Dia do Senhor 21

Leitura: I Coríntios 12
Texto: Dia do Senhor 21

Amados irmãos em Cristo e caros visitantes

O domingo 21 do nosso catecismo fala sobre Cristo e sua igreja. Ele traz uma explicação bíblica do artigo 9 do credo apostólico onde confessamos o seguinte: “Creio na santa igreja universal de Cristo, a comunhão dos santos”. Nessas poucas palavras já podemos encontrar algumas verdades bíblicas importantes que confessamos sobre a natureza da igreja. O que é a igreja segundo a Bíblia? Em primeiro lugar, confessamos que a igreja é santa. A igreja é a comunidade daqueles que foram separados da impureza e do pecado do mundo para servir somente a Deus. Nós que somos membros da igreja somos santos, não por causa das nossas obras, mas pela escolha soberana e graciosa de Deus (I Pe.2.9; Ef. 1.4).

Em segundo lugar, confessamos que a igreja é universal e católica. Isso significa que a igreja não está limitada a um só lugar, mas espalhada pelo mundo inteiro. O Senhor Jesus reúne para si dentre todo gênero humano um só rebanho, o qual é constituído de pessoas de todos os povos, tribos, línguas e nações (Jo. 10.16; Ap.5.9). Isso é uma das maravilhas do evangelho de Cristo: unir pessoas de línguas, raças e culturas diferentes num só corpo, numa só fé, debaixo do governo de um só Senhor que é Cristo.

Em terceiro lugar, a igreja é de Cristo. A igreja não é obra de homens e nem depende deles. Ela é obra de Cristo e depende totalmente dele. É Cristo quem reúne, sustenta e preserva a sua igreja através de sua palavra e Espírito. É ele quem edifica a sua igreja. Ele acrescenta a cada dia na igreja os que estão sendo salvos. Mas Cristo não somente chama e reúne pessoas na sua igreja. Ele também preserva a sua igreja na salvação até o fim de modo que nenhum daqueles que o Pai lhe deu se perderá.

Também confessamos que a igreja é a comunhão dos santos. O credo apostólico define a igreja como a comunhão dos santos. Mas o que é essa comunhão dos santos? Os santos são todos os que foram chamados e santificados por Cristo para fazer parte do seu povo. A palavra comunhão indica que estes santos têm tudo em comum com Cristo e os demais crentes. Essa comunhão expressa o relacionamento íntimo que os cristãos têm com Cristo e os outros cristãos. Essa comunhão resulta em privilégios e deveres para todos aqueles que são membros da igreja.

CREMOS QUE A IGREJA DE CRISTO É A COMUNHÃO DOS SANTOS

Vejamos:

1) O Nosso Benefício nessa Comunhão
2) O Nosso Dever nessa Comunhão

1) O Nosso Benefício nessa Comunhão

Nesse sermão, vamos enfatizar esse aspecto da igreja como a comunhão dos santos. Para isso, vamos atentar especialmente para a pergunta e resposta 55. Observe que a primeira parte da resposta da pergunta 55 afirma “que todos os crentes, juntos e cada um por si, têm comunhão com Cristo, o Senhor, e todos os seus ricos dons”. Quando Cristo nos chama e nos reúne na sua igreja ele nos coloca numa posição privilegiada. Cristo nos une a ele mesmo. Ele nos faz participar da sua comunhão. Ele nos torna participantes de suas riquezas. E não existe uma benção maior do que esta: ter comunhão com Cristo. Mas o que significa ter comunhão com Cristo?

Em primeiro lugar, ter comunhão com Cristo é ter um relacionamento de amor com ele. Mas esse relacionamento de amor não é iniciativa nossas, mas de Cristo. Nós o amamos porque ele nos amou primeiro. A Bíblia usa vários exemplos para falar do relacionamento amoroso e gracioso que Cristo tem com sua igreja. Esse relacionamento traz benefícios para quem tem comunhão com Cristo. Vejamos alguns exemplos desse relacionamento: 1) Cristo é o pastor e a igreja é o seu rebanho (Jo. 10.11,14, 16). Esse relacionamento expressa o cuidado e a proteção que Cristo, o Bom Pastor, manifesta por suas ovelhas. Ele deu sua vida por elas e continua a cuidar delas, pastoreando-as para a glória. 2) Cristo é a videira e os membros da igreja seus ramos (Jo. 15.5). Essa figura expressa nossa ligação direta com Cristo e nossa dependência dele para dar frutos. Sem comunhão com Cristo não podemos dar frutos, mas unidos a Cristo por fé, recebemos dele graça para dar frutos. 3) Cristo é o cabeça e a igreja é o seu corpo (Ef.1.22,23; I Co.12.12,27). A nossa comunhão com Cristo se manifesta no seu governo gracioso sobre nós. Cristo dirige a nossa vida com sua palavra. Isso é uma benção de Cristo para nós. Ele nos alimenta com sua palavra e nos governa por meio dos seus oficiais para nosso bem e salvação. Cristo tem um relacionamento íntimo e profundo com sua igreja. Um relacionamento de amor que pode ser definido pela palavra comunhão. A igreja é a reunião daqueles que amam a Cristo e são amados por ele.

Ter comunhão com Cristo é compartilhar das suas riquezas; é desfrutar das bênçãos que ele tem para nós. Pela graça de Deus, você é beneficiado em ter comunhão com Cristo e todos os seus ricos dons. Deus nos dá graciosamente todas as coisas em Cristo (Rm. 8.32). Toda riqueza de Cristo nos é dada quando temos comunhão com ele. Tudo que ele conquistou por sua obra redentora nos é dado por graça. Ele se fez pobre para nos fazer rico. Mas que bênçãos são estas que Cristo ganhou para nós? Que riquezas ele compartilha conosco? O que ganhamos em ser membros da igreja de Cristo e ter comunhão com ele? Bênçãos materiais? Boa saúde, prosperidade, uma vida sem problemas e dificuldades? Não é nada disso. Cristo afirmou que no mundo teremos aflições. Verdadeiros filhos de Deus podem sofrer nesta vida. Porém, eles são ricamente abençoados em Cristo Jesus. Cristo tem dons mais preciosos e permanentes para eles do que qualquer riqueza material que se perde. As tribulações desse tempo presente não podem separá-lo do amor de Cristo nem tirar-lhe as riquezas que possui em Cristo.

Quais são os ricos dons que Cristo compartilha com os santos? Em primeiro lugar, em nossa comunhão com Cristo, temos o dom do perdão dos pecados. Cada um de nós merecemos o castigo eterno de Deus por causa dos nossos muitos pecados. Somos culpados aos olhos de Deus. Caímos com nossos primeiros pais. Mas a graça de Deus foi maior do que o nosso pecado. Pela graça de Deus fomos beneficiados com o perdão que Cristo conquistou para nós por sua justiça e perfeição. Nele temos a redenção dos nossos pecados. O seu sangue precioso foi derramado na cruz para nos purificar de todo pecado (I Jo. 1.7). No próximo domingo quando celebrarmos a ceia do Senhor, vamos nos alegrar por esse benefício do perdão que Cristo nos dá (ver pergunta 56).

Em segundo lugar, em nossa comunhão com Cristo, desfrutamos do dom do Espírito Santo. Cristo derramou o seu Espírito sobre nós (I Co. 12.13). Por meio do Seu Espírito, Cristo nos regenera e nos santifica. Ele muda a nossa vida. Ele transforma o nosso coração. Nós, que antes éramos escravos do pecado e do diabo, fomos feitos uma nova criação, filhos de Deus redimidos e santificados. O Espírito de Cristo nos faz andar em novidade de vida. Ele nos fortalece na luta contra o pecado e nos consola nas aflições. Ele também nos torna membros vivos da igreja de Cristo. Ele nos capacita com dons para servir na edificação do corpo de Cristo.

Em nossa comunhão com Cristo, somos beneficiados com o dom da vida eterna. Além do perdão e da nova vida no Espírito, o Senhor nos abençoa com a herança da vida eterna. Ele tem a vida eterna e a concede a todo o que nele crê. O destino da igreja é a vida eterna, pois ela é a comunidade eleita para a vida eterna. Isso é a graça de Deus para conosco em Cristo Jesus (Rm. 6.23). Cristo reúne, governa, protege e conserva a sua igreja para a vida eterna (Mt. 16.18; Jo. 10.28).

Meus irmãos! Não é por força ou mérito nosso, mas pela graça e pelo poder de Cristo, que somos beneficiados com tantas bênçãos. Quantas riquezas e benefícios temos em Cristo como membros da sua igreja! Você tem refletido sobre o quanto você é rico em Cristo? Você reconhece como é grande o amor de Deus em fazer de você, um pobre e miserável pecador, agora um filho amado de Deus, redimido, santificado, e herdeiro da vida eterna em Cristo? Quando você reconhece isso, então, só pode tomar uma atitude: gratidão. Você só pode ser um cristão alegre e grato ao Senhor por todos os seus benefícios. “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?”. Dê o seu coração! Dê a sua vida! Sirva ao Senhor com alegria como um membro vivo da igreja dele. Ame o Senhor e sua igreja. Alegre-se com os benefícios que tem em comunhão com Cristo e cumpra com prazer o seu dever de exercer a comunhão com os outros membros do corpo de Cristo. Isso veremos agora no segundo ponto.

2) O Nosso Dever nessa Comunhão

Uma das bênçãos que nós recebemos em ter comunhão com Cristo é compartilhar dessa comunhão com os nossos irmãos. Nossa comunhão com Cristo nos leva a viver em comunhão uns com os outros. É impossível ter comunhão com Cristo, o cabeça, se não temos comunhão com o corpo de Cristo, os outros membros. Todos nós temos tudo em comum em Cristo. Participamos juntos de todas as riquezas de Cristo.

Além disso, temos o dever de servir uns aos outros com os nossos dons. Confessamos que a igreja é a comunhão dos santos. Sabe o que isso significa? Que todos devem sentir-se obrigados a usar seus dons com vontade e alegria para o bem dos outros membros. O que confessamos com a boca deve ser coerente com a nossa maneira de viver. Se eu afirmo que creio na comunhão dos santos e não tenho prazer de usar os meus dons para edificar meus irmãos, se não busco viver em amor com meus irmãos, então estou mentindo, sou um hipócrita. Meus irmãos! Somos chamados a usar os nossos dons para a edificação da igreja. Cristo nos deu do seu Espírito. Este Espírito nos capacita com os mais diversos dons para servirmos à igreja. Os dons do Espírito são diversos, mas o propósito é único: edificar a igreja de Cristo e servir ao bem dos outros membros (I Co. 12.4,7 25; I Co. 14.12, 26).

A igreja é o corpo de Cristo. Isso significa que não só somos governados por Cristo nosso cabeça, mas também que cada um de nós temos dons diferentes no corpo e devemos cooperar uns com os outros para nosso crescimento e edificação (I Co. 12.25). A figura do corpo nos ajuda a entender como precisamos e dependemos uns dos outros. Vamos ver uma ilustração sobre isso. Meus olhos fazem o trabalho de enxergar uma fruta madura e apetitosa na árvore. Mas para que essa fruta me alimente, eu preciso de outros órgãos. Da mão para pegá-la, da boca para mordê-la, dos dentes para mastigá-la, da língua para movimentá-la na boca, da garganta para engoli-la, do estômago para digeri-la. Todos estes membros realizaram funções diferentes no único propósito de alimentar o corpo.

Assim é também na igreja. Precisamos uns dos outros, meus irmãos. A nossa diversidade de dons não deve promover isolamento dos membros, mas a unidade do corpo (v.20). É justamente por termos dons e funções diferentes no corpo que precisamos uns dos outros. Se você é membro do corpo de Cristo, você tem recebido dons para servir a igreja. Então, você não deve esconder seus dons ou deixar de usá-los, mas deve usá-los para o bem da igreja. Cada um de nós podemos fazer algo em favor uns dos outros. Você tem consciência disso. Qual a pergunta que incomoda sua mente: “O que a igreja pode fazer por mim?”. Ou: “O que eu posso fazer pela igreja de Cristo”? Há algo que você pode fazer pela igreja. Não pense que é tarefa apenas dos oficiais servir a igreja. Eles têm sua responsabilidade e devem cumpri-la fielmente. Mas o trabalho deles é equipar cada um de vocês para que participem da edificação do corpo de Cristo (Ef. 4.11,12 15,16).

O que você pode fazer para edificar a igreja? Ensinar crianças, visitar para consolar e aconselhar com a palavra de Deus, pregar a palavra, tocar um instrumento, organizar atividades na igreja, exercer misericórdia usando seus bens e dons para ajudar um irmão, limpar o prédio, preparar comida para os irmãos que vem ao concílio e muito mais. Se você recebeu o dom do casamento deve servir um ao outro no uso coreto desse dom maravilhoso. Se você tem filhos, deve educá-los desde cedo nos caminhos do Senhor. Os homens da igreja não devem enterrar seus talentos debaixo da terra, mas usá-los para edificação do corpo. As mulheres idosas podem instruir as jovens recém casadas. Cada um de nós, independente da função no corpo, pode fazer muito uns pelos outros.

Como devemos usar os nossos dons na igreja? Não por constrangimento ou má vontade; não com complexo de inferioridade, se comparando com outros e achando que não tem utilidade na igreja (I Co. 12.15,16); não com orgulho, achando-se superior aos outros e que não precisa de ninguém (vs.21,22; I Co. 4.7). Mas devemos usar nossos dons com boa vontade e alegria. Numa só palavra: com AMOR. AMOR POR JESUS CRISTO, AMOR PELOS IRMÃOS. Sem amor, o uso dos nossos dons, por mais excelentes que sejam, é pura vaidade e hipocrisia (I Co. 13.1-3). Mas com amor o uso dos nossos dons agrada a Deus e serve para o bem do meu irmão. Deus não está preocupado com o tipo de dom que temos, mas com a motivação como usamos nossos dons. Ele sonda o nosso coração e quer ver amor em nosso meio.

Mas como posso mostrar amor ao meu irmão? Sendo simpático com ele (I Co12.26). Ser simpático não é andar sorrindo ou se dá bem com todo mundo, mas sentir com o meu próximo (I Pe.3.8 – compadecidos). Somos a família de Deus. Somos o corpo de Cristo. Somos a comunhão dos santos. Temos tudo em comum. Portanto, devemos festejar a alegria do nosso irmão e também chorar a sua tristeza. Na igreja de Cristo não há lugar para indiferença ou egoísmo, mas é um lugar onde somos chamados a nos alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram (Rm. 12.15). Que a nossa confissão verbal de que a igreja é a comunhão dos santos seja coerente com a nossa maneira de viver. Como diz o apóstolo João: “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (I Jo. 3.18).

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.