a idolatria em Judá (II Cr.14.3-5). Josafá, seu filho seguiu na mesma direção fortalecendo-se contra Israel e destruindo o que restou da idolatria em Judá. Ele tomou uma atitude ousada de servir apenas o Único e Verdadeiro Deus juntamente com todo o povo de Judá. Com sua atitude corajosa ele desafiou Judá a voltar-se totalmente para Deus.
Precisamos ser cristãos ousados. Devemos ter a coragem de confessar a Cristo diante dos homens com nossas palavras e atos. Precisamos de um coração elevado para servir somente a Deus. Josafá manifestou sua ousadia em seguir a Deus arrancando os postes ídolos. Tenhamos a coragem de arrancar da nossa vida todo pecado que está nos impedindo de viver uma vida santa diante de Deus. Todo ódio, toda hipocrisia, todo medo, todo egoísmo, toda imoralidade devem ser banidos da nossa vida se queremos ser crentes fiéis e corajosos. Nossos jovens, por exemplo, precisam ser cristãos ousados que têm a coragem de dizer não às coisas do mundo para seguir a Cristo. Não dá para sermos cristãos fracos e tímidos. Deus nos chama a segui-lo com toda fidelidade e coragem. Que o nosso coração seja elevado (ousado) não para pecar, mas para obedecer a Deus. Ele manifesta a sua graça para com todos aqueles que são fiéis e corajosos em andar nos seus caminhos. Ele mostrou a sua graça sobre o fiel e corajoso rei Josafá.
- A Graça do Senhor Deus com Josafá
Ouvimos como o rei Josafá mostrou a sua fidelidade ao SENHOR. O que motivou Josafá a ser fiel ao SENHOR? Qual a razão da sua fidelidade? A primeira parte do verso 3 nos dá a resposta: O SENHOR foi com Josafá. Essa expressão indica que a presença graciosa de Deus estava com Josafá. Deus abençoou o reinado de Josafá e lhe deu a capacidade de ser fiel a ele. Por causa da graça de Deus, Josafá também estava com Deus e foi fiel a Ele. Não devemos nos esquecer que Josafá era um homem falho e pecador como todos os homens. A Bíblia não esconde alguns erros que ele cometeu no decorrer do seu reinado. Apesar dos seus pecados, Josafá foi um rei fiel. Por quê? Porque o SENHOR era com ele; a graça de Deus o motivou a andar nos caminhos do SENHOR. Por isso, não devemos engrandecer Josafá, mas glorificar a Deus que, por sua graça, fez dele um rei fiel e abençoou o seu reinado.
Não devemos nos orgulhar de nós mesmos quando vivemos em fidelidade ao SENHOR, mas reconhecer que somente por sua graça, ele nos torna fiéis. Por sua graça, o SENHOR não somente nos salva, mas também nos faz praticar boas obras de gratidão (Ef.2.8-10).
Além disso, o SENHOR nos manifesta a sua graça de recompensar as boas obras que preparou para que andássemos nelas. Conforme a sua aliança de graça, o SENHOR abençoa os que lhe são fiéis, enquanto castiga os que se mantêm rebeldes contra ele. Por sua graça, ele coroa as boas obras das nossas mãos com a sua benção. Vemos isso na história dos reis. O Deus gracioso abençoou os reis que foram fiéis a ele (I Cr. 29.28; II Cr.1.12). Josafá foi um destes reis fiéis abençoados por Deus. O que Deus fez em favor de Josafá, além de dar-lhe a graça de ser fiel?
Veja o que está escrito no verso 5: “O SENHOR confirmou o reino nas suas mãos e todo o Judá deu presentes a Josafá, o qual teve riquezas e glória em abundância”. O verbo “confirmou” é usado várias vezes no sentido de estabelecer uma monarquia. É este o caso do nosso texto. O detalhe importante é que o reino de Josafá não foi estabelecido por ele mesmo, mas foi estabelecido por Deus, pois o SENHOR era com Josafá. Deus abençoou Josafá e tornou o seu reinado próspero tanto materialmente quanto espiritualmente. Josafá se engrandeceu em extremo (grande e forte exército, respeito e dádivas das nações, fortalezas e cidades fortificadas, vs. 10-19). No verso 5 lemos que todo o povo de Judá reconheceu que o SENHOR era com Josafá no seu reino de modo que trouxeram presentes para Josafá. Essa atitude do povo foi uma expressão de respeito, honra, submissão e gratidão ao rei a quem Deus confirmara o reino.
Como podemos enxergar a graça de Deus na confirmação do reino nas mãos de Josafá? Deus recompensou a fidelidade do seu servo com riquezas e honra em abundância. Deus motivou o povo a dar presentes a Josafá, fazendo próspero o seu reinado. Nisso vemos a graça de Deus em favor de Josafá.
Mas não é somente isso. Há ainda uma manifestação maravilhosa da graça de Deus no estabelecimento do reino de Josafá pelo SENHOR. O SENHOR Deus, por sua graça e em fidelidade à sua aliança, está trabalhando por meio de Josafá para cumprir a sua promessa redentora de estabelecer o trono de Davi para sempre. Deus prometeu a Davi estabelecer o seu trono para sempre (ler I Cr.17.11,12). Essa promessa é central no livro das Crônicas. Ela aponta para o descendente de Davi que terá seu reino estabelecido por Deus eternamente. Mas quem é esse descendente de Davi? Salomão? Josafá? Não. Este descendente de Davi que terá seu trono estabelecido para sempre é Cristo, o Filho de Davi. Deus preservou a dinastia de Davi, da qual descenderia o Cristo, filho de Davi para salvar seu povo e estabelecer seu reino para sempre. Em fidelidade à sua aliança a Davi e sua descendência, o SENHOR está preparando a salvação do seu povo mediante o Filho de Davi que virá na plenitude do tempo. Deus está trabalhando na vida do seu povo para cumprir a sua promessa.
Por meio de Josafá, o SENHOR está preparando o caminho para Cristo. O estabelecimento do reinado temporário de Josafá é uma prefiguração do estabelecimento do reinado eterno do Messias. Josafá, pela graça de Deus, está a serviço daquele que é maior do que ele, Jesus Cristo, o Rei dos reis, que merece toda honra e glória. Este terá o seu reino estabelecido para sempre (Isaías 9.6,7).
Deus já cumpriu esta promessa em nosso favor. Cristo já cumpriu a obra redentora que o Pai lhe dera para fazer e hoje reina sobre nós à direita do Pai e o seu reinado será eterno. Mediante o seu Espírito e Palavra, ele nos protege contra todos os inimigos e nos protege e guarda na salvação que conquistou para nós. Na glória vamos reinar com ele eternamente sobre toda criação.
Isto é o evangelho da graça de Deus para o seu povo: O SENHOR estabeleceu o reino de Cristo para sempre. Aquele que é maior do que Josafá reina sobre nós. E isso é graça. Cristo é o nosso rei e desfrutamos das bênçãos do seu reino agora e eternamente. Por sua graça, Deus nos tornou herdeiros e súditos do reino eterno de Cristo. E qual deve ser a nossa atitude diante do nosso eterno rei que nos salvou e nos guarda na salvação? Gratidão. Quando reconhecemos a grandiosa graça de Deus para conosco em Cristo, só podemos nos encher de gratidão e oferecer a nossa vida a ele como sacrifício vivo, santo e agradável. Como expressar nossa gratidão na vida prática do dia a dia? Deixemos os nossos pecados. Tenhamos prazer em guardar os mandamentos de Deus e sejamos ousados (corajosos) em andar nos caminhos do SENHOR. Essa é a atitude de todo crente que reconhece a graça de Deus sobre sua vida. Ele dedica toda sua vida ao seu Rei Jesus Cristo, que reina sobre tudo e sobre todos e, portanto, é digno de honra, glória e adoração.
Amém.
Elissandro Rabêlo
Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.