Dia do Senhor 05

Leitura: Hebreus 10:01-12
Texto: Dia do Senhor 05

Meus irmãos,

Logo cedo na Bíblia nós conhecemos a situação do homem diante de Deus. Em Gn. 3, vemos uma mudança no relacionamento entre Deus e o homem que trouxe consequências espirituais desastrosas. O homem deixa de ser uma criatura de Deus, com o privilégio de ter uma comunhão íntima com o Criador e assim representar o próprio Deus neste mundo, para ser um réu, condenado, com a sentença de morte proferida pelo justo juiz.

O que acontece é que muitas crenças e falsas religiões acabaram por distorcer essa verdade acerca da condição natural do homem propagando mentiras como se a ofensa do homem feita a Deus em sua desobediência deliberada tivesse sido esquecida. Muitos acreditam na mentira de que se fizermos coisas boas ao próximo ou formos pessoas comportadas e de boa índole essa ofensa a Deus pode ser apaziguada. É o que muitas dessas religiões e crenças muito comuns em nossa cultura têm ensinado, como se fazer o bem fosse uma forma de escapar dessa condenação.

Não é assim como a Bíblia ensina. Provérbios 17:15 diz: “O que justifica o perverso e o que condena o justo abomináveis são para o SENHOR, tanto um como o outro.” Segundo estes versos, Deus abomina o que justifica o perverso, o que tem o perverso por inocente, ou seja, Deus nunca considera inocentes os pecadores, nem faz “vista grossa” diante do pecado. Esse é o princípio bíblico.

Agora, diante desse princípio de que o culpado tem que ser condenado e que não é possível Deus se esquecer disso, a pergunta que devemos fazer é: se somos culpados e merecedores de condenação, como podemos ser salvos? A resposta é satisfazendo a justiça de Deus, e a justiça de Deus só pode ser satisfeita se houver a punição do pecado e, ao mesmo tempo, a perfeição em relação à vontade de Deus. Punição e perfeição são a satisfação da justiça de Deus.

  1. Punição como satisfação da justiça de Deus

Hebreus 9: 22 diz: “… Sem derramamento de sangue, não há remissão.” Em outras palavras, poderia se dizer que é necessário haver morte para que a justiça de Deus seja satisfeita. Remir é pagar a dívida. Sendo assim, o derramamento de sangue é o modo como a dívida é paga e a justiça de Deus é satisfeita porque é a condenação estabelecida por Deus para quem quebrar os seus mandamentos (Gn 2:17).
Neste caso, isso não representa qualquer salvação para nós porque por nós mesmos não podemos nos livrar dessa condenação. Deus irá derramar o sangue do culpado por quebrar a sua lei. Se essa punição satisfaz a vontade de Deus, ele irá fazer.

Isso nos mostra uma exigência de Deus na condenação: que a sua justiça só pode ser satisfeita com sangue, nem ouro, nem prata, nem qualquer atitude boa podem atender a essa exigência. Somente o sangue derramado serve como um pagamento pela ofensa.

Esse princípio nós vemos desde o AT. Para que existiam os sacrifícios dos animais? Para nos ensinar isso: que o sangue precisava ser derramado, que Deus só ficava satisfeito com a morte quando o assunto era pecado. Em Lv. 4:27-31, vemos esta lei estabelecida por Deus. Diz: “Se qualquer pessoa do povo da terra pecar por ignorância, por fazer alguma das coisas que o SENHOR ordenou se não fizessem, e se tornar culpada; ou se o pecado em que ela caiu lhe for notificado, trará por sua oferta uma cabra sem defeito, pelo pecado que cometeu. E porá a mão sobre a cabeça da oferta pelo pecado e a imolará no lugar do holocausto. Então, o sacerdote, com o dedo, tomará do sangue da oferta e o porá sobre os chifres do altar do holocausto; e todo o restante do sangue derramará à base do altar. Tirará toda a gordura, como se tira a gordura do sacrifício pacífico; o sacerdote a queimará sobre o altar como aroma agradável ao SENHOR; e o sacerdote fará expiação pela pessoa, e lhe será perdoado.” (propiciação – Lv. 16:14-16)

O que deveria cair sobre o pecador caia sobre o animal. O sangue do animal era derramando e derramado para mostrar que nada menos do que a morte pode satisfazer as exigências de Deus por causa do pecado. Por meio do sacrifício do animal, o homem poderia ver o cenário terrível de como deveria ser a sua própria condenação.

Entretanto, esses animais serviam apenas como uma amostra de como as coisas realmente iriam e deveriam acontecer. Eles não eram realmente os culpados e nem os merecedores da condenação. O culpado de tudo era o homem e não os animais e nem qualquer outra criatura. Nós confessamos isso quando respondemos (resposta 14) à pergunta: “Será que uma criatura, sendo apenas criatura, pode pagar por nós? Não, não pode. … porque Deus não quer castigar uma outra criatura pela dívida do homem. Quem tem que pagar pelo que fez com Deus é o homem.

Hebreus 10 mostra como o sacrifício de animais era incapaz de pagar pela culpa do homem. Do verso 1 ao verso 4, segue-se uma explicação de que o sacrifício de animais serviam apenas como uma imagem da realidade do que estaria por vir (ler versos 1-4). Mesmo tendo o seu sangue derramado, esses animais não poderiam servir ao propósito de substituir o homem em sua condenação.

Os sacrifícios não eram capazes de pagar pela culpa do homem. O texto dá duas provas disso. Uma é que os sacrifícios eram feitos todos os anos. Isso quer dizer que, se eles acontecem periodicamente, eles não são eficazes no pagamento da culpa. Segundo, eles não purificavam a mente do ofertante. O verso 2 diz que, se eles pudessem limpar o ofertante da culpa, ele não teria mais consciência de pecados; o que nós sabemos que não acontecia.

Mas isso não quer dizer que os sacrifícios não serviam para nada. Eles serviam para relembrar dos pecados dos homens e assim mostrar que os homens precisavam de alguém para livrá-los dessa situação. Com eles, segundo o verso 3, “Faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que sangue de touros e de bodes remova pecados”. Ou seja, nenhuma criatura pode pagar pelo que o homem fez contra Deus a não ser ele mesmo.

  1. Perfeição como satisfação da justiça de Deus

Outro ponto da satisfação da justiça de Deus é a perfeição. Para alguém satisfazer a vontade de Deus completamente, ele precisa ser justo e santo perfeitamente, cumprir todo o que Deus exige em sua lei. Da mesma forma que a punição de Deus para o pecado era revelada no sacrifício do animal, pois nele poderiam ver o castigo de Deus reservado ao homem, essa exigência de perfeição era revelada no sacrifício.

A lei dos sacrifícios do AT exigia que o animal que fosse ser levado para o sacerdote deveria ser perfeito, não poderia ter defeito no seu corpo. Isso era para exemplificar que, para satisfazer a justiça de Deus, era necessário perfeição. O corpo do animal perfeito mostrava perfeição na conduta, perfeição na lei por parte do homem.

O livro de Levítico é o que chega mais perto a mostrar com detalhes essa exigência de Deus de perfeição. Este livro é considera o livro da santidade, pois é o livro que mostra como Deus exige santidade do homem. Ele mostra isso por meio dos sacrifícios, da descrição detalhada de como cada um deles deveria acontecer segundo a vontade de Deus para que pudesse ser aceito.

Logo no início do livro, 1:1-3, lemos: “Chamou o SENHOR a Moisés e, da tenda da congregação, lhe disse: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando algum de vós trouxer oferta ao SENHOR, trareis a vossa oferta de gado, de rebanho ou de gado miúdo. Se a sua oferta for holocausto de gado, trará macho sem defeito; à porta da tenda da congregação o trará, para que o homem seja aceito perante o SENHOR.” Perfeição era fundamental para o sacrifício. Para que o sacrifício fosse aceito por Deus, era necessário que o animal fosse perfeito.

Porém, o sacrifício seria aceito apenas como uma imagem e ilustração não como realidade. A passagem que lemos de Hebreus 10 mostra que a perfeição dos animais não poderia satisfazer a exigência de Deus de perfeição do homem. O verso 2 diz que a lei dos sacrifícios “nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes”. No sacrifício, o ofertante colocava sua mão sobre a cabeça do animal que seria sacrificado para indicar que aquele animal perfeito o representava; mas nada disso era capaz de tornar o homem perfeito diante de Deus.

Nenhum de nós podemos ser perfeitos. Além disso, merecermos a punição pelo pecado. Sem perfeição e culpados: essa é a condição do homem. Naturalmente só resta o castigo de Deus nada mais. Essa é a única esperança para o homem que sozinho está diante de Deus. A morte eterna do homem será a satisfação completa da justiça do Deus.

É neste sentido que Hb. 9:27 “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo”. Essa é a expectativa para o homem natural que vive de acordo com os seus próprios caminhos sem Deus.

Então, o que nós estamos fazendo aqui? Se essa é a condição do homem e a exigência da justiça de Deus, vamos pra casa e esperar o dia em que Deus vai satisfazer a sua justiça com a condenação do homem. Não, isso não termina assim. Há esperança.

Hebreus 10:5-9 mostra que alguém decidiu cumprir todas as exigências da justiça de Deus (ler v.5-9). Não há palavra para descrever esses versos que não seja a palavra “amor”. Não havia qualquer obrigação, qualquer exigência; não tínhamos nada para oferecer, apenas esperávamos o dia do nosso julgamento; mas o Filho de Deus disse: “Eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade.”. “Eu disse: Eis aqui estou” quer dizer que foi por livre e espontânea vontade.

É o Filho de Deus dizendo: Eu amo vocês! Culpados, julgados e condenados, mas “Eu amo vocês”. Sacrifícios não poderiam salvar vocês, ninguém neste mundo poderia fazer qualquer coisa para mudar a condição de culpados do vocês; “Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste; não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, eu disse: Eis aqui estou…” (v.5-7) “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo.” (v.9)

É a oferta do próprio Filho de Deus para satisfazer a justiça de Deus em seu lugar (propiciação em Cristo – Rm. 3:25). O seu corpo foi ofertado em lugar do nosso. Foi formado um homem perfeito para receber e cumprir as exigências da justiça de Deus que nós nunca iríamos conseguir cumprir: “Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifícios e oferta não quiseste, antes corpo me formaste”.

Foi no corpo de Cristo que a punição e a perfeição se encontraram. Por isso, pela oferta do seu corpo, nós encontramos a justiça de Deus não mais para a nossa condenação mas para a nossa salvação. No verso 10, diz o texto: “Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.”

A diferença entre o sacrifício de animais e o sacrifício do corpo de Cristo já mostra que o sacrifício do seu corpo foi suficiente para pagar a nossa culpa e nos santificar em nossa imperfeição. Verso 12 diz: “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus”. Um único sacrifício, não muitos, não todos os anos, mas uma única vez.

Foi isso o que Cristo fez por você. Ele entregou o seu próprio corpo para satisfazer a justiça de Deus em seu lugar, porque te amou, teve misericórdia de você, e ainda tem.

Nós continuamos com nossas imperfeições, sofrendo porque cada vez que pecamos, estamos tentando desfazer o que Cristo fez por nós. Mas Cristo não permite isso, e está conosco mesmo com as nossas imperfeições. Lembre-se de que não foi a sua perfeição que trouxe a Cristo, mas Cristo veio porque éramos imperfeitos. Que ele te dê força para servi-lo com gratidão por tudo o que te fez.

Amém.

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Iraldo Luna

É formado em Letras Vernáculas pela UFPE com pesquisas voltadas para a área de linguística de texto. Bacharel em Divindade pelo Instituto João Calvino. É pastor na Igreja Reformada de Brasília. Professor do curso on-line de introdução ao Grego Bíblico no Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.