1 Reis 13

Leitura: 1 Reis 12:25-13:34
Texto: 1 Reis 13


Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Certamente esta passagem é uma das mais estranhas e misteriosas do Antigo Testamento. Depois de ler este texto, nos perguntamos: o que que Deus quer que a gente aprenda com essa história? Por que foi gravada para nós?

Isso nos deixa com muitas perguntas sem resposta:
Por que Deus matou o profeta que errou acidentalmente (porque acreditou na palavra do outro profeta), e não o outro profeta que mentiu abertamente?
O que significa o leão e o jumento?
E a grande questão: qual é a mensagem deste texto para nós? O que Deus está querendo nos ensinando com este capítulo?

Vamos tentar responder a essas perguntas ao estudar a palavra de Deus aqui.

No versículo 1, nós encontramos Jeroboão – que é o rei de Israel (as dez tribos do norte) – em pé diante de um altar em Betel, prestes a oferecer um sacrifício a Deus naquele altar, com um bezerro de ouro próximo, que supostamente representava Deus. É como uma daquelas desenhas para crianças, em que elas tem que identificar tudo que está errado com aquele cenário:
Um altar em Betel—totalmente fora de lugar, já que Deus ordenou que todos os sacrifícios sejam feitos no templo em Jerusalém.
O rei Jeroboão fazendo o sacrifício, o que era somente para os sacerdotes fazerem.
E logo um bezerro de ouro para representar Deus.

Claro que foi uma cerimônia muito solene, muito bonita, e muito piedosa. Jeroboão mesmo não era um homem piedoso—ele tinha organizado este culto em Betel para prevenir que as pessoas fossem para Jerusalem para cultuar—mas, como um político astuto, ele sabe que fica para a vantagem dele se apresentar como um homem piedoso, religioso, espiritual. Não importa que esta espiritualidade seja Bíblica; uma população ignorante da palavra de Deus não vai saber a diferencia, e não vai se importar com isso.

Assim, encontramos Jeroboão de pé ao lado desta representação de Deus na forma de um bezerro de ouro, e prestes a oferecer sacrifícios no altar que ele construiu em Betel, e é tudo uma cerimônia muito solene e espiritual.

Enquanto a cerimônia está acontecendo, de repente um homem chega na frente do povo, e quebra toda a solenidade do momento, gritando para o altar,
“Altar, altar! Assim diz o Senhor: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias, o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que queimam sobre ti incenso, e ossos humanos se queimarão sobre ti.”

É assim que se estraga uma cerimonia solene, não é? Toda parte dessa interrupção teria sido irritante demais para as pessoas presentes.
Por uma coisa, as pessoas teriam imediatamente reconhecido que este homem era um sulista de Judá (ele teria um sotaque distinto), e deve ser mesmo um sulista matuto para estragar a diversão, porque este culto foi planejado exatamente para impedir que as pessoas fossem para o sul para adorar no templo em Jerusalém.
Pior ainda do fato que ele era um homem do sul, ele logo mencionou a descendência de Daví. Os Israelitas acabou de se livrar desta linhagem de Davi, representado na pessoa de Roboão, e não queriam ouvir nada sobre Daví.
Então, podemos só imaginar o que que eles estavam pensando. “Tinha que ser um sulista. Bora, tira ele logo, mande ele calar a boca, ou senão vamos ajudar ele a se calar. Nunca ouvimos falar sobre este filho de Davi Josías, e já não gostamos do filho de Davi que conhecemos. Bote este homem fora já.”

Mas antes que eles poderiam reagir, o profeta continuou dizendo: “Este é o sinal de que o Senhor falou: Eis que o altar se fenderá, e se derramará a cinza que há sobre ele.”

Nesse momento, Jeroboão se despertou do choque e chamou para os guardas presentes para pegar este homem. Mas no momento em que ele estendeu a mão, sua mão estendida murchou e ele não conseguiu nem puxá-la de volta. Quão facilmente nós esquecemos que somos apenas criaturas, e até cada movimento dos nossos músculos é dado para nós por Deus.

Naquele momento, imagino que o Rei se arrependeu de ter falado, e teria gostado muito de puxar a mão de volta e fingir que não fez nada, mas agora já era. Todo mundo poderia ver sua mão estendida. É como na mídia social, que tantas vezes os politicos postam alguma coisa vergonhosa, e depois querem apagar a postagem, mas mesmo tirando, o internet nunca esquece, sempre tem imagens da postagem original.

Piorando a situação para Jeroboão, logo depois que sua mão murchou, a profecia sobre o altar já se cumpriu diante dos olhos de todos. O altar se partiu em dois e as cinzas foram derramadas. Teria sido um momento muito assustador para todos presentes.

Agora o rei Jeroboão reconheceu que foi derrotado, então, como os políticos fazem, ele tentou mudar de opinião. Mudanças nas circunstâncias exigem mudanças nos relacionamentos. Isso é a política. Versículo 6, ele diz ao profeta: “Implora o favor do Senhor, teu Deus, e ora por mim, para que eu possa recolher a mão. Então, o homem de Deus implorou o favor do Senhor, e a mão do rei se lhe recolheu e ficou como dantes.”

Então o rei, como político esperto, aproveita para se posicionar como se fosse amigo do profeta, e como se fosse ainda no controle da situação. Ele aponta em direção ao palácio dele, e convida o profeta para desfrutar da sua generosidade, e ele até lhe promete um presente. Tudo para dar impressão que ele ainda está no poder.

Uma pena para Jeroboão, porém, Deus já tinha preparado seu profeta para esta resposta, e advertiu estritamente o profeta para não comer, beber ou nem mesmo voltar pelo caminho por onde veio (provavelmente para que fosse mais difícil para as pessoas rastreá-lo depois). Então o profeta disse, versículo 8: “Se você me desse metade da sua casa, eu não iria com você”. (Imaginem que insulto!) O rei, tão acostumado a ter todas as pessoas se curvando a ele, querendo ser amigo dele, nunca tinha passado por uma rejeição total como esta. Como pessoa mundana, ele não imaginou que alguem poderia não desejar o ouro, prata, riqueza, ou poder dele—as únicas coisas que ele tinha para oferecer. Era a única moeda que ele conhecia. Ele não tinha olhos para ver sua séria necessidade e pobreza espiritual diante de Deus. Então o profeta o humilhou novamente, rejeitando sua oferta patética e virando-lhe as costas.

——

Agora o texto nos leva de volta à cidade, a Betel. Havia um velho profeta morando em Betel, e seus filhos vieram contar a ele tudo que aconteceu no altar. (Agora já, o fato de que este profeta viveu no liberal Betel deve nos advertir que ele dificilmente vai ser um profeta fiel, e o fato de que seus filhos estavam lá no sacrifício de Jeroboão também deveria despertar nossas suspeitas.)

Mas o velho profeta estava interessado neste jovem profeta de Deus de Judá. O escritor aqui não nos diga por que se interessou por ele. Talvez ele tenha achado o profeta mais jovem curioso. Talvez ele o lembrasse de si mesmo, quando ele era um jovem profeta, numa outra época, quando os profetas ainda eram fieis; quando ele ainda tinha suas convicções. Seja qual for o caso, ele mandou seus filhos preparar um jumento para ele, e ele foi atrás do homem de Deus.

Quando ele encontrou o homem de Deus, ele pediu-lhe que se juntasse a ele para jantar. Agora lembrem que com certeza ele já sabia, por meio de seus filhos que lhe contaram tudo o que aconteceu, que o profeta tinha ordens estritas para não parar, nem para comer nem para beber. E, para seu crédito, o homem de Deus disse a ele a mesma coisa que disse ao rei: “desculpe, mas Deus me deu ordens estritas para não comer comida ou beber água ou voltar pelo caminho por onde vim.”

Mas então o velho profeta pegou ele por surpresa. Ele disse, versículo 18, “Também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou por ordem do Senhor, dizendo: Faze-o voltar contigo a tua casa, para que coma pão e beba água.” Nosso texto nos diz que isso era mentira descarada, o que nós já sabemos.

E isso nos diz muito sobre o caráter desse profeta mais velho. Podemos tomar este velho profeta como um exemplo representativo da qualidade dos profetas no Reino do Norte de Israel. Quaisquer que sejam as convicções que ele possa ter tido quando ele era um jovem profeta de Deus, ele já as abandonou há muito tempo.

Mas então o homem de Deus de Judá fez algo inacreditável. Depois de toda a coragem e convicção que ele manifestou quando enfrentou o rei de Israel … agora ele desviou o caminho e seguiu esse profeta mentiroso até sua casa.

Há uma lição muito importante aqui. A maior vulnerabilidade de um pastor – seu maior ponto de fraqueza—além, talvez da sua esposa—é seus colegas. Todos os tipos de convicções desaparecem com a influência má de outros pastores e professores. Você olha para as denominações e confederações de igrejas que antes ensinavam a Palavra de Deus com fidelidade e coragem, e pergunta: “o que aconteceu com eles?” A história mostra que essa decadência doutrinária geralmente começa de cima para baixo, nos seminários e conferências ministeriais. Não é preciso muitos. Um falso profeta com influência pode causar muito dano, minando muitas convicções bíblicas, desviando os outros do caminho da verdade. É incrível. O homem de Deus enfrentou com tanta coragem ao Rei de Israel, que, por tudo o que sabia, poderia tê-lo matado, mas depois perdeu toda a sua coragem e convicção para um colega mais velho.

E não é só os profetas e pastores, mas os cristãos em geral também. É possível ser muito corajoso diante do mundo, professando nossa fé não obstante a oposição, mas depois jogando fora as nossas convicções diante dos nossos irmãos cristãos.

Enquanto eles estavam sentados ali desfrutando do jantar, de repente a palavra de Deus veio ao velho profeta de Betel – provavelmente já fazia um tempo desde que isso havia acontecido com ele – e ele repentinamente interrompe a conversa e clama o versículo 21: “Assim diz o Senhor: Porquanto foste rebelde à palavra do Senhor e não guardaste o mandamento que o Senhor, teu Deus, te mandara…o teu cadáver não entrará no sepulcro de teus pais.”

E foi exatamente isso que aconteceu. Depois que terminaram o jantar, ele seguiu seu caminho, e um leão o encontrou na estrada e o matou.

Percebam, irmãos, o dano que uma falsa profecia faz. Talvez o profeta mais velho pensou que foi uma coisa inocente, e por isso ousou de usar o nome do SENHOR, dizendo que foi um anjo do senhor que tinha falado com ele. Mas não foi a verdade. Nem o Senhor, nem um anjo do Senhor, tinha falado com ele. Ele ousou de tomar o nome de Deus para aumentar sua credibilidade e sua posição, mas não foi a palavra do Senhor.
Não é brincadeira não, irmãos, tomar o nome de Deus. É toda a moda no Cristianismo de hoje dizer “Deus me disse isso” e “Deus me disse aquilo,” e os irmãos sabem quantas seitas existem exatamente por causa disso. Mas não é brincadeira não. Já temos aqui [na Bíblia] a palavra de Deus. Se alguém ousa a dizer “Deus me disse,” e não foi Deus, mas sua própria imaginação ou falta de respeito para o nome de Deus, entenda bem: Deus diz claramente na sua palavra que não terá por inocente aquele que tomar o Seu Nome em vão.

Mas no final das contas, não foi nem o velho profeta de Betel que foi julgado naquele momento, mas o profeta de Deus. Ele foi julgado porque ele deixou de lado a palavra do Senhor e seguiu atrás de uma mentira. A pessoa que toma o nome de Deus em vão vai ter que responder a Deus por isso, mas é a nossa responsabilidade, irmãos, a nos apegar a palavra de Deus e não ser enganados.

Agora o que significa esta parte do leão e do jumento? Tem muito debate entre os teólogos e comentaristas sobre isso. Alguns dizem que talvez é simbólico, o leão representando Judá, e o jumento representando Israel. Mas esse tipo de interpretação tende a minar o que é apresentado como uma história factual para se tornar um mito simbólico. E eu acredito que existe uma interpretação mais simples. O motivo pelo qual Deus ordenou que o leão fizesse isso—matando o profeta sem comê-lo e sem machucar o jumento—é simplesmente para mostrar de forma indubitável que isto foi um ato de Deus. Os leões não fazem isto naturalmente—matando sem comer, ou matando a pessoa e deixando o animal em paz. Foi obviamente o castigo de Deus.

Bem, a notícia voltou a Betel, e quando o profeta mais velho ouviu sobre o que aconteceu, ele foi ver a cena e imediatamente reconheceu o que significava. Ele reconheceu isso como um ato de Deus pela desobediência que ele havia causado ao jovem profeta.

Então ele mesmo levou o corpo do profeta de volta para a cidade. Imaginem como teria sido uma jornada sóbria para este profeta velho, liberal e infiel. Ele deve ter refletido sobre sua própria vida como profeta de Deus. Talvez, em sua juventude, ele não fosse tão diferente do homem de Deus de Judá. Agora ele tinha acabado de roubar a coragem e a convicção desse jovem, e até mesmo causou sua morte.

Quando ele voltou para a cidade, ele e seus filhos enterraram o homem de Deus de Judá, e então o profeta gritou “Ai, meu irmão”, e disse a seus filhos, versículo 31,
“Quando eu morrer, enterrai-me no sepulcro em que o homem de Deus está sepultado; ponde os meus ossos junto aos ossos dele.”

Assim, nas suas palavras finais, ele reconheceu ele e este jovem de Judá deveriam ter sido como irmãos. Deveriam ter ficado lado a lado, testemunhando contra o mundo, contra a falsa profecia, contra a idolatria de Jeroboão. Ele mesmo deveria ter feito igual a este jovem de Judá, levando a Palavra de Deus com coragem e convicção contra a idolatria do seu país, em vez de seguir as mudanças teológicas no reino do norte. É uma cena triste, um ministro da palavra descobrindo na velhice que ele já perdeu toda a coragem e convicção que outrora tinha, para as tendências do liberalismo que corroem a fé de tantos pastores e igrejas.

——
Então, o que fazemos com essa história?

Talvez a maior lição da história tenha a ver com o Rei Jeroboão. Veja o versículo 33, logo após o final da história. O autor diz,
1 Kings 13:33–34: “Depois destas coisas, Jeroboão ainda não deixou o seu mau caminho; antes, de entre o povo tornou a constituir sacerdotes para lugares altos; a quem queria, consagrava para sacerdote dos lugares altos. Isso se tornou em pecado à casa de Jeroboão, para destruí-la e extingui-la da terra.”

O fato de que o autor menciona isso logo no final desta história mostra que ele quer chamar nossa atenção especialmente a este ponto: a reação (ou falta de reação) do rei. Não obstante todas as advertências de Deus, e a vergonha que ele passou diante do altar dele, ele não mudou o seu caminho. E este pecado dele se tornou o pecado de todos os reis depois dele também. É exatamente este pecado de adorar esses bezerros de ouro que é mencionado repetidamente com quase todos os reis que seguiram Jeroboão. Ele estabeleceu o precedente, e Deus deixou muito claro o que ele pensava sobre isso.

Se refletirmos sobre a história aqui, podemos ver pelo menos cinco maneiras pelas quais o Rei Jeroboão foi advertido.

  1. A primeira advertência é simplesmente a advertência da história. Quando diz no capítulo 12:28 que Jeroboão se aconselhou e decidiu fazer esses bezerros de ouro, a gente deve pensar: “Será que ele não considerou seriamente a história ali?” A última vez que Israel tentou adorar a Deus através de um bezerro de ouro foi com Arão, e Deus castigou o povo severamente por ter feito isto. E é incrível porque Jeroboão repete o erro de Arão palavra por palavra. Ele diz no capítulo 12:28, com exatamente as mesmas palavras que Arão usou: “vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito!”

Então a primeira advertência é simplesmente a advertência da história, se repetindo neste moment. Os que não aprendem sua história estão condenados a repeti-la, e certamente também com respeito à história bíblica. Essa é uma das razões pelas quais Deus nos deu o Antigo Testamento e uma das razões que nós devemos continuar a estudá-lo, para assim reconhecer os erros dos nosso antepassados para não cair nos mesmos erros hoje em nossos dias.

  1. A segunda advertência que Jeroboão recebe é a mensagem do profeta que Deus enviou. Jeroboão sabia melhor. Ele sabia que o templo era o lugar onde Deus fizera habitar seu nome e que qualquer profeta que viesse de lá deveria ser escutado e respeitado. Mas ele decidiu a ignorá-lo.
  2. A terceira advertência é o que Deus fez para o braço de Jeroboão. Nesse momento, a gente imagina que qualquer pessoa iria se arrepender. Mas Jeroboão ainda não se arrependeu.
  3. A quarta advertência está no cumprimento da profecia contra o altar, de tal forma que foi dividido em dois – o que talvez seja o segundo um outro lembrete do momento quando Israel foi adorar o bezerro de ouro e Moisés quebrou as duas tábuas de pedra da lei.
    De qualquer forma, certamente a gente pensaria que isto seria suficiente para mudar o coração de Jeroboão. Mas ainda não foi. O arrependimento verdadeira é uma dádiva de Deus, que só Deus pode dar. É possível alguém viver neste mundo com todas as consequências do seu pecado, e toda a evidência do castigo de Deus, e ainda não se arrepender. Não há razão para nós supormos que alguém que vive no mundo que Deus criou, com tudo ao seu redor carregando a assinatura de Deus e testificando a glória de Deus, com o conhecimento de Deus escrito em seu coração, como Romanos 1 diz, e a própria palavra de Deus confiada em suas mãos— não há razão para pensar que tal pessoa, tendo se entregado ao pecado, e então, vendo mais uma evidência de Deus, repentinamente se arrependesse, aparte da graça de Deus.
  4. Finalmente, a quinta e última advertência que Jeroboão recebe é o resto desta história—tudo que aconteceu para o profeta de Deus. Isto também era uma advertência para Jeroboão porque nesta história nós podemos ver que Deus não mostra parcialidade—nem mesmo para com Seu próprio servo, o homem de Deus de Judá. Talvez Jeroboão poderia ter raciocinado que este homem de Judá estava agindo por motivos políticos, sendo um sulista de Judá. Mas Deus demonstrou que a mensagem de Sua Palavra não tem nada a ver com o indivíduo que é encarregado de pregá-la. Quando Deus fala por meio da pregação da Palavra ou da admoestação de um companheiro cristão, quantas vezes nós pensamos, “ah, mas presbítero Fulano só disse isto porque ele tem preconceito contra mim,” ou “ele só disse isso porque tem problema comigo”? E certamente Jeroboão e o povo de Israel usaram essas desculpas para desprezar a Palavra de Deus.

Mas o velho profeta de Betel reconheceu a verdade da Palavra de Deus quando ele viu o corpo do servo de Deus deitado na estrada. Por isso ele diz para seus filhos em versículo 32, depois que enterraram o profeta: “Certamente se cumprirá o que por ordem do Senhor clamou contra o altar que está em Betel e contra todas as casas dos altos que estão nas cidades de Samaria.” A prova está no fato de que Deus nem poupou seu próprio mensageiro.

Irmãos, a mensagem do evangelho hoje também não poupa seus mensangeiros. Quando compartilhamos o Evangelho com os outros, eles devem perceber que não estamos em cima da verdade que pregamos, mas por baixo dela, tão quanto qualquer outra pessoa. Não podemos dar desculpas para nós mesmos, pregando o evangelho mas não o vivendo. O mundo precisa ver nós também precisando do evangelho, e nós também buscando a graça de Deus e confessando os nossos pecados. É assim que nós damos testemunha do Evangelho.

Dito isso, o incrível é que, como o versículo 33 deixa claro, no final, nenhuma dessas advertências foi suficiente para desviar Jeroboão de seu pecado. Embora o profeta liberal de Betel descobrisse isso, Jeroboão não. Além da graça de Deus e da luz do Espírito Santo, nenhum aviso será suficiente. Então Jeroboão faz o que todo pecador faz aparte da graça de Deus. Ele reconstruiu o altar quebrado e nomeou novos sacerdotes para servir lá. E como rei de Israel, seu pecado se tornou o pecado de Israel.

Bem, isso estava tudo no plano de Deus, porque ele pretendia derrubar o reino de Jeroboão. Então aqui está uma segunda lição para nós: o povo de Deus precisava ver que o reino de Deus nunca viria por meio de um homem ímpio como Jeroboão. Deus não precisava de um homem rico, ou um homen poderoso. O refrão bíblico sempre se repete: “não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em que não há salvação.” Jeroboão era tudo que se esperava de um político, especialmente em contraste com o rei tolo de Roboão que oprimiu o povo. Jeroboão representava os interesses do povo. Mas era um homem ímpio. O reino de Deus precisava de um rei que seja um homem de justiça, que O obedecesse e O servisse. Jeroboão certamente não era nenhuma destas coisas, e Deus derrubou o reino ímpio de Jeroboão, para que Israel – e todo o mundo – aprendesse que tipo de Rei procurar.

E nós vamos ver isso em todos os capítulos do livro dos Reis. É uma das mensagens mais abrangentes do livro dos Reis. O livro dos Reis é uma longa história que clama, a cada capítulo um pouco mais alto, por um rei que realmente lideraria o povo de Deus em justiça, que pudesse resolver o problema profundo da idolatria nos corações de Israel. O Antigo Testamento inteiro termina com um grande ponto de interrogação: Quem vai consertar isso? Como isso vai ficar melhor? Se até os melhores dos reis se fracassaram, como é que o povo de Deus—e ainda mais o mundo!—pode sair da miséria da sua idolatria e finalmente se tornar o reino de Deus?

E a resposta para isso só vem em Cristo. Deus o enviou como o rei que Jeroboão nunca foi, nem qualquer outro rei – nem mesmo Davi. Cristo, quando veio a Israel, foi o único rei que respondeu ao vício de Israel no pecado e na idolatria. O único rei que realmente foi capaz de ensinar e viver a justiça de Deus, e transformar os corações do seu povo. O Livro dos Reis espera, ansiosamente, por tal rei.

Então, resumindo, eu acho que o ponto principal deste capítulo é para mostrar quão teimoso era Jeroboão, e quão justo Deus estava em derrubar aquele reino.

——
Mas este capítulo não é apenas sobre o Rei e o Reino. É também sobre profetas – pessoas que foram encarregados com a responsabilidade de falar a Palavra de Deus para sua cultura e seus líderes.

Em momentos turbulentos na política—como foi no caso aqui em 1 Reis 13, e como é agora em nosso país—é natural que nós nos preocupamos sobre o futuro do nosso país, e os cristãos sentem a responsabilidade de se manifestar e falar perante os reis, presidentes, generais, ou políticos da necessidade de se submeter a Cristo.

E às vezes, como vemos aqui neste capítulo, Deus levanta seus servos em momentos oportunos para falar diretamente às autoridades políticos para chamá-los a arrependimento.

Mas, à medida que cumprimos essa função, este texto também nos chama a nos vigiar. Se eu estou zelando para que meu país seja um país cristão, mais de que eu zelo para que eu seja um homem cristão, e minha família seja uma família cristã, então sou um hipócrita. Neste caso, meu zelo não vem de Deus, mas de algum desejo carnal; porque se fosse de Deus, então eu iria me certificar de que pelo menos no lugar onde Deus me deu jurisdição, que Ele seja o Rei.
Não somos chamados apenas para falar a Palavra de Deus com coragem em público; também somos chamados—como questão de primeira prioridade—a obedecer diligentemente à sua Palavra em particular. Nosso testemunho ao mundo não nos ganha nada se Cristo não for honrado em nossas próprias vidas e em nossas casas, onde o mundo não nos vê.

Então irmãos, a que você está chamando os outros para crer e abraçar? É o evangelho de Cristo? Você chama se mesmo para esta mesma esperança?
Veja que não é um chamado para mera obediência, e muito menos a um sistema legalista. Não, irmãos, é uma chamada para a fé em Cristo, que transforma toda a vida do crente e sua relação com Deus seu criador.

A Palavra que carregamos como profetas é uma palavra de graça. De esperança. Tome cuidado, irmão, para que antes de tudo, você mesmo viva nesta esperança e obediência. Tome cuidado para que pelo menos na jurisdição onde Deus deu autoridade para você—ali Deus realmente reina. Assim o mundo verá às nossas casas, às nossas igrejas, e reconhecerá: Cristo reina ali. É quando eles veem sua vida governada por Cristo, e suas atitudes e palavras transformadas pelo evangelho, que eles terão interesse neste evangelho.

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Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.