Dia do Senhor 09

Leitura: Salmo 19.01-06; Mateus 06.25-34
Texto: Dia do Senhor 09

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo

Quando você confessa as palavras do Credo Apostólico: “Eu creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador dos céus e da terra”…, o que se passa pela sua cabeça? Que imagem de Deus vem à sua mente? É muito importante termos consciência do que confessamos acerca de Deus, especialmente quando vivemos num mundo onde muitas pessoas negam a existência de Deus (ateus teóricos e ateus práticos) ou têm pensamentos errados sobre Ele (ex: Tudo é Deus = Panteísmo; Deus está ausente da Criação = Deísmo).

Meus irmãos, estas poucas palavras que introduzem o Credo Apostólico, não dizem tudo, mas nos dizem muita coisa sobre Deus. Elas destacam 2 aspectos importantes sobre Deus. Primeiro, que Deus é o Nosso Criador e segundo, que Deus é também o Nosso Pai. É isso que confessamos aqui no Dia do Senhor 9. Agora, é importante lembrar que essas ideias sobre Deus não são uma invenção da igreja ou fruto da mente dos grandes teólogos do passado, mas são verdades que o próprio Deus revelou sobre si mesmo na Criação e, principalmente, na sua Palavra. O Catecismo não procura dá uma ideia própria sobre Deus, mas explicar e repetir o ensino da Bíblia acerca de Deus.

No Salmo 19, por exemplo, Davi exalta a Deus por sua revelação aos homens tanto na Sua Criação quanto por meio da Sua Palavra. Davi nos ensina que o Altíssimo se revelou como o Deus Criador, Aquele que manifesta sua glória nas obras de suas mãos e no seu cuidado para com elas (1-6 – Deus) e como o Deus Redentor (7-14 – SENHOR), Aquele que salva um povo para si, revela sua vontade a este povo e se relaciona com Ele como um Pai amoroso e cheio de graça.

Davi reconhece isso ao se dirigir a Deus em oração como Sua Rocha e seu Redentor (v.14). Ele não só glorifica a Deus como Criador, mas também mostra que tem um relacionamento de amor com Deus como seu Pai e Salvador, pois ele deseja ser perdoado e corrigido por Deus, além de agradá-lo por meio de uma vida irrepreensível em sua presença (Sl.19.11-14).

Agora, por que o Deus Criador revela-se também como o Deus Redentor? Por que ele redime um povo para si mesmo e faz de pecadores como nós seus filhos e filhas amados? Com base em que Ele se relaciona graciosamente conosco? Deus nos criou para si mesmo, mas nós nos afastamos dele por causa dos nossos pecados. Contudo, Ele, por pura graça, veio ao nosso encontro e nos reconciliou consigo mesmo mediante o sangue de Cristo derramado na cruz, sangue que nos purifica de todo pecado e nos dá a graça de estar diante de Deus como seus filhos (Rm.5.1; II Co.5.18-21). Então, não é por mérito nosso, mas somente pela obra redentora de Cristo que somos aceitos por Deus. Por isso, cada um de nós confessamos pessoalmente que o mesmo Deus que criou e sustenta todas as coisas, “é também meu Deus e meu Pai, por causa de seu Filho, Cristo”. Com base nisso, eu vos proclamo a Palavra de Deus no seguinte tema:

O DEUS CRIADOR É TAMBÉM NOSSO PAI POR CAUSA DE CRISTO

Deus, Nosso Criador
Deus, Nosso Pai
(1) As primeiras palavras da Bíblia chamam a nossa atenção para a existência de Deus como o Criador de todas as coisas (Gn.1.1). Ele não precisava, mas resolveu criar, do nada, todas as coisas para manifestar a sua glória nas obras de suas mãos. A Bíblia glorifica a Deus como o Criador de todas as coisas. Aqui no Salmo 19, Davi atentou para o livro de Deus na criação e viu nele a sua glória, ou seja, o seu poder, sabedoria e bondade manifestos nas lindas obras de suas mãos. Nos versos 1-6, ele exalta a Deus como Criador de todas as coisas.

Davi nos mostra que Deus revela algo de si mesmo em sua criação: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” (v.1). Deus nos fala pelas obras de suas mãos. Ele nos dá testemunho de seu poder, sabedoria e bondade por meio das coisas criadas, de modo que nenhum ser humano pode se desculpar no último dia de não ter visto e conhecido a Deus (ver Rm.1.20). “Certamente, tudo o que vem da mão do próprio Mestre, tem algo de si mesmo” (Spurgeon). Vamos atentar para o que Davi nos fala sobre o testemunho de Deus na Criação (Sl.19.1-6).

Em primeiro lugar, a Criação é um testemunho abrangente do Deus Criador (v.1). Primeiro, porque ela revela a glória de Deus em toda a sua extensão: Os céus com todas as estrelas e a maior delas, o sol com todo o seu percurso e esplendor glorioso, revelam a glória de Deus. Além disso, a glória de Deus é vista em todo o firmamento, ou seja, em toda expansão do universo. O mundo inteiro exalta a Deus em suas obras, seja no céu, na terra e no mar (Nm.9.6). Todas as criaturas grandes e pequenas, em cima nos céus, embaixo na terra e nas águas, revelam a grandeza do Nosso Deus (Confissão Belga, artigo 2)!

Segundo, porque todas as obras de Deus revelam os mais diversos atributos ou qualidades gloriosas de Deus. Pense, por exemplo no poder de Deus, em criar do nada todas as coisas; em conter o mar no seu limite; em fazer o sol percorrer o seu caminho e se manter numa distância exata da terra de modo que permita sua sobrevivência; em produzir o fruto da terra; em nos dá vida, pois é nele somente que vivemos, movemos existimos (At.17.25,28).

Pense na Bondade de Deus. Observe como tudo foi criado bom, ou seja, adequado para as suas funções; mesmo com a entrada do pecado no mundo, a terra ainda está cheia da bondade do Senhor (Sl.33.5). Ainda desfrutamos da bela criação de Deus, provamos de vários sabores e experimentamos aromas diversos; o casamento é um aspecto da bondade divina para a humanidade, o trabalho, apesar da fadiga e do suor que o acompanha, é fruto da bondade de Deus para nos sustentar; o descanso diário é fruto da bondade de Deus para restaurar nossas forças. Enfim, Deus é Benigno em todas as suas obras (ver Sl.145.9,17).

E o que dizer da sabedoria de Deus no sol que aquece a terra e a mantém viva, na chuva que produz o fruto, e principalmente no homem que recebe de Deus dons e habilidades para explorar sua criação e produzir coisas úteis para a humanidade? (ver Sl.104.24) Enfim, toda a criação é uma pregação visível da infinita majestade de Deus.

Em segundo lugar, a Criação é um testemunho contínuo do Deus Criador (v.2): O mundo criado declara de uma maneira contínua a glória de Deus. É um testemunho diário que nunca tem fim. O verbo “discursa” traz a ideia de um borbulhar constante de uma cachoeira. Deus não pára de testemunhar sobre si mesmo; dia e noite sua criação testifica de sua glória.

Em terceiro lugar, a Criação é um testemunho sem palavras do Deus Criador (v.3): Parece que o salmista está se contradizendo aqui. Ele diz que há um anúncio e discurso, mas também diz que não há linguagem, nem palavras. A ideia é que a criação fala, mas ela não diz tudo sobre Deus. A criação nada tem a dizer sobre a graça redentora de Deus, o caminho da salvação em Cristo. Mas Deus não deixou os homens às cegas quanto a isso. Ele revelou seu propósito Salvador em sua Palavra. Ele é o SENHOR que nos deu a sua Palavra para restaurar a nossa alma, nos dá sabedoria e iluminar os olhos para enxergar Cristo e se alegrar nele como nosso Salvador (Sl.19.7-10).

Em quarto lugar, a Criação é um testemunho universal do Deus Criador (v.4-6): A voz da criação é uma mensageira universal. Todos os habitantes da terra, até os que vivem nos lugares mais remotos, podem perceber a grandeza de Deus na criação. Todos são testemunhas do caminhar glorioso do sol e todos são aquecidos pelo seu calor. Contudo, isso não é suficiente para salvá-los, mas para condená-los. Por isso que Cristo manda a sua igreja anunciar o seu evangelho a todas as nações e até aos confins da terra, pois a fé vem pelo ouvir a palavra de Cristo (Mt.28.19; At.1.8; perceba que em Rm.10.18, Paulo usa Sl.19.4 no contexto da pregação universal do evangelho).

Meus irmãos! Nós confessamos que a Criação não é produto do acaso ou de uma evolução natural das espécies, mas foi produzida pelas mãos bondosas, sábias e poderosas de Deus. Mas o que esse testemunho de Deus como Criador significa para nossas vidas? Como devemos reagir diante da glória de Deus revelada em suas obras? Toda humanidade desfruta da criação de Deus, mas nem todos reconhecem sua glória nas coisas criadas (Mt.5.45). Alguns adoram a criatura em lugar do Criador; outros exploram a boa criação de Deus, mas não o exaltam nem lhe agradecem. Nem todos louvam a Deus pelas bênçãos recebidas de suas mãos na criação!

Por outro lado, nós precisamos aprender a contemplar a beleza da Criação não com indiferença, mas com alegria e gratidão a fim de glorificar a Deus por sua bondade, sabedoria e poder manifestos em todas as coisas criadas e no seu governo e sustento sobre elas. Há muitas coisas boas na criação do nosso Deus. Pense em alguns dos deliciosos alimentos que você já comeu (sabores diversos). Lembre-se de algumas das lindas paisagens que você já viu (o lindo sol a brilhar, a chuva a cair, o céu estrelado, a lua cheia, o oceano com todas as suas criaturas). E quanto aos belos sons que você ouve (do vento, das aves, da chuva)? E, sobretudo, olhe para você mesmo e veja que bela criação de Deus você é, criado à imagem e semelhança do Senhor, dotado de razão, capaz de fazer grandes coisas e se relacionar com o Seu Criador!

Meus irmãos! Os céus em todo o seu esplendor, o caminhar contínuo e radiante do sol, o dia e a noite, nós mesmos, enfim, tudo que o Senhor fez deveria colocar em nossos lábios um hino de louvor ao nosso Deus (um hino de gratidão e assombro – Sl.139.14; um hino de humildade – Sl.8.3,4; um hino de alegria – Sl.92.4). Lutero exaltava a Deus ao apreciar a sua criação como um pecador redimido: “Se eu acredito no Filho de Deus e tenho em mente que Ele se tornou homem, todas as criaturas aparecerão 100 vezes mais bonitas do que antes. Então, apreciarei devidamente o sol, a lua, as estrelas, as árvores, as frutas, pois agora percebo que todos estes foram criados pelo Senhor que é sobre todos e a razão de tudo que existe”.

À medida que apreciamos a criação, somos atraídos a Deus! Não vamos apenas olhar para o céu estrelado e a bela lua cheia e dizer: “Que noite maravilhosa”! Ou para o sol em todo o seu esplendor e dizer: “Que dia lindo”! Mais do que isso. Nós vamos olhar para a beleza da criação e dizer encantados: “Que Criador Maravilhoso nós temos! Quão Sábio, Poderoso e Bondoso é o Nosso Deus! Como a criação exibe e exalta a glória de Deus”!

Você se deleita no seu Criador e se alegra nas suas obras? Você dá graças por existir e ser cuidado por Ele? Afinal de contas, Deus se importa com sua criação. Ele não está distante, mas perto para cuidar de cada uma das obras de suas mãos, especialmente o homem criado à sua imagem e semelhança. Ele sustenta e governa todas as coisas, por sua providência, para sua glória e para o bem do homem.

Permitam-me fazer uma ilustração: O atual prefeito da cidade de São Paulo, tem chamado a atenção de muitos pela boa e eficiente administração que tem feito em menos de 3 meses de mandato. Ele tem governado bem perto das pessoas, visitando os postos de saúde pessoalmente, indo buscar os mendigos nas ruas para capacitá-los e lhes dá emprego com a ajuda de empresas parceiras. Mas ele é apenas um homem, limitado ao tempo e ao espaço, que precisa da ajuda de outros para trabalhar. Por mais que ele faça, ele não pode resolver todos os problemas da maior cidade do Brasil. É somente um homem em quem não há salvação.

Mas Deus é Perfeito e preenche todo o tempo e o espaço e está bem perto para socorrer todas as suas criaturas. Ele não criou todas as coisas e depois se ausentou delas, deixando-as à própria sorte! Não! Ele cuida de tudo e de todos. Se ele alimenta as aves e cuida das plantas, que são de pouco valor, quanto mais de nós, homens e mulheres, que somos a coroa da sua criação?

O problema, como Cristo identificou, não está no cuidado de Deus por nós, mas em nós não confiarmos Nele. Por isso, que Jesus nos adverte contra a ansiedade e a falta de fé (Mt.6.25-34) e nos chama a depender totalmente de Deus que conhece todas as nossas necessidades e é Poderoso para supri-las! Com base em que, Ele nos dá essa advertência e exortação? No fato de que o Criador de todas as coisas é também o Nosso Pai Celeste!

(2) O Deus que criou e continua a sustentar as obras de suas mãos, o Deus que governa poderosamente sobre todas as coisas, é também o Deus que te ama como um Pai amoroso. Cristo quer que enxerguemos a Deus não só como o Criador Poderoso de todas as coisas, mas também como o Pai Nosso que está nos céus!

No Sermão do Monte, ele se dirige aos seus discípulos e os ensina a chamar Deus de Pai em suas orações e confirma que Deus é o Pai de todos eles (Mt.5.16, 45; 6.1,4,6,8,914,1518,26,32;7.11)! A palavra que Jesus usa aqui ao chamar Deus de “Pai” trás a ideia não de um pai ausente ou carrasco, mas de um pai que deseja ter um relacionamento íntimo e carinhoso com você, um pai que ama profundamente cada um dos seus filhos e lhes dá tudo o que for bom para eles (Mt.7.11).

Esse termo “Pai” quando usado para Deus tem um caráter redentor e indica que ele é o Pai de todos os que creem em Jesus (Jo.1.12). Como Criador, Deus é o Pai das luzes e de todos os homens (At.17.25,26; Tg.1.17), mas como Redentor, somente daqueles que abraçaram a Jesus pela fé (I Tm.4.10). A estes Deus manifesta um cuidado especial que não se limita apenas a cuidar deles neste mundo, mas em lhe dá plena salvação com o perdão dos pecados, uma vida nova e a vida eterna (Ef.1.3-14).

Você vê Deus desta maneira também? Como seu Pai Celeste por meio de Cristo? Você se enxerga como um filho adotivo de Deus em Cristo Jesus? Essa fé em Deus como Pai trás consolo ao seu coração em meio às aflições desse tempo presente? Você tem contado com Deus como seu Pai em suas orações, dando graças pelas boas dádivas que ele tem te dado, sendo humilde em pedir a ajuda dele para as suas reais necessidades? Você tem agradado o Seu Pai sendo obediente e temente a Ele e buscando em primeiro lugar, seu reino e a sua justiça? Você sabe que Deus realmente ama você, não de longe, mas bem de perto? Você confia que Ele conhece perfeitamente a sua vida e que Ele é Poderoso, Bondoso e Fiel para cuidar de você em toda e qualquer situação, de modo que você não precisa andar ansioso quanto ao seu sustento e futuro?

É assim que Deus se revela a nós em sua Palavra: como um Pai amoroso e fiel que nos ama e nos salva em Cristo Jesus! Se a criação o revela como o Deus que manifesta o seu poder, sabedoria e bondade nas obras de suas mãos e todos podem ver isso. Na Bíblia ele se revela como o SENHOR, o Deus da aliança, que tomou a iniciativa, por pura graça de se relacionar conosco e nos redimir dos nossos pecados e fazer de nós seus filhos e filhas em Cristo Jesus. Em Cristo, a glória de Deus é revelada a nós de forma mais intensa ainda do que na criação. Pois o Verbo, que também é Deus, se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do Unigênito do Pai (Jo.1.14).

Cristo é manifestação maior da bondade, da sabedoria e do poder de Deus. Olhe agora não para a criação, mas para a cruz do Calvário e veja ali a bondade, a sabedoria e o poder de Deus para salvar. Veja a sua bondade, em nos ver em nossa miséria e se compadecer de nós morrendo em nosso lugar; veja a sabedoria de Deus no Cristo crucificado carregando e perdoando os nossos pecados; contemple o poder de Deus na cruz, pois foi ali que o Filho de Deus suportou todo o peso da ira de Deus e venceu a morte e o pecado para nos dá plena salvação (I Co.1.18-25)

Se já nos impressionamos com o sol que percorre todo o céu e nos aquece com seu intenso calor, mais maravilhados ainda ficamos com Jesus, o Sol da Justiça que percorre este universo de leste a oeste e norte a sul com a luz do seu evangelho para atingir pecadores com a sua graça salvadora. Ele traz para todos os que nele creem a luz da salvação. Se você está em Cristo, é uma nova criatura, um filho amado do Deus Vivo e um herdeiro com Cristo da vida eterna no novo céu e nova terra que Ele mesmo está preparando para aqueles que o amam.

Amém!

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.