Leitura: 1 Coríntios 15:35-58
Texto: 1 Coríntios 15:35-58
Amada Congregação de Nosso Senhor Jesus Cristo,
Enquanto chegamos ao fim da primeira epístola de Paulo aos Coríntios, pense na batalha que os missionários tinham no Império Romano no primeiro século. No início desta carta, Paulo começou com uma proclamação da mensagem da cruz: “Nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (1:23). A mensagem do evangelho era “a palavra da cruz,” “loucura para os que se perdem” (1:18).
Se você inventaria uma religião, usando outras religiões como sua base (que é exatamente o que alguns céticos radicais dizem que os fundadores do Cristianismo fizeram), escolher a história de um malfeitor crucificado como seu fundamento não parece o mais inteligente ponto de partida. Os judeus acreditavam que um crucificado era amaldiçoado por Deus. A reação imediata dos gentios seria naturalmente um pouco mais cética. Mas isso era o ponto de partida de Paulo. Ele nunca torceu a verdade para evitar este ensino difícil, para ganhar a confiança dos ouvintes, judeu ou gentio. Foi o fundamento da pregação de Paulo – Jesus, o Cristo, o Messias, e Ele, crucificado.
E na conclusão desta carta podemos ver mais um ponto fundamental da proclamação do evangelho, a segunda parte do palanque desse novo movimento religioso. E esta doutrina não era mais simples ou mais aceitável do que a primeira, a doutrina da crucifixão, para os cidadãos romanos no tempo da igreja antiga. Fica óbvio quando vemos quanto espaço na carta que Paulo dedicou ao assunto da ressurreição do corpo que este ensino era central à mensagem de Paulo também. Mais uma vez, Paulo não esconde este ensino difícil, embora ele poderia ofender os gregos com esse ensino que contradiz a filosofia grega completamente.
Ele insiste que este ponto é central a sua mensagem, as boas novas do reino de Deus – embora a resposta dos gregos seria desgosto e não alegria. O primeiro instinto dos gregos teria sido a rejeição completa deste ensino, porque foi totalmente contrário a cada noção que eles tinham sobre a vida após a morte. Na verdade, a idéia da ressurreição do corpo foi o inverso do que eles acreditavam ser bom, e benéfico.
É difícil entender quão difícil isso teria sido para os coríntios, criados aceitando as categorias e conceitos da filosofia grega. Se você queria iniciar uma nova religião em Roma no primeiro século, a doutrina da ressurreição do corpo teria sido um problema enorme. Se quer apelar à cultura das pessoas, se quer mostrar sensibilidade aos “buscadores,” como muitas igrejas evangélicas estão fazendo hoje em dia para ganhar seguidores, com certeza a mensagem não poderia ser baseada nos ensinos da crucificação e da ressurreição.
A mensagem do evangelho enfrenta desafios bem diferentes no nosso contexto, historicamente e culturalmente. Provavelmente não vai escandalizar pessoas com a idéia da crucifixão, e é provável que não vai encontrar uma pessoa que pensa na ressurreição do corpo como algo repugnante. Mas a afronta da cruz, a afronta da mensagem do evangelho permanece. Não é que pessoas vão aceitar esta mensagem sem problemas, simplesmente porque aquelas barreiras antigas não existem não mais. É que a pecaminosidade humana construi novas barreiras – diferentes das antigas, mas da mesma raiz, da mesma fonte.
E embora isso não é central ao ponto da segunda parte deste capítulo, é algo que precisamos considerar. Porque quando pensamos na proclamação do evangelho nesta carta, em resposta a um grupo de problemas específicas, num contexto histórico específico, o que aconteceu é um milagre. É um milagre que ainda acontece hoje, um milagre que precisamos nos lembrar e considerar quando pensamos em nossa própria posição como igreja, e na nossa vocação no meio de um mundo descrente, hostil, e perdido nas trevas.
Nós presumimos que o evangelho será rejeitado, porque os obstáculos são grandes demais? Acreditamos que não faz sentido falar sobre o evangelho aos outros porque a nossa cultura é absolutamente perdida, sem esperança? Imaginamos que o mundo incrédulo está mais duro do que o mundo de 2000 anos atrás? Que a igreja vai permanecer pequena e insignificante, na nossa comunidade, na nossa nação? Oramos em confiança que a pregação da Palavra produzir frutos, ou pensamos que precisamos fazer isso, enquanto não temos muita esperança que a pregação vai realizar algo importante?
Se este tipo de fatalismo nos guia, devemos seriamente reavaliar a nossa própria forma de pensar. Porque dois mil anos atrás, em Corinto, em Éfeso, em Filipos, em Roma, em Antioquia, em Galácia, em Colossos, o Espírito Santo estava realizando uma obra incrível. Ele estava reformando as imaginações de muitas pessoas – completamente reorientando a sua forma de pensar. A mensagem do evangelho era contra-cultural naquele lugar e naquela época, mesmo que permanece contra-cultural hoje em dia. As barreiras ao evangelho no primeiro século eram grandes, sim. Mas aquelas barreiras foram vencidas – não por poder humano, ou sabedoria humana, mas pelo poder da Palavra proclamada, o poder do Espírito Santo. E na mesma maneira, aquelas barreiras podem ser vencidas, e estão sendo vencidas hoje, porque Deus o Espírito Santo permanece o mesmo.
Era esse poder em que ele confiou, e o poder que está evidente ao longo desta carta. E assim, ele acaba a sua carta chamando seus leitores a mudar sua forma de pensar, a abandonar as suas pressuposições, a transformar seus pensamentos a respeito do que é desejável, e o que eles consideravam indesejável. E ele acredita que esta proclamação tem o poder de mudar vidas. Nós podemos, e nós devemos, fazer o mesmo. E isso deve ser nossa oração, a nossa esperança, e a nossa confiança.
Depois de falar sobre a realidade da ressurreição, Paulo agora explica o “como” da ressurreição. Como a ressurreição pode ser a realidade? Esse foi o maior problema que alguns dos coríntios aparentemente não conseguiram resolver. Paulo começa usando a metáfora da semente. A semente, por todas as aparências, está morta. Como o corpo humano na morte, ela é plantada no solo. É semente – uma bola pequena e dura, que não tem nenhuma semelhança com a planta que está por vir. Mas Deus, a fonte de toda a vida, faz com que essa semente cresça. E o que essa semente se torna não é algo diferente; a semente não é completamente transformada em algo inteiramente novo. Mas o que se torna é algo muito maior do que era.
E assim acontece a ressurreição do corpo. Quando morremos, nossos corpos são semeados no solo – somos semeados em desonra. Nossa vida natural é terminada. Nossa alma é separada do nosso corpo. Nosso corpo físico frágil e fraco morre e eventualmente retorna à poeira da qual fomos levados. Mas nos versículos 42 a 44, Paulo destaca uma série de contrastes. O que foi semeado, nosso corpo “natural,” era perecível – mas se torna imperecível. Foi semeado em desonra, mas será ressuscitado em glória. Foi semeado em fraqueza – mas será elevado em poder. Foi semeado um corpo natural – mas será recriado como um corpo espiritual. Uma grande transformação ocorre.
Mas como a semente que germina e cresce numa planta, é uma transformação, e não a criação de algo completamente novo. Podemos ver isso em versículo 54:
“E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é moral se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória.”
Em Filipenses 3:21, Paulo diz, [O Senhor Jesus] transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.
Transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. O nosso corpo corruptível vai se revestir da incorruptibilidade, como uma mudança de roupa. Vai haver continuidade com o que somos agora, mas haverá também uma mudança incrível, quando a ressurreição é realizada.
Agora sofremos a fraqueza desta vida, irmãos, e por isso isto é uma esperança preciosa. Esperamos o dia em que nossos corpos humildes serão iguais ao corpo glorioso de Cristo. Para aqueles que sofrem com dores crônicas, doenças, fraquezas, é um benção pela qual esperamos com expectativa ansiosa. Até quando estamos saudáveis, quando nós envelhecemos experimentamos mudanças – e estas mudanças não são mudanças que melhoram nossas vidas físicas. Nós abrandamos. Torna-se mais difícil realizar as coisas que fizemos como jovens.
Podemos imaginar que somos jovens. Mas os nossos corpos não podem cumprir as promessas das nossas mentes. E não é apenas a deterioração física, é mental também, como resultado dos assim chamados “processos naturais.” Os processos descritos por Salomão no último capítulo de Eclesiastes começam a acontecer – os maus dias estão chegando: os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer. Até aqueles que não sofrem nesta maneira, imagine a vida eterna, num corpo que nunca vai enfraquecer, num corpo que permanece o seu corpo, mas muito melhor do que o corpo que você tem agora. Essa é a vida da ressurreição que esperamos.
Mas é uma vida ressuscitada que apenas aqueles unidos com Cristo por fé podem antecipar. Porque, mais uma vez, em versículos 47-49, Paulo apresenta uma série de contrastes. O primeiro homem, Adão, foi criado do pó da terra. E como Adão, todos os seus descendentes são terrenos, mundanos. Mas o segundo homem, o segundo Adão, o Senhor Jesus Cristo, é do céu. Todos do pó, unidos com seu antepassado, Adão, são como ele. Mas aqueles “do céu” são como o homem do céu – mudados, transformados, renovados. Todos, à parte de Cristo, carregam a imagem do homem de pó. Mas a fé nos une a Cristo, e isso nos permite a carregar uma nova imagem – a imagem do homem com origem celestial, com caráter celestial.
À parte de Cristo, nós somos mundanos, como pó, à imagem de Adão. Em Adão, todos morrem. Mas através de fé em Cristo, somos mudados. Somos renovados. Nos tornamos uma nova criação. Sim, permanecemos a mesma pessoa, mas somos transformados. Em união com Adão, nós somos simplesmente carne e sangue, a corrupção, como Paulo escreve em versículo 50. Mas quando a nossa lealdade é mudada, quando Cristo se torna tudo para nós, nós somos transformados, nos tornando a incorrupção, imortais. Não sujeito a apodrecer. Não mais dor, não mais tristeza, não mais as lutas contra a carne fraca. Não mais lágrimas. Não mais luta com você mesmo e os seus desejos pecaminosos. Não mais medo da morte. Não mais relacionamentos que quebram. Não mais derrota, nunca, para sempre, eternamente.
Fisicamente, espiritualmente, somos recriados, renovados, capacitados a herdar o Reino de Deus. Precisamos ser mudados para entrar aquele Reino – e essa mudança vem somente por fé em Cristo. Sem Cristo, a dor, a tristeza, as lágrimas, a fraqueza da carne, o pecado, os relacionamentos danificados, a dissolução dos relacionamentos, a derrota, medo da morte são tudo. Pode ignorar estas coisas por um tempo. Pode escapar a realidade usando meios diferentes. Pode comer, beber, e festejar para se esconder dos problemas e desafios da vida. Mas no fim, não há nada mais. Mas em Cristo, há liberdade. Em Cristo, há vitória. Em Cristo, e apenas em Cristo, há um futuro – glorioso, sem fim.a
Nas palavras do Dia do Senhor 22 de nosso catecismo, o crente pode confessar com alegria que depois dessa vida, não apenas a minha alma será levada imediatamente para Cristo, meu Cabeça, mas que também essa minha carne, ressuscitada pelo poder de Cristo, será reunida à minha alma e feita à semelhança do corpo glorioso de Cristo. E, Já agora sinto em meu coração o princípio do gozo eterno, pois depois dessa vida obterei a perfeita bem-aventurança que o olho jamais viu, nem o ouvido ouviu, nem o coração humano pode conceber, uma bem-aventurança para se louvar a Deus eternamente.
Hoje nosso foco está naquela verdade. A mensagem àqueles que não submeteram a Cristo é essa: Se você não abandonar seu egoísmo, se você recusar se humilhar diante do Rei, nada disto será seu. Não existe esperança de glória eterna. Não existe esperança de bênçãos ilimitadas. A única coisa em seu futuro é o castigo eterno que você merece como rebelde contra o Altíssimo Rei do Universo.
E a pergunta é: Por quê? Por que rejeitar esta mensagem? O que você tem a ganhar? Setenta ou oitenta anos de suposta liberdade? Uma breve vida mortal, pensando em si mesmo como um agente livre, que pode tomar suas próprias decisões, que pode fazer o que você quer? Algumas breves décadas de escravidão enganosa disfarçada de liberdade? Isso é tudo? Você vai aceitar isso, e rejeitar o Cristo, e tudo que Ele tem a oferecer, por causa da alguns poucos anos de prazer falso e fugaz? Considere a eternidade. Considere o custo. Considere a realidade da sua situação. Considere a ressurreição.
E para nós cristãos, precisamos lembrar por que Paulo estava se concentrando no fato da ressurreição, e os meios pelos quais essa ressurreição pode acontecer, neste momento em sua carta aos coríntios. E vemos isso em versículo 58, a declaração conclusiva da carta:
“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.”
“Portanto,” ele diz. Por causa de tudo o que escrevi até agora, à luz da verdade que foi revelada mais uma vez, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor.
Sede firmes e inabaláveis – essa exortação nos lembra da afirmação que Paulo fez no ínicio deste capítulo, em versículo 1: No evangelho que recebestes, perseverais. “Sede abundantes na obra do Senhor” – o que isso significa? Podemos ver outros lugares nesta carta onde Paulo usa a mesma terminologia – como em 14.12, onde ele diz aos coríntios, “Procurai progredir para a edificação da igreja” – é a mesma coisa – “Sede abundantes para a edificação da igreja.” Em 9.1, Paulo fala sobre a igreja de Corinto como sua obra no Senhor, e ao longo da carta ele fala sobre seu trabalho, e sobre o trabalho de outros na edificação da igreja, fazendo a obra do Senhor. Então, quando Paulo diz, “Sede sempre abundantes na obra do Senhor,” ele está pedindo aos coríntios que se dediquem a edificar a igreja, o corpo de Cristo. E finalmente, por causa de ressurreição, por causa daquela verdade gloriosa, eles poderiam saber que, no Senhor, o trabalho deles não é vão.
A eternidade é o que faz o trabalho desta vida significativo, importante. Um bom entendimento e valorização da vida eterna, a ressurreição do corpo, não é uma maneira em que podemos escapar os problemas desta vida, uma história boa para nos ajudar a esquecer a tristeza e a dor desta vida por um tempinho. Não buscar entendimento da ressurreição, não regozijamos na ressurreição, não meditamos na ressurreição, em vez de sermos ativos nesta vida. Na verdade, a ressurreição é o que nos motiva a ser ativos nesta vida. Saber a glória da ressurreição, saber que a nossa existência não tem fim quando nós expiramos os nossos últimos suspiros, deve nos motivar a ação – a dar tudo para fortalecer a igreja, para nos esforçar em confiança por causa de Cristo e o Seu Reino – e para fazer tudo isso com ousadia, com alegria.
Podemos ficar firmes na mensagem que nós já recebemos, podemos ficar firmes na verdade, inabaláveis, porque estamos sendo transformados na imagem do homem do céu. Estamos sendo preparados para a transformação, o momento em que nós vamos ser mudados. Estamos sendo preparados para a eternidade, para o Reino do céu. Essa transformação começa aqui e agora, enquanto o Espírito Santo faz sua obra dentro de nós. E essa transformação é absolutamente necessária para entrar na eternidade.
Sabendo a glória que o povo de Deus espera, tendo certeza da vitória, podemos abundar no trabalho do Senhor. Podemos abundar no trabalho do Senhor em nós, como membros do corpo de Cristo, e podemos abundar no trabalho do Senhor por meio de nós, enquanto contribuímos ao crescimento e desenvolvimento e saúde deste corpo. E, em fim, podemos saber, até quando as lutas da vida podem aparecer esmagadoras, ou desencorajadoras, ou podem nos levar a frustração ou um sentido de futilidade, especialmente quando pensamos no trabalho do Senhor no crescimento da Sua igreja, que qualquer trabalho que nós fazemos em nome de Deus não será feito em vão. Vai realizar algo para os propósitos de Deus, quer o vejamos, ou entendamos, ou não.
Em Cristo Jesus, a vitória foi ganha. Tragada foi a morte na vitória. A morte não tem aguilhão para o povo de Deus não mais. Nós já recebemos a vitória na maior batalha desta vida. Não ganhamos nós mesmos, mais é dada a nós, no nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, damos graças ao Senhor. Qualquer desafios que temos, podemos ficar firmes, imóveis, inabaláveis. Podemos abundar no trabalho do Senhor.
Sabemos que nosso trabalho no Senhor não é em vão. Em Cristo, somos mais que vencedores. Sabendo isso, como o povo de Deus, precisamos viver como mais que vencedores! Os coríntios precisavam de uma nova forma de pensar, formada pelo evangelho, e precisamos ter nossa forma de pensar reformada também. Não devemos ser derrotistas. Não devemos ficar satisfeitos quando não estamos abundando no trabalho do Senhor. Porque nós vivemos, esperando o dia quando a mudança que já começou dentro de nós será completa, quando a última trombeta vai ressoar, quando Cristo volta, quando, num momento, num piscar de olhos, a morte é tragada pela vitória. O Senhor acelerar aquele dia. Vem, Senhor Jesus!
Amém.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.