Dia do Senhor 04

Leitura: Naum 01.02-10
Texto: Dia do Senhor 04

Assunto: A Justa Ira de Deus sobre o Pecado do Homem

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo

Certamente vocês já ouviram a expressão: “Deus odeia o pecado e ama o pecador”. O que vocês acham dessas palavras? É certo fazer essa afirmativa? Ela está de acordo com o ensino bíblico? Não. Pois não podemos separar o pecador do pecado. A Bíblia é clara em nos ensinar que o Deus Santo odeia o pecador que peca constantemente contra ele (Sl. 5.4-6) O homem é pecador e por causa dos seus pecados, Deus se ira e quer castigá-lo por um justo julgamento.

O assunto de Domingo 4 referente à nossa miséria é o ensino bíblico acerca da justa ira de Deus sobre o pecado do homem. Este não é um assunto muito popular hoje em dia e nem agradável de se ouvir. Quem gosta de ouvir que é pecador e digno do castigo de Deus? O pecador por natureza não quer aceitar essa mensagem. Ele procura algum tipo de justificativa para livrar-se do seu estado de culpa. As três perguntas do domingo 4 são um reflexo do desejo do pecador de tentar escapar do castigo de Deus (ler as três perguntas). Primeiro ele acha que Deus exige do homem uma coisa injusta. Depois ele argumenta sobre a possibilidade de Deus abandonar o seu castigo. E por fim ele apela para a misericórdia de Deus, colocando a justiça de Deus contra a sua misericórdia. Embora este seja um assunto desagradável de se ouvir, é urgente e necessário. O homem precisa primeiramente ouvir quão grande é sua miséria para que então possa compreender também como é maior ainda a sua salvação.

Independente do que o homem pensa sobre si mesmo e sobre Deus, permanece a verdade bíblica de que o Deus Justo castiga o pecado do homem. É importante que tenhamos um entendimento bíblico sobre este assunto, pois há muitas idéias erradas sobre o mesmo. Para alguns o homem não é tão mal assim e, portanto não merece o castigo de Deus. Há também o falso ensino de que Deus é injusto quando manifesta a sua ira para castigar o pecador. Como pode um Deus de amor manifestar a sua ira? É importante que atentemos para o que a Bíblia ensina. Portanto, Neste sermão vamos atentar para algumas verdades bíblicas relacionadas a esse assunto da manifestação da ira de Deus em castigar o pecador.

  1. A condição miserável de todo ser humano diante de Deus é de corrupção e culpa

É importante relembrarmos o que já estudamos no domingo 3 sobre a miséria do homem. Ali falamos sobre a origem e a profundidade da nossa miséria. Em virtude da desobediência de Adão e Eva, toda a humanidade tornou-se corrompida, inclinada ao mal e incapaz de fazer algum bem para a glória de Deus e sua salvação. Adão e Eva, sendo nossos primeiros pais, nos representavam diante de Deus. As ações deles teriam influência direta na vida dos seus descendentes. Com a queda, Adão privou a si mesmo e a todos os seus descendentes dos dons excelentes que ele e sua mulher tinham antes da queda. A justiça, bondade e santidade que o homem tinha antes da queda e que o capacitava a obedecer perfeitamente a Deus foram perdidas. O homem caído continuou sendo homem, mas se tornou corrupto em todos os seus caminhos. E não somente isso. Ele se tornou também culpado por sua desobediência. Todo ser humano herdou a culpa e a corrupção de seus primeiros pais.

A ênfase de domingo 4 é na culpa do homem diante de Deus, o que o leva a merecer o justo castigo de Deus. Quem é culpado de algum crime merece punição. Os pais castigam seus filhos quando erram. As autoridades têm nas mãos a espada dada por Deus para castigar os criminosos. E Deus tem todo o direito de castigar o homem que pecou contra a sua suprema majestade.

Talvez você se pergunte: Será que eu mereço o castigo de Deus? Tenho alguma culpa diante dele? O que tenho a ver com Adão? Eu não tenho os dons excelentes que ele tinha. Tenho a ver com a sua desobediência? Sim. Cada ser humano tem uma ligação direta com Adão. Ele é o pai de todos. Por meio dele Deus criou toda a humanidade (At.7.26). Somos, por assim dizer, como os ramos de uma mesma árvore ligados à sua raiz que é Adão.

Nossa relação com Adão e Eva não é somente de sangue, mas também espiritual. Sua miséria é a nossa miséria. Pecamos com eles no paraíso e por isso nos tornamos herdeiros de sua corrupção e culpa (Rm. 5.12). Mesmo antes de pecarmos, nós já somos culpados diante de Deus. Herdamos o pecado original de nossos primeiros pais. Esse pecado original é nossa natureza pecaminosa com que nascemos (Sl. 51.5) e de onde fluem os pecados que cometemos. É também nosso estado de culpa diante de Deus.

Reconhecemos e confessamos essa verdade bíblica: “Todos os homens pecaram em Adão, estão debaixo da maldição de Deus e são condenados à morte eterna (Rm. 3.19,23; 6.23)”. Não podemos nos desculpar diante de Deus, mas devemos nos calar e reconhecer a nossa miséria.

Uma característica própria do homem caído é procurar uma justificativa para o seu erro. Querendo desculpar-se diante de Deus, pode ser que você pense o seguinte: Será mesmo que o homem é culpado? Não foi Deus quem colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal no meio do jardim? O homem não foi tentado pelo diabo? De fato, Satanás instigou (estimulou) o homem a pecar; porém, o homem foi o principal responsável por seu ato de desobediência. Ele não pecou por ignorância, mas deliberadamente e por sua própria rebeldia. E logo depois, homem e mulher, evidenciaram sua corrupção, tentando se desviar de sua culpa diante de Deus (Gn. 3.11-13).

Não foi por causa de Deus que eles se tornaram miseráveis. Deus os criou em condições de obedecer-lhe. Deus exigia o que eles tinham condições de fazer. A árvore colocada por Deus no meio do jardim não foi uma armadilha para eles caírem, mas um teste para eles mostrarem seu amor em obediência ao Seu Bom Criador. Eles, porém, estragaram o que Deus tinha feito de bom e por conseqüência, tornaram-se corruptos e culpados diante de Deus juntamente com todos os seus descendentes. Eles caíram do estado excelente em que se encontravam, mas a justiça de Deus permanece de pé. Ele há de castigar o pecado por um justo julgamento.

  1. O castigo de Deus sobre o pecador é justo

No domingo 4 lemos que Deus quer castigar os nossos pecados por um justo julgamento (10). Por que Deus quer fazer isso? Ele é um Deus cruel e carrasco que tem prazer em castigar? Não é isso. Deus quer castigar o pecador porque ele é justo. Sua justiça exige que o pecado cometido contra sua suprema majestade seja castigado. Sua ira é justa.

O Senhor Deus é justo em todos os seus caminhos e nele não há injustiça. Ele é totalmente justo e por isso não age de forma parcial ou arbitrária no trato com suas criaturas, mas segundo a sua justiça. Quando ele criou o homem, ele o fez um ser santo, justo e perfeito, em plenas condições de cumprir perfeitamente a sua vontade e lhe deu apenas esta ordem: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gn 2.16-17). Em tudo isso vemos sua justiça.

Mas o que aconteceu? O homem, por sua própria rebeldia e instigado por Satanás, desobedeceu a Deus comendo do fruto proibido. Então eu pergunto: Seria Deus injusto em aplicar-lhe o castigo merecido? Não. De forma alguma. Deus age com justiça na aplicação do castigo sobre o pecado. Sua palavra foi dada: se pecar será castigado com a morte. Ele não volta atrás com sua palavra. Ele é justo. E o pecador é digno do seu justo castigo.

O próprio Deus já declarou a sentença: “Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei para praticá-las” (Dt. 2.26; Gl. 3.10).

Deus manifesta sua justa ira contra o pecado por que ele é o Deus Santo. Ele é perfeito em si mesmo e separado de todo pecado. É de sua natureza odiar o pecado. O pecado cometido contra ele é uma ofensa à sua santidade. É uma negação da sua graça e bondade. É um ato digno de uma justa punição. Ele é tão puro de olhos que não pode ver o mal (Hb. 1.13). Ele é o justo juiz que a cada dia se ira contra o pecado do homem. Ele é O Deus zeloso e vingador, cheio de ira e jamais inocenta o culpado. Ele não faz vista grossa quanto ao pecado do homem, ele não abandona o castigo, por que ele é justo. Mas ele não castiga o pecador arbitrariamente, mas por um justo julgamento.

  1. O castigo de Deus sobre o pecador é terrível e se manifesta tanto nesta vida quanto na futura

O Justo Deus não deixa sem castigo a desobediência do homem, mas ele se ira terrivelmente. Sua ira se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens… (Rm. 1.18). Ele derrama sua ira sobre os filhos da desobediência. Seu cálice está cheio da sua ira (Sl. 75.8). O castigo de Deus é algo terrível. Quem conhece o poder da sua ira? Quem pode ficar de pé perante a ira do Altíssimo? A Bíblia nos ensina que este castigo terrível de Deus é temporário (já se manifesta na vida presente) e também eterno (seguirá na vida futura).

Deus já castiga o pecador nesta vida presente. Como Deus manifesta seu castigo na vida presente? Desde que o homem caiu, a Bíblia nos revela os atos de juízo de Deus nesta vida sobre o homem por causa dos seus muitos pecados (Adão e Eva expulsos do jardim; dilúvio, destruição de Sodoma e Gomorra, o cativeiro do próprio povo de Deus, seu juízo sobre as nações pagãs). Em todos estes atos de julgamento Deus estava manifestando sua justa ira contra o pecado dos homens. Ele manifestou seu juízo no meio do seu próprio povo. Sempre que Israel se mostrava desobediente, Deus os castigava com falta de chuva, derrotas, morte, doenças e outras punições (Dt. 28.23-27). Porém, não devemos pensar que qualquer pessoa que enfrente tais adversidades, deve ter cometido pecado e por isso está sendo castigada por Deus (ex: Jó – provação; não castigo). No entanto, toda miséria que há no mundo é conseqüência do pecado e, ao mesmo tempo, manifesta o justo juízo de Deus sobre o pecado do homem já nesta vida.

O castigo de Deus sobre o pecado seguirá a vida futura e será eterno. Deus quer castigar o homem por um justo julgamento agora nesta vida e na futura. O homem há de ser castigado com a pena máxima, quer dizer, com o castigo eterno em corpo e alma. Será mesmo que é assim? Haverá um castigo eterno para o pecador? Alguns ensinam que não haverá castigo eterno. Há o falso ensino que diz que aqueles que não creram em Cristo e permaneceram em seus pecados deixarão de existir depois da sua morte e, portanto não haverá inferno (aniquilacionismo). Existe também o falso ensino de que mesmo no inferno, os homens terão nova oportunidade de se arrependerem e serem salvos.

A Bíblia não diz nada disso. Conforme o ensino bíblico, Jesus Cristo virá uma única vez para julgar os vivos e os mortos (Hb. 9.27). Haverá um julgamento final em que Cristo separará os cabritos das ovelhas e selará o destino eterno de todos. Vida eterna para os que creram nele; morte eterna para os pecadores rebeldes (Mt. 25.34,41 42). A Bíblia usa figuras fortes para expressar quão terrível será o castigo eterno: inferno como um lugar de escuridão, onde o fogo não se apaga e onde haverá choro e ranger de dentes. Neste lugar de tormentos não haverá comunhão com Deus. Nenhum de nós consegue imaginar como será esse terrível castigo eterno para aqueles que não serviram a Deus. Mas sabemos que o mesmo é uma certeza e que já está por vir. Paulo, a exemplo de Jesus, também falou sobre o reto juízo de Deus que virá definitivamente sobre o homem (II Tess. 1.5-10).

Muitos não acreditam nisso. Porém, a Bíblia fala muito sobre este assunto. A razão disso é que Deus quer nos avisar do perigo grande e grave para aquele que vive no pecado. Na verdade, todos nós merecemos ser lançados no inferno de fogo, merecemos a morte eterna. Isso é verdade. Mas é verdade também que o Deus Justo é também misericordioso. Em sua misericórdia ele avisa ao pecador acerca da miséria em que ele se encontra e também aponta e providencia o caminho para o mesmo ser liberto do terrível e eterno castigo de Deus.

  1. Na manifestação da sua ira, Deus se lembra da misericórdia

No contexto de domingo 4, o pecador, na tentativa de desculpar-se diante de Deus, coloca a justiça de Deus contra a sua misericórdia ao perguntar: “Mas Deus não é também misericordioso?” A resposta bíblica é: Deus é misericordioso e justo (Naum 1.2,3,7). É errado colocar a justiça de Deus contra a sua misericórdia. Em Deus não há divisões ou contradições em seus atributos. Ele é justo e também misericordioso. A justiça de Deus exige que o pecado do homem seja castigado. Sua misericórdia significa que ele não nos dá o que merecemos que é o castigo eterno. Como Deus pode fazer isso? Como ele pode nos libertar da condenação eterna por sua misericórdia sem, ao mesmo tempo, abandonar a sua justiça?

O evangelho nos dá a resposta: Jesus Cristo tomou sobre si o nosso pecado e sofreu na cruz a justa ira de Deus para nos libertar da condenação eterna. Na cruz a justiça e a misericórdia de Deus se encontraram. A ira que Deus derramou sobre seu Filho na cruz trouxe para nós a paz com Deus e a reconciliação. Cristo recebeu sobre si mesmo a justa ira de Deus e, por conseqüência disso, Deus mostrou a sua infinita misericórdia em conceder salvação ao pecador mediante a morte do Seu Filho. O Justo morreu pelos injustos para nos livrar da ira e nos conduzir de volta a Deus.

Ao manifestar sua misericórdia em Cristo, Deus não abandonou a sua justiça. Deus seria justo em lançar todos os pecadores no inferno. Ele também continua sendo justo em mostrar sua misericórdia em Cristo para salvar pecadores. Pois Cristo pagou o preço da redenção. Ele cumpriu a justiça de Deus em nosso lugar. Quem está em Cristo está livre do eterno castigo e tem a vida eterna, mas quem vive no pecado, sofrerá o justo castigo de Deus tanto agora quanto na vida futura.

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.