Dia do Senhor 51

Leitura: Mateus 18.21-35
Texto: Dia do Senhor 51

Amada congregação do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo,
Hoje vamos ouvir o evangelho da quinta petição debaixo do seguinte tema:

Tema: Em Cristo, vivemos no perdão dos pecados.

  1. Somos perdoados por Deus
  2. Estamos perdoando outros.
  3. Somos perdoados por Deus.

Quando oramos “por favor, perdoa-nos os pecados que cometemos hoje”, o que é que estamos dizendo? Você já pensou? Ao pedir perdão dos pecados somos assim como os devedores na parábola que lemos em Mateus 18. A situação é complicada: não temos nada, não merecemos nada, e Deus não nos deve nada, mas estamos pedindo que Deus perdoe os nossos pecados! E quando reconhecemos que Deus é muito maior do que um rei terreno (porque Ele é o Eterno Soberano Criador dos céus e da terra), e que somos muito piores do que o devedor (porque a nossa rebelião é contínua), e depois de sermos perdoados, cometemos imediatamente o mesmo pecado, podemos ver que, se foi difícil para o devedor pedir paciência ao seu senhor na parábola (v.26), deve ser muito mais difícil para nós pedirmos perdão dos pecados!

Pedimos a Deus que não nos impute duas coisas: “nenhuma das nossas transgressões nem o mal que ainda persiste em nós” (catecismo). Não apenas transgredimos ou desobedecemos, mas somos, por natureza, pecadores indignos! O fato é que nas nossas mentes, ações e palavras, atacamos o Criador e, constantemente nos opomos ao seu trabalho gracioso. Cometemos pecados e não podemos desfazê-los; eles permanecem conosco, assim como as sanguessugas, como a ferrugem… Os pecados estão nos desfigurando e arruinando a nossa perspectiva, e amarrando as nossas mãos – sim, somos pecadores desgraçados e, por natureza, somos iguais aos descrentes; até cometendo os mesmos pecados. Tantos pensamentos pecaminosos, tantas palavras pecaminosas, tantos desejos rebeldes. Meu irmão ou minha irmã, você é esse devedor – não tem nada… e, sabe o quê? Você nem pensaria em pedir perdão se o Espírito Santo não estivesse operando no seu coração! Você é assim como um mendigo olhando pela janela de uma joalheria e desejando o anel dourado mais caro; ou o menino da rua olhando para a ceia formal no restaurante mais caro da cidade… Não tem como conseguir o que está sendo cobiçado.

Já pensou em quanto custaria para lhe conceder esse pedido? Pense, em primeiro lugar, no senhor do devedor incompassivo – perdão sempre vem com um custo – embora o devedor não precisasse pagar, o credor perdeu tudo isso! Pecado rouba bens físicos e tempo de paz nos relacionamentos; e perdão não os restitui, perdão apenas apazigua o relacionamento, deixa a comunhão continuar. Já pensou no custo dos seus pecados? Já pensou em como será difícil lhe conceder o seu pedido? O custo daquilo que está sendo pedido nesta petição é alto demais para qualquer homem – ninguém poderia fazer o pagamento, porque Deus demanda que alguém carregue a ira d’Ele contra toda a raça humana (morte eterna de todos – morte eterna milhões de vezes), e podemos morrer eternamente apenas uma vez. Além disso, Deus demanda obediência perfeita, mas não podemos guardar nenhum dos mandamentos. Quanto custa? O único Filho do Santíssimo Deus tornou-se homem para aprender obediência perfeita até a morte na cruz! Está vendo o amor indizível do nosso Deus e Pai? Sendo Santo não pode negar pecado, no entanto, vai puni-lo; mas sendo misericordioso decidiu punir os nossos pecados punindo o seu único filho! A quinta petição significa: “Por causa do sangue de Cristo, não nos imputes nenhuma das nossas transgressões”. Por causa do sangue de Cristo! Não merecemos perdão, mas o filho amado de Deus morreu pelos nossos pecados; morreu… o filho amado que era inocente e que estava na glória do SENHOR; Ele morreu como se fosse um animal sacrificial! Devemos pensar no amor de Deus que nos deixa pedir que possamos partilhar no trabalho de Cristo! Caros irmãos, o trabalho de Cristo era genuíno e eficaz – a mensagem do evangelho que Jesus nos ensina da oração do Senhor é que, mediante a morte d’Ele, nós podemos conseguir aquilo que era impossível anteriormente: o perdão dos nossos pecados.

Assim como um homem rico que diz ao mendigo: “entre na loja e compre qualquer coisa que quiser, porque vou pagar…” Cristo Jesus, que já pagou a dívida, fala a nós: “Vós orareis assim: “perdoa-nos as nossas dívidas” – quer dizer: “Entrem no meu reino e escolham qualquer liberdade – desfrutem da comunhão que restaurei na cruz”. Embora tenha havido uma dívida grande, e merecemos o inferno eterno debaixo da ira do Senhor, Jesus nos ensina orar que Deus nos perdoe: Ó Deus, “ainda que os meus pecados sejam como a escarlata, faça-os branco como a neve (Isaías 1.18)”. Com esse mandamento temos as promessas da Bíblia: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1.9). Jesus revela que podemos começar cada dia, de novo, na misericórdia de Deus! Vivemos na situação do perdão! Temos perdão dos nossos pecados! Que bênção!

E essa é a verdade não apenas para mim e a minha família, mas para cada pecador que se arrepende! Imagine como será quando estaremos na nova terra e no novo céu. Quem estará lá? Pecadores que confessaram os seus pecados e foram purificados no sangue de Cristo! Será maravilhoso! Que alegria “doce” é a realidade de perdão… e, sabe o quê? Já na Santa Ceia podemos experimentar esta alegria. Olhando, você vai ver uma ceia para pecadores humildes – e talvez vá perguntar: “por que fulano está aqui… e o outro ‘cara’?” Irmãos, lá na Ceia você se encontra com alguém que orou a mesma petição: “Por causa do sangue de Cristo, não nos imputes, pecadores desgraçados que somos, nenhuma das nossas transgressões, nem o mal que ainda persiste em nós”. E, crendo em Cristo Jesus, aquela pessoa foi perdoada – aqueles que eram pecadores condenados são agora santos por causa do sangue de Cristo! A graça do SENHOR é profunda; é difícil compreender, mas Deus nos dá oportunidades para que comecemos a entender, e a graça que Ele nos mostra, também pode ser percebida em nós. Os que vivem no perdão dos seus pecados estarão perdoando outros.

  1. Estamos perdoando outros.

Só cristãos podem orar a oração do Senhor e pedir perdão dos pecados, porque só cristãos encontram a evidência da graça do Senhor nas suas vidas. Na parábola de Mateus 18, o credor incompassivo pecou, porque já experimentou perdão. Foi perdoado um valor de “um bilhão de reais”, mas não conseguiu perdoar o seu devedor que lhe devia R$3.000,00. Será que tal situação pode acontecer na vida de um cristão transformado pelo Espírito Santo? É a pergunta da parábola. O regenerado pode receber tanto perdão e não quer perdoar a outros? E a resposta de Jesus Cristo é: Claro que não! Quando o credor incompassivo não perdoou o seu conservo, demonstrou que não foi perdoado – no final da parábola, a dívida voltou para ele. Jesus diz que, se não perdoar, não será perdoado! Ou, dizendo de outra maneira, os que entendem e experimentam perdão dos seus pecados, do Senhor, vão perdoar outros. O nosso desejo de perdoar é o fruto do Espírito Santo, e esse desejo é a evidência da presença da graça do Senhor! É importante reconhecer isso – se não tiver o desejo de perdoar outros, você não entende o que Deus fez na sua vida; você não tem o Espírito Santo; você fica fora de Cristo e fora do perdão dos seus pecados! Assim, Jesus ensina na parábola de Mateus 18.

E você? Entende o quanto foi perdoado? Na parábola, Jesus compara a nossa dívida a 10 mil talentos. Naquela época se podia comprar um escravo pelo valor de 1 talento – o valor é igual a 10 mil escravos trabalhando toda a sua vida. Vendendo a família e trabalhando toda a sua vida, nem chegaria perto da quitação da dívida. Jesus compara a nossa dívida a um bilhão de reais ou até mais! Na verdade, um bilhão de reais é difícil imaginar e ninguém entende completamente quanto é, mas sabemos que é um valor muito, muito alto. Quando você entende o tamanho da graça de Deus, vai entender como é pequena a dívida do seu irmão que pecou contra você. Jesus diz que é igual a 100 denários – 1 denário era o salário para um dia; então, a dívida do conservo era mais ou menos 100 dias de trabalho – seria cerca de 4000 reais hoje. Pense na pior coisa que alguém fez ou pode fazer a você; vamos dizer que matou a sua família inteira… Cristo Jesus diz que é igual a uma dívida de R$4.000,00 quando for comparada à sua dívida que é de R$1.000.000.000,00!

A confissão da Igreja em DS 51 supõe que cristãos são aqueles que entendem a natureza do perdão dos pecados e que, por causa disso, “estão plenamente determinados de todo o coração a perdoar ao seu próximo”. Você tem essa evidência da graça do Senhor na sua vida? A Bíblia deixa claro de que maneira podemos perceber essa graça nas nossas vidas. Em Efésios 4.32, o Espírito Santo diz: “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou”. E em Colossenses 3.13 lemos: “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós”. Há um relacionamento entre o fato de que somos perdoados e o de que perdoamos aos outros! Somente os cristãos que creem em Cristo Jesus e são perdoados, desejam e vão querer perdoar outros! Sem Cristo, pessoas guardam ressentimento, amargura e ira; sem Cristo não há restauração nos relacionamentos, e até a pessoa magoada guarda as dores da briga, bebendo veneno, na esperança de que o outro morrerá. Mas em Cristo há liberdade desta escravidão! A graça do Senhor quebra seus pesos e as cordas de amargura! A graça do Senhor transforma seu coração (não necessariamente o coração da outra pessoa), mas o seu coração! Quando vemos um homem perdoando a outro, ou um homem desejando perdoar o outro, isso é evidência da graça do Senhor no seu coração! A pessoa que tem a evidência da graça do Senhor no seu coração, e fica determinada a perdoar o seu vizinho, é liberta da opressão, da amargura, do ódio, da separação e do ressentimento! Esse desejo de perdoar é uma consequência do sacrifício de Cristo e do pentecostes!

O que é o desejo de perdoar – o que faz aquele que é determinado a perdoar? Esse desejo é o primeiro passo do perdão. Quando a ira cessa e a decisão é feita (que aquela pessoa não pode tirar a nossa alegria em Cristo), o coração cristão deseja uma restauração do relacionamento e reconciliação. Quando não temos uma oportunidade física de falar com a outra pessoa (porque ela morreu, se mudou, ou ainda está raivosa, etc.), não podemos prosseguir para o próximo passo. Naquela situação, o desejo de perdoar mostra a graça do Senhor na sua vida. Mas, se o perpetrador se arrependeu e está disposto para falar (como acontece na igreja), nossos bons pensamentos e intenções não são suficientes mais, e o perdão deve se manifestar nas ações.

Quais ações mostram a graça que recebemos em Cristo? Em primeiro lugar, reconhecemos que perdão é mais do que um sentimento – perdão é uma decisão do coração e da vontade. Deus não deseja a morte do pecador, e também nós não desejamos a morte dos nossos inimigos. Na Bíblia, Deus diz que não registra os pecados dos santos (Sl 130), ou seja, Ele decidiu que os nossos pecados não impedirão o relacionamento que existia. Perdoar não é esquecer. Nenhum homem poderia esquecer que alguém matou a sua esposa – aconteceu e sempre terá lembranças –, mas ele pode decidir perdoar e continuar. Perdão é a decisão de restaurar o relacionamento e não deixar que os pecados atrapalhem a nossa alegria no Senhor. Perdão é a decisão de que os pecados dum outro não criarão ódio, amargura e tristeza nas nossas vidas. Perdão não é uma negação de dores, nem uma máscara falsa de alegria, mas é uma decisão que vem da graça do SENHOR aos que foram perdoados. Uma decisão em que você vai tentar promover reconciliação e paz, explicar dores do pecado do outro, e desejar restaurar o relacionamento novamente.

Agora vamos celebrar a ceia do Senhor – cada pessoa vai examinar o seu próprio coração para ver se confessou os seus pecados, se crê em Cristo Jesus e se vive uma vida de gratidão. Os que são permitidos participar, por Cristo Jesus, por meio dos seus oficiais, e que não são hipócritas têm a certeza de que Deus perdoa todos os seus pecados em Cristo, uma vez por todas. Isto quer dizer que cada pessoa que toma um pedaço do pão e bebe do cálice de vinho foi perdoado por Deus! Você também, meu irmão ou irmã humilde, você também foi perdoado de uma dívida enorme. E agora, como é que vai olhar para os seus irmãos? Será justo ficar irado por um período mais longo do que o do próprio Juiz de toda a terra? Faz sentido reivindicar perdão para você e, ao mesmo tempo, guardar ressentimento e continuar a condenar o seu irmão em Cristo? Claro que não! E se você está fazendo isso irmão, arrependa-se agora, porque é um sinal de que você mesmo não está perdoado! Se a compaixão do SENHOR para conosco nos trouxe libertação do pecado para sempre, é bom privar o nosso irmão da sua paz por causa do pecado que, na pior situação, poderia causar sofrimento somente para o máximo de 100 anos? Que não aconteça que julguemos o nosso irmão com mais severidade do que o Juiz Final – esta severidade nega o trabalho de Cristo na vida da outra pessoa e mostra que você também não entende, ou não crê na remissão dos pecados em Cristo!

Oremos esta petição com muita alegria! Jesus nos ensina: “peçam o perdão dos seus pecados, e tenham confiança de que em Cristo, há perdão”. Em Cristo, somos santos e puros aos olhos do SENHOR; reconhecendo este perdão que recebemos, busquemos reconciliação com os nossos irmãos e, juntos, vamos celebrar a graça do SENHOR e a paz no corpo de Cristo.

Amém.

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Julius VanSpronsen

Julius VanSpronsen

O pastor Julius VanSpronsen é Bacharel em Artes (B.A.), Trinity Western University, Langley, B.C., Canadá, 1998; Mestre em Divindade (M.Div.), Theological College of the Canadian Reformed Churches, Hamilton, ON, Canadá, 2002. Foi missionário pelas Igrejas Reformadas do Canadá no Brasil de 2007 a 2016. É ministro da Palavra das Igrejas Reformadas Canadenses. Professor no Instituto João Calvino e na FitRef.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.