Marcos 15.33,38,39

Leitura: Marcos 15.22-39
Texto: Marcos 15.33,38,39

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo

Mateus, Marcos, Lucas e João, inspirados pelo Espírito Santo, registraram em seus evangelhos o episódio da morte de Cristo. Mas por que o Espírito os conduziu a narrar o sofrimento e a morte de Cristo na Bíblia? A intenção do Espírito não era simplesmente registrar o acontecimento histórico da morte de Cristo, mas especialmente explicar a razão e o propósito da sua morte. Por que Jesus morreu? Será que os eventos ocorridos em torno da cruz de Cristo nos ajudam a entender a razão e o propósito de sua morte? Lemos no evangelho de Marcos um trecho onde ele nos revela com detalhes alguns dos acontecimentos que marcaram os momentos finais de Cristo quando ele estava pendurado na cruz. Estes acontecimentos ocorreram tanto antes quanto depois da morte de Cristo e todos eles nos ajudam a entender a razão e o propósito da morte de Cristo.

Ao redor da cruz em que Jesus morreu Marcos registrou os seguintes acontecimentos: antes da morte – 1) Três horas de trevas (33); 2) O grito de dor de Jesus (34); 3) a zombaria dos que testemunhavam a crucificação (35,36). E após a sua morte (37), mais duas coisas aconteceram: 4) o rompimento do véu do templo (38) e 5) a confissão do centurião (39). Todos estes eventos nos ajudam a entender a importância e o propósito da morte de Cristo. Mas neste sermão, vamos abordar apenas os fatos registrados nos versos 33, 38 e 39 (pode ler o texto do sermão agora).

Houve trevas sobre toda a terra (v.33).

Depois de toda a humilhação sofrida nas mãos dos judeus e romanos, o Senhor teve ainda de suportar em cima daquela cruz maldita, seis horas de angústia e aflição. Ele foi crucificado às nove da manhã (25) e morreu às três da tarde (33,37). Durante esse período muitas coisas aconteceram. Na cruz Jesus foi blasfemado e escarnecido pelos principais sacerdotes e escribas e pelos dois ladrões que foram crucificados com ele (29-32). E de repente, ao meio dia (hora sexta), algo estranho acontece: uma escuridão tomou conta de toda aquela região por exatamente três horas (33). O dia ensolarado deu lugar a uma noite escura. As três últimas horas de Jesus em cima da cruz foram marcadas por uma grande escuridão. Mas de onde vieram essas trevas e o que elas representavam? Será que houve uma tempestade natural e o dia ficou muito nublado naquela sexta á tarde em Jerusalém?

Meus irmãos! É claro que aquelas trevas que tomou conta de toda a Judéia naquela tarde de sexta feira sobrevieram de Deus. Deus, por seu poder, fez com que a luz do dia desse lugar à escuridão. De fato, Deus criou a luz e as trevas, o dia e a noite. Por sua providência e sabedoria, o dia dá lugar à noite e a noite dá lugar ao dia (Sl. 19.2). Isso ocorre naturalmente, conforme a ordem que Deus estabeleceu para a criação. No entanto, a escuridão sobre a qual fala o nosso texto foi um acontecimento sobrenatural, foi um milagre da parte de Deus. Do meio dia às três horas da tarde, tudo ficou escuro.

Por que Deus realizou este milagre? Por que ele fez com que as trevas predominassem sobre toda a terra do meio dia às três horas daquele dia? Observe o seguinte: Quando Deus enviou as trevas? Exatamente no dia e na hora em que seu Filho estava pendurado na cruz. Ou seja, as três últimas horas de angústia e sofrimento de Jesus foram marcadas por trevas. O que Deus quer nos ensinar com isso? A escuridão que Deus enviou naquele dia foi um sinal extraordinário da sua parte para mostrar que a sua ira sobre o pecado estava caindo sobre seu Filho naquele momento. Podemos afirmar isso, pois a Bíblia relaciona trevas com o juízo divino. Trevas apontam para o juízo de Deus sobre o pecado. Por exemplo, Deus enviou trevas sobre toda terra do Egito para manifestar seu juízo contra aquela nação pagã que tinha escravizado seu próprio povo (Ex.10.21-22). Os profetas identificaram o Dia do Senhor para julgar seu povo rebelde como um dia de trevas. Veja, por exemplo, a mensagem de juízo do profeta Amós contra Israel: (ler Am.5.18,20; 8.9). O próprio Cristo afirmou que um dos sinais que vai marcar sua volta definitiva para julgar os vivos e os mortos é escuridão (Mt. 24.29).

Portanto, trevas apontam para o castigo de Deus sobre o pecado. E é justamente isso que está acontecendo quando Cristo está na cruz. Na cruz, Cristo está tomando sobre si a ira de Deus contra o pecado dos homens. Ele está sofrendo o castigo de Deus em nosso lugar. As trevas indicam isso. O Senhor Jesus sabia que aquelas trevas que o cercavam quando estava na cruz não era uma simples tempestade, mas era um sinal evidente do Pai de que o juízo divino sobre o pecado estava sendo derramado sobre ele. Esse foi um sinal evidente para os judeus ali presentes. Eles sabiam que trevas apontavam para o julgamento divino. O dia do juízo de Deus contra o pecado chegou naquela sexta feira pascoal. Mas, muitos daqueles judeus, apesar do sinal das trevas, continuaram incrédulos.

No meio da escuridão, Jesus sentiu em seu corpo e alma o peso da ira de Deus. Isso lhe causou um grande sofrimento. Ele chegou a clamar: Meu Deus! Meu Deus! Por que me desamparaste? (34). A terra e o céu em trevas foi o sinal de que Jesus foi abandonado por todos e principalmente por Seu Pai. Ao desamparar seu Filho na cruz, Deus fez cair sobre ele a sua ira a fim de derramar sobre nós, pecadores culpados e dignos da condenação eterna, sua graça e misericórdia. Por seu sofrimento e morte, Cristo nos livrou da condenação eterna e conquistou para nós eterna salvação (Is. 53.4,5; II Co. 5.21). Ele foi desamparado em favor da nossa salvação. Ele sofreu em meio às trevas do nosso pecado para nos conceder a luz da salvação. Jesus mesmo afirmou que todo aquele que está nele (crer nele) não anda mais nas trevas, mas tem a luz da vida (Jo. 8.12; Ef. 5.8).

O véu do templo se rasgou de alto a baixo (v.38).

Na cruz, Jesus ganhou a salvação do seu povo. Para isso, ele teve de sofrer o juízo de Deus contra o nosso pecado. A conseqüência de sua morte é que ele nos abriu o caminho para o céu e nos reconciliou com Deus. Podemos afirmar isso com base num acontecimento que se deu logo depois da sua morte: o rompimento do véu do templo (38). Esse véu era uma cortina toda tecida que tinha a função de separar o Santo dos Santos do Santo Lugar. Foi Deus quem mandou fazer a separação entre o Santo Lugar e o Santo dos Santos (Ex. 26.31). No início, este véu ficava dentro do tabernáculo. Mais tarde, quando o templo foi construído, Salomão também providenciou o véu e o colocou no seu devido lugar (II Cr. 3.14). O Santo dos Santos era o lugar em que o sumo sacerdote entrava uma vez por ano, no dia da expiação, para oferecer a Deus sacrifícios pelos pecados deles e do povo. Ele saía do Santo Lugar e passava pelo véu para entrar no Santo dos Santos e encontrar-se com Deus para oferecer os sacrifícios.

Observe que quando Cristo morreu, o véu do templo foi rasgado. O que isso tem a ver com a morte de Cristo? Por que aquele véu se rasgou logo depois da sua morte? Mera coincidência? O que provocou seu rompimento? Não foi por desgaste natural nem por causa de algum sacerdote que passou rapidamente e rasgou o véu. O que aconteceu foi um milagre de Deus. O próprio Deus, por seu poder, rasgou o véu do santuário de alto a baixo. Por que Deus fez isto justamente depois da morte do Seu Filho? Deus rasgou o véu do santuário para deixar bem claro que não haveria mais a necessidade do sumo sacerdote entrar uma vez por ano no Santo dos Santos para fazer a expiação pelos pecados dele e do povo, uma vez que seu próprio Filho, mediante sua morte, ofereceu a Deus um perfeito e único sacrifício em favor da eterna redenção do seu povo (Hb. 9.7; 11-13).

O Sumo Sacerdote Jesus ofereceu-se a si mesmo como perfeito sacrifício para nossa salvação. O que isso significa para nós? Significa que podemos agora nos aproximar do trono da graça de Deus com toda ousadia e confiança (Hb. 10.19-22). Jesus nos abriu o caminho para o céu: ele é o caminho que nos leva de volta a Deus. O véu rasgado de alto a baixo é o sinal da graça de Deus em restaurar a nossa comunhão com ele mediante a morte do Seu Filho. Em Adão nós pecamos e fomos expulsos do jardim (perdemos a comunhão com Deus). Em Cristo, somos libertos do pecado e temos de novo livre acesso à presença de Deus. É isso que a morte de Cristo significa pra você que nele crê. Reconciliação com Deus. Paz com Deus. Retorno ao paraíso. Acesso livre ao trono da graça do Pai. Você tem desfrutado desse privilégio que Jesus ganhou pra você através da sua morte? Aproxima-se de Deus em oração? Alegra-se na comunhão com Deus? O véu se rasgou e você pode chegar a Deus livremente.

A confissão do centurião (v.39)

Meus irmãos! Os sinais das trevas bem como do véu rasgado revelaram sem dúvida nenhuma que aquele homem pendurado e morto na cruz do meio era o Cristo, o Verdadeiro Filho de Deus. A grande maioria dos judeus não creu nisso. No entanto, Marcos registra que o centurião, o oficial romano responsável pelos guardas que efetuaram a crucificação de Jesus, estando frente a frente com o Senhor e vendo-o morrer, exclamou: “Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus” (39). Aquele centurião ficou profundamente admirado com tudo o que tinha visto. Certamente ele já tinha realizado outras crucificações, mas nunca viu nada igual. Ele viu a escuridão. Ele estava bem de frente para o Senhor e testemunhou atentamente seu sofrimento e morte.

Sendo um romano, ele não conhecia o AT que predizia o sofrimento e a morte do Messias. No entanto, ao contrário dos judeus incrédulos que ali estavam, o centurião reconheceu que aquele homem que morreu na cruz bem na sua frente, não era um homem qualquer, mas verdadeiramente era o Filho de Deus. Não sabemos ao certo se aquele centurião, tendo sido tocado com a morte de Cristo, se converteu e tornou-se um cristão. Mas sabemos com toda certeza e cremos de todo coração que aquele que morreu pendurado na cruz era verdadeiramente o Filho de Deus, o único capaz de suportar a ira de Deus contra o pecado para nos livrar da condenação eterna e nos reconciliar com Deus.

Pela revelação da palavra de Deus podemos entender a razão e o propósito da morte de Cristo e como nós fomos beneficiados por meio dela. A morte de Jesus não foi a morte de um criminoso que estava pagando por seus erros. Não foi a morte de um revolucionário que estava dando a sua vida por uma ideologia política. Mas foi a morte do Filho de Deus que voluntariamente derramou sua alma na morte (Is. 53.15), dando sua vida em resgate por muitos (Mc. 10.45). A morte de Jesus foi a morte daquele que não tinha pecado nenhum por aqueles que são cheios de pecados; foi a morte do justo pelos injustos a fim de conduzi-los a Deus ( I Pe.3.18).

Meus irmãos! O acontecimento da morte de Cristo deve provocar uma mudança profunda em nossas vidas. Deve nos tornar crentes muito agradecidos! Mas nossa gratidão a Deus pela morte de Cristo em nosso favor não deve se limitar a uma semana (semana santa) nem deve nos encher de emoções superficiais. Ao contrário, a morte de Jesus deve nos motivar a ser cristãos mais alegres e dedicados ao Senhor. Pois agora entendemos e cremos, pela iluminação do Espírito Santo através da palavra de Deus, qual é a razão e o propósito da morte de Cristo para nós. Em sua morte, ele suportou as trevas do juízo de Deus para sermos livres das trevas do pecado e entrarmos no seu reino de luz e salvação; por sua morte, ele rasgou o véu e nos abriu o caminho de volta para Deus; enfim, ele foi morto para termos a vida, vida em abundância, vida eterna, vida com Deus. Alegre-se em Cristo e viva para Ele que nasceu, viveu, sofreu, morreu e ressurgiu para te salvar.

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.