1 Reis 12.1-24

Leitura: 1 Reis 12.1-24
Texto: 1 Reis 12.1-24


Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Este capítulo descreve um dos grandes momentos decisivos na história de Israel. É o fim do primeiro estágio da história – o Reino Unido, que durou desde os Juízes até Salomão – é o fim desse Reino e o início de um novo capítulo na história de Israel , o Reino Dividido – que duraria até que ambos os reinos acabassem sendo arrastados para o exílio.

É um capítulo chocante. A gente lê e fica simplesmente maravilhados com a estupidez de Roboão. Como é possível que esse homem poderia ser o filho de Salomão, o homem mais sábio que já viveu? Na verdade, este é o primeiro recipiente do livro de Provérbios. O livro de Provérbios diz repetidamente: “Meu filho, ouça isso …” “Meu filho, tome cuidado com aquilo.” “Meu filho, busque sabedoria e persiga-a com todas as suas forças.” Qual foi o filho a quem toda esta instrução foi dirigida? Era Roboão. Roboão era o primogênito de Salomão – ele tinha apenas um ano de idade quando Salomão se tornou rei, e nenhum outro filho é mencionado na Bíblia. Então, durante aqueles primeiros anos do reinado de Salomão, quando ele ainda amava o Senhor, ele escreveu Provérbios a seu filho Roboão, exortando-o a buscar sabedoria.

É chocante, então, que agora encontramos este Roboão, tão tolo. Mas aqui nós vemos a consequência da apostasia de Salomão. Embora que Salomão foi abençoado com muita sabedoria por causa do temor de Deus que ele tinha na juventude, a fonte desta sabedoria (que é o temor de Deus) já se fechou dentro do coração dele; e assim, a sabedoria também não poderia continuar para sempre. E agora, nós vemos no seu filho, criado sem o temor de Deus, o resultado: um homem soberbo e tolo. Salomão já contou na sabedoria dele como coisa certa, mas sem o temor de Deus, que é sua fonte, ela não poderia ser passada para a próxima geração.

——

Começou em Siquém. Versículo 1: “Foi Roboão a Siquém, porque todo o Israel se reuniu lá, para o fazer rei.” Agora, não é apenas um pequeno detalhe que a coroação foi marcada para acontecer em Siquém. Esse não era o lugar normal para uma coroação. Davi fez de Jerusalém a capital. Foi ali então que Salomão também foi ungido como rei, e é ali que nós esperaríamos que Roboão também fosse feito rei. Mas ele foi para Siquém, bem no norte de Israel, no território de Efraim. Isto provavelmente foi um cálculo político, por causa das tensões políticas que existiam na época. Sempre houve alguma tensão entre Judá e o resto de Israel, com os nortistas se sentindo sub-representados e explorados pelo povo de Judá. Então a mudança da coroação para Siquém foi uma forma para mostrar representação no norte e promover a união do reino.

Assim, este detalhe nos prepara para o resto do capítulo. Roboão precisava ser um rei sábio e cauteloso. Ele tinha muito a perder e as coisas já estavam tensas.

Assim que Jeroboão soube que essa assembléia estava sendo organizada em Siquém, ele fez as malas e voltou do Egito para lá. Este era o seu reduto, e ele reconheceu a oportunidade que estava diante dele. Ele já foi muito popular entre as tribos do Norte, e era um líder natural. Se Roboão estivesse vindo a Siquém para obter a aprovação das tribos do norte, essa seria uma oportunidade de falar em nome delas … e assim, também, se posicionar como orador e representante do norte. Então Jeroboão foi direto para Siquém.

Assim, toda a assembléia de Israel—ou seja, os líderes de cada clã—veio diante de Roboão, e Jeroboão, seu líder escolhido, disse a ele (versículo 4):

1 Kings 12:4: “Teu pai fez pesado o nosso jugo; agora, pois, alivia tu a dura servidão de teu pai e o seu pesado jugo que nos impôs, e nós te serviremos.”

A maior reclamação das tribos do norte tinha a ver com o trabalho forçado que Salomão instituiu. Você pode ler sobre isso no capítulo 5. Ele instituiu um recrutamento de 30.000 homens que fariam trabalho físico para o governo. Eles iriam para o Líbano em turnos, 10.000 por vez, um mês sim e dois meses não. E além desse recrutamento, ele também tinha 70.000 carregadores e 80.000 cortadores de pedra na região montanhosa (que fica no Norte), bem como 3.300 oficiais encarregados do trabalho.

Este foi um grande fardo para as tribos do norte e, compreensivelmente, teria causado tensão entre as tribos, quanto mais que eles sentiram que estavam sendo explorados, fazendo uma quantidade desproporcional de trabalho ou recebendo uma quantidade desproporcional de benefícios … os maiores projetos de construção estavam acontecendo em Judá.

A forma como a reclamação de Jeroboão é redigida nos lembra – intencionalmente, eu acredito – da situação dos israelitas sob o faraó no Egito. Há uma série de paralelos traçados aqui. A frase “dura servidão” ocorre apenas seis vezes na Bíblia: uma vez aqui, uma vez na mesma história que está registrada em Crônicas e três vezes em referência à escravidão de Israel no Egito. Para muitos israelitas, o reino de Salomão estava se tornando um novo Egito. Já no capítulo 3, a primeira coisa que lemos sobre o reinado de Salomão, uma vez estabelecido, foi que ele se casou com a filha do Faraó. No capítulo 10, o texto fala sobre como Salomão começou a importar cavalos e carros aos milhares, do Egito. E, como o Egito, o reino de Salomão não apenas colocou Israel na escravidão para grandes projetos públicos, mas também levou Israel a servir a outros deuses. Como o Egito, ele se tornou um reino de escravidão física e espiritual.

E, finalmente, sabemos que Roboão vai responder ao povo da mesma forma que Faraó respondeu a Moisés e Arão quando eles vieram até ele: em vez de ouvir, ele vai até aumentar a carga de trabalho.

Mas antes que Roboão dê uma resposta, ele pede três dias para considerar o pedido do povo.

Ele vai primeiro se aconselhar com os velhos que serviram a seu pai enquanto ele ainda estava vivo. Ele pergunta a eles, versículo 6: “Como aconselhais que se responda a este povo?” Observe a frase, “este povo”. Não é “o povo” ou “meu povo”, mas “este povo”. Você já pode sentir seu desprezo por eles. Roboão cresceu no palácio e desfrutou de poder e privilégios por toda a vida; ele não tinha ideia de como se relacionar com essas pessoas comuns que estavam pedindo uma redução na carga de trabalho.

Os homens idosos evidentemente tiveram muito mais senso do que o rei. Eles serviram sob o comando de Salomão, e provavelmente foram escolhidos ainda antes de ele ter abandonado o Senhor. Então eles disseram a ele, versículo 7,

“Se, hoje, te tornares servo deste povo, e o servires, e, atendendo, falares boas palavras, eles se farão teus servos para sempre.”

Lembramos o que Salomão ensinou em Prov. 15:1: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.” Este momento em Israel precisava de uma resposta branda.

E presta atenção ao que os anciãos disseram: se hoje se tonares servo deste povo, e o servires. Eles entenderam que um Rei bom e justo é um Rei que se entende como servo. Deus fez o governo civil para servir o bem do país. Um Rei justo reconhece que a posição de Rei (ou político, ou qualquer outra posição no governo) não existe para enriquecer o político…existe para servir ao povo. E somente assim, o povo também se tornarão sujeitos fieis ao rei. (Imaginem se os nossos políticos entendessem isso!)

Mas versículo 8: “Roboão abandonou o conselho que os anciãos lhe tinham dado.” Aqui vemos o verdadeiro caráter de Roboão. Ele era um pirralho mimado do palácio. Ele estava acostumado a uma vida fácil no palácio. Ele estava acostumado a ser servido. A ideia de ser um servo era longe da cabeça dele. O rei existe para ser servido, e os sujeitos existem para servir. Como tantos políticos hoje, ele entendeu a realeza como um meio de enriquecimento, ao invés de um chamado para servir e abençoar seu país.

Observem, somos informados de que Roboão abandonou o conselho dos anciãos antes mesmo de procurar os jovens. Não é como se ele tivesse ouvido os dois lados e depois decidido seguir o conselho dos jovens. Ele procurou seus amigos já porque não gostou da resposta dos anciãos. Ele achou a resposta ofensiva. Então ele foi até seus colegas, que haviam crescido com ele no palácio, e perguntou-lhes o que pensavam. Lendo isso, a gente já coloca a cabeça dentro das mãos. Não seja tão estúpido, Roboão. Engula seu orgulho! Escuta estes homens sábios.

Mas essa é a tolice do pecado, não é? O pecado é autodestrutivo. O pecado nunca faz sentido. O conselho que Roboão recebeu dos anciãos foi para o seu próprio bem, para salvar seu reino. Mas ele não estava disposto a ouvir. A gente talvez imagina que pelo menos uma pessoa sempre age em seu próprio interesse, mas o pecado e o tolice não é assim. Ele se leva a ruína. Aparte da graça de Deus, em vez de nos humilhar e arrepender, apenas dobramos em nosso pecado e destruímos a nós mesmos. Arrependimento e humildade são realmente dádivas de Deus, que, se Deus não os der, não há nada que qualquer outra pessoa possa fazer. Seus pastores e presbíteros podem implorar que você mude o curso. Seus amigos e conselheiros podem chamá-lo para abandonar seu orgulho e seu pecado. Mas, a menos que Deus conceda esse arrependimento e humildade, não há nada que qualquer homem possa fazer por você.

Então Roboão perguntou a seus amigos, assim como havia perguntado aos anciãos: “Que aconselhais vós que respondamos a este povo que me falou, dizendo: Alivia o jugo que teu pai nos impôs?” Observe que ele convenientemente omitiu a outra parte do que o povo havia dito, onde prometeram servi-lo. Ele coloca seu pedido da pior forma possível, mais uma vez demonstrando seu desprezo pelo povo e predisposição para não ouvi-los.

A resposta que seus amigos deram já mostra o caráter deles, que é igual ao de Roboão. Eles dizem a ele no versículo 10: “Assim falarás a este povo que disse: Teu pai fez pesado o nosso jugo, mas tu alivia-o de sobre nós; assim lhe falarás: Meu dedo mínimo é mais grosso do que os lombos de meu pai.”

Agora … essa é uma tradução “limpa” do que eles disseram. Literalmente em hebraico, diz: “Meu pequenino,” ou “meu homenzinho” é mais grosso do que os lombos do meu pai. Provavelmente, não era uma referência ao dedo dele, mas outra parte do corpo, que eu deixo para sua imaginação. É uma maneira grosseira de dizer: “Sou um homem maior do que meu pai.” E podemos observar, esta foi apenas uma piada vulgar particular entre amigos. Na verdade, Roboão não disse isso em voz alta para o povo. Era só uma brincadeira entre os jovens. Mas isso nos mostra como eram os amigos de Roboão: eram “meninos adultos”: rudes, imaturos e tolos. Eles passaram a vida inteira no conforto do palácio, não tiveram nenhuma experiência política, nenhuma ideia de como o mundo funciona.

Curiosamente, os textos os chamam de “jovens”, quando, na verdade, eles já deviam ter cerca de 40 anos (Roboão tinha 40 anos quando começou a reinar). Podemos chamar eles de “adolescentes com barbas.” Nem todos os adolescentes passam a adolescência.

Parece que a diferencia cultural entre este texto e nós não é tão grande como imaginamos, né?

Agora, como eu já falei, Roboão não compartilhou essa piada grosseira com o povo. Mas ele repetiu o resto do que os amigos tinham falado. Versículo 14,

“Ele falou segundo o conselho dos jovens, dizendo: Meu pai fez pesado o vosso jugo, porém eu ainda o agravarei; meu pai vos castigou com açoites; eu, porém, vos castigarei com escorpiões.”

Alguns comentários especulam que “escorpiões” eram um certo tipo de chicote usado para os escravos inferiores. Seja esse o caso ou não, é óbvio que Roboão era completamente incapaz de raciocinar com o povo.

——

E no final, custou-lhe o reino. Versículo 16,

1 Kings 12:16: “Vendo, pois, todo o Israel que o rei não lhe dava ouvidos, reagiu, dizendo: Que parte temos nós com Davi? Não há para nós herança no filho de Jessé! Às vossas tendas, ó Israel! Cuida, agora, da tua casa, ó Davi! Então, Israel se foi às suas tendas.”

Assim, Roboão cumpriu as palavras de seu pai em Prov. 13:20: “Quem anda com os sábios será sábio, mas o companheiro dos insensatos se tornará mau.”

O slogan que o povo gritava “Que parte temos nós com Daví” já era um canto inventado 50 anos antes, na rebelião de Sabá, também nortista, contra Davi, em 2 Samuel 20. Ele reflete a antiguidade dessas tensões entre o Norte e o Sul.

Então, por uma decisão tola, Roboão destruiu o vínculo entre o Norte e o Sul que havia levado Davi e Salomão a vida inteira para construir e manter juntos. Especialmente Davi havia feito muito para conquistar a lealdade das tribos do norte. É muito mais fácil quebrar a confiança do que construí-la. Como Salomão escreveu em Eccl. 9:18: “Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, mas um só pecador destrói muitas coisas boas.”

E por falar em armas de guerra, esse foi o próximo recurso de Roboão. Você vê como ele era teimoso e tolo.

Primeiro, ele enviou Adorão, que era o encarregado de todo o trabalho forçado, para forçar o povo à submissão. Você vê nisso todas as evidências de total ignorância de alguém que cresceu nos corredores do palácio. Ele imaginou que as pessoas logo obedecerão se enviar um representante oficial do governo. Mas foi uma missão de morte para Adorão. As pessoas não estavam com o mínimo humor para vê-lo. Roboão e seus amigos subestimaram muito a profundidade da raiva e frustração do povo. Quando Adorão veio ao povo, eles o apedrejaram até a morte.

O que Roboão não compreendeu é que existe uma grande diferencia entre autoridade “oficial” e autoridade natural. Roboão estava tão acostumado de estar em autoridade (oficialmente) a vida toda, que ele não compreendeu que esta posição de autoridade foi ganhada através de muito esforço do seu pai e seu avô. E vemos uma lição séria para todos que estão em autoridade aqui. Seja pais sobre sua família, ou marido sobre sua esposa, ou pastor sobre sua igreja: a autoridade orgânica flui para aqueles que tomam responsabilidade e servem os mais fracos. Vemos exatamente isso em Jeroboão. Por todas os seus pecados (não era homem piedoso), a autoridade que ele tinha, ele tinha antes de ser colocado em uma posição oficial. Ele assumiu responsabilidade pelo povo, e foi exatamente por isso que Salomão tinha o colocado sobre os trabalhos forçados. E agora novamente, vendo a situação das dez tribos do norte, ele viajou do Egito para Israel para representar o povo. 

Entendam, irmãos, os que estão em autoridade: pais, maridos, e todos que tem autoridade: não dependam na sua mera posição de autoridade para conseguir obediência. Na dependam na força para conseguir obediência. Isso pode dar certo por um tempo, mas um dia não vai dar mais. Sejam homens. Assumem responsabilidade, sirvam os que Deus colocou debaixo da sua autoridade, e você terá uma família, uma congregação, ou o que for, que seja leal. A autoridade oficial não sobrevive se não for baseada num atitude de um homem que assume responsabilidade, protege, providencia, e assim assegura uma autoridade natural.

Isso, Roboão não teve. Tinha apenas uma posição externa, e pensou, muito enganado, que isso seja suficiente para reinar. Assim que Roboão e seus amigos souberam da morte de Adorão, eles montaram em seus carros e fugiram para Jerusalém.

Mas ainda assim, Roboão era idiota demais para entender a situação. A única coisa que ele conhecia era a força bruta. Então, quando ele chegou a Jerusalém, ele imediatamente convocou os generais militares – aqueles que ainda eram leais ao trono dele – e preparou um exército de 180.000 soldados escolhidos para esmagar a rebelião.

Nesse ponto, pela primeira vez no capítulo, Deus interveio, enviando um profeta. A mensagem de Deus por meio da mensagem do profeta era simples, mas surpreendente: versículo 24,

Assim diz o Senhor: “Não subireis, nem pelejareis contra vossos irmãos, os filhos de Israel; cada um volte para a sua casa, porque eu é que fiz isto.” E, obedecendo eles à palavra do Senhor, voltaram como este lhes ordenara.

——

Irmãos e irmãs, que coisa chocante de ouvir. “Tudo isso,” diz Deus, “vem de mim.” Essa é a palavra final que ouvimos neste registro de eventos. Quando as pessoas ouviram isso, eles escutaram a Palavra do Senhor e voltaram para casa. Pelo menos o povo ainda tinha o senso para escutar. Podemos imaginar como eles pensaram, no caminho para casa, sobre estas palavras sóbrias de Deus: “tudo isto vem de Mim.”

E essa lição está gravada neste capítulo de forma inequívoca. Eu pulei antes, mas o versículo 15 já nos diz a mesma coisa: 1 Kings 12:15: “O rei, pois, não deu ouvidos ao povo; porque este acontecimento vinha do Senhor, para confirmar a palavra que o Senhor tinha dito por intermédio de Aías, o silonita, a Jeroboão, filho de Nebate.”

Tudo isso vinha do Senhor. Deus havia se voltado contra o reino de Roboão e não havia nada que ele pudesse fazer para impedi-lo. Na verdade, o tolice dele era exatamente o meio de Deus para realizar este propósito. A mão de Deus estava por trás disso, e até por trás da tolice de Roboão. Era uma obra de Deus.

O que devemos aprender com isso? Uma coisa que devemos aprender é o seguinte: Deus dá sabedoria e tolice, como ele escolhe, para erguer e abaixar. Assim como Deus fez de Salomão o mais sábio dos homens, ele também transformou Roboão em um completo tolo. Somos lembrados novamente do Faraó no Egito, quando Deus endureceu o coração de Faraó para destruí-lo. Como o Faraó, Roboão era apenas uma ferramenta nas mãos de Deus para cumprir a punição que ele disse que viria por causa da idolatria de Salomão. Deus fez isso permitindo que o filho de Salomão se tornasse um tolo.

Provérbios 21:1 nos ensina: “Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina.” Quando os príncipes ou aqueles que governam uma nação se mostram tolos, isso nunca pega Deus de surpresa. Deus nunca está torcendo as mãos, pensando no que vai fazer com esses líderes que se opõem a ele. Não, foi Ele mesmo quem permitiu e até decretou que caíssem em uma loucura autodestrutiva. Políticas desastrosas e destrutivas que estão desligadas da realidade e não podem funcionar, sejam elas implementadas em Jerusalém há 3.000 anos, ou em Washington, nos EUA, ou Brasília, ou qualquer outro lugar, são evidências do castigo de Deus contra aquela nação. Como João Calvino escreveu em suas instituições, “aqueles que governam injustamente e incompetentemente foram levantados por Ele para punir a injustiça do povo.”

Na época de Roboão, essa incompetência levou ao desmoronamento de seu reino. Dez das doze tribos decidiram que já tinham o suficiente e foram embora. Chame-o de “Isrexit”.

Ao mesmo tempo, esse história oferece um alerta para nós, em nossos dias, à medida que vemos coisas semelhantes acontecendo. Do ponto de vista cristão, reconhecemos com humilde temor o julgamento justo de Deus contra uma elite política que está desligada da realidade e incapaz de servir aos interesses legítimos de seu próprio povo – que parece se opor a tudo o que é bom e promover o mal e a perversão. Aqueles que semeiam o vento, colhem a tempestade, e os justos devem ver e temer.

Mas se desejamos aprender com a história que a Palavra de Deus registra para nós, também devemos cuidar para que movimentos como esses contra os elite não nos levem a lugares que não deveríamos ir. Em fim, Jeroboão (o homem do povo) foi tão ruim quanto Roboão, embora de maneiras diferentes. Na verdade, era óbvio desde o início, e qualquer pessoa que prestasse atenção poderia perceber que Jeroboão não foi um homem piedoso. Os bezerros de ouro já mostram isso. Ele era um líder muito capaz e competente e representava as queixas legítimas do povo, mas ainda era um homem ímpio e conduziu as tribos do Norte em uma direção profundamente ímpia. Se houvesse homens justos no norte naquela época – certamente havia! – eles teriam que ter cuidado, ao celebrar a expulsão de Roboão, a não justificar os pecados de Jeroboão. No final, Jeroboão e as tribos do norte também sofreriam o julgamento de Deus pelos pecados pelo menos tão ruins. Todo rei em Israel depois de Jeroboão carregaria o refrão: “Ele andou em todos os pecados de Jeroboão”.

E então, como cristãos, precisamos nos lembrar: Cristo é nosso Rei. Ele redimiu nossas vidas do reino das trevas, que é representado nos dois lados em 1 Reis 12. Ele nos redimiu da nossa tolice, e da nossa idolatria. E Ele está reinando nas alturas, no céu, construindo sua igreja, destruindo as obras das trevas e por meio o Evangelho, pelo poder do Espírito, estabelecendo a verdadeira justiça nos corações, vidas, lares, comunidades e até mesmo nações onde Ele está construindo seu reino. Esse é o único rei que podemos chamar de “nosso”. Esse é o único rei a quem devemos dar nossa lealdade de todo o coração.

E a Escritura nos diz que Ele reinará até que coloque todos os seus inimigos sob Seus pés. As nações se enfurecem e os povos da terra podem conspirar e tramar, e os reis e as forças governantes da terra podem tomar conselho juntos contra Ele, mas Aquele que está sentado nos céus ri! Se vemos os governantes de nossos dias promovendo a loucura, então sabemos que é porque nosso Rei, Cristo, transformou a sabedoria deles em loucura, porque Ele colocou sua face contra eles para destruí-los. Ele reinará até que coloque todos os seus inimigos sob Seus pés. E Ele nos ensinou a orar para que Seu Reino venha, e devemos orar e trabalhar para esse fim. Devemos orar, como o catecismo expressa: “Destrói as obras do diabo e toda força que se levanta contra ti”. Nossa agenda—tanto na política como em nossas casas e vidas—deve sempre ser a retidão perfeita, imutável e inflexível de Cristo. É isso que nós defendemos.

Mas considerem, irmãos e irmãs, que reino diferente do reino de Roboão é o reino de Cristo!

O que foi que Cristo nos ensinou?

Matt. 20:25–28: “Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.”

Louvado seja Deus, por servirmos a um Rei que se fez servo por nossa causa – nós, que naquela época éramos até mesmo seus inimigos! Louve a Deus porque Seu Reino é um reino de justiça e retidão – perdão para os pecadores, restauração dos perdidos, força para os fracos, conforto para os oprimidos, cura para os quebrantados. 

E Seu Reino – por meio de Seu Espírito – é um reino que traz verdadeira transformação. O Reino de Deus é a transformação dos maridos – que costumavam pensar que ser marido significava ser servido, mandar na esposa, subjugá-la – em servos que entregam suas vidas para o bem dela. Isso transforma pais e mães em pastores que usam a autoridade dada por Deus para discipular o coração de seus filhos e promover o seu bem. É um reino que transforma patrões – que antes usavam sua posição de poder para se enriquecer às custas de seus escravos ou empregados (o lado feio do capitalismo) – em servos que desejam abençoar e prosperar seus empregados.

Uma das histórias mais incríveis disso, se você quiser ler mais, é a história de Arthur Guiness, o fundador da cervejaria Guiness em Dublin, Irlanda, que – por causa de sua fé em Cristo, estabeleceu sua empresa para oferecer um alternativa às bebidas destiladas (para reduzir a embriaguez) e foi a primeira empresa a oferecer benefícios médicos e odontológicos a seus funcionários – muito antes de essas coisas serem exigidas por governos ou sindicatos. Seguindo o exemplo de Cristo, ele viu sua posição de “patrão” e dono da empresa como um chamado para servir seus funcionários e abençoar sua cidade.

O reino de Cristo (o verdadeiro Reino de Cristo, pelo menos) transforma também os pastores – que costumavam pensar que sua posição existia para promover seu próprio nome, riqueza e poder – em servos do rebanho de Cristo.

E o Reino de Cristo transforma reis, presidentes e políticos – que antes pensavam que sua posição política existia para seu próprio enriquecimento pessoal – em servos de seu país que desejam abençoar e servir, para promover a justiça, a retidão, a paz e a prosperidade.

Louvado seja Deus por servirmos a tal Rei em Jesus Cristo, e que Ele transforme cada um de nós, para que, seguindo seu exemplo, possamos também nos tornar servos uns dos outros.

Vamos então servir ao nosso Rei Jesus Cristo com humildade e temor, e vamos entregar toda a nossa vida, coração e fidelidade a Ele.

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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.