Tradição?!

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Tradições! O que vem à mente quando você ouve esta palavra? Isso lembra coisas velhas,  chatas e murchas ou práticas valiosas e significativas? Seja lá o que você pensa delas, muitas coisas que você faz são formadas pela tradição. As tradições podem determinar o que você faz em casa, na escola ou no trabalho. Tomemos, por exemplo, uma noite como esta. Ela está cheia de muitas tradições. Por que vocês usam esses vestidos?

A palavra tradição tem como raiz a ideia de que algo é entregue. Como em uma corrida de revezamento em que você entrega o bastão para o próximo corredor. Na tradição, certas coisas são entregues de uma geração para a outra. Portanto, esta palavra é intimamente relacionada com o ensino. As tradições nos dizem que não somos os primeiros a fazer algo. Mas, que outros fizeram antes de nós.

Coloquei um ponto de interrogação e um ponto de exclamação depois da palavra tradição. Algumas pessoas gostam de colocar um ponto de interrogação por trás de toda tradição. Elas dizem que deveríamos ter a liberdade de tomar nossas próprias decisões; só assim seremos autênticos. Outros colocam um ponto de exclamação depois  das tradições. Você não pode mudá-las! As tradições lhes dão uma sensação de segurança. Eu devo procurar um caminho intermediário tendo ambos, um ponto de interrogação e um ponto de exclamação? Não! Usei o ponto de interrogação para indicar que é realmente bom perguntar: “Por quê?” mas adicionei o ponto de exclamação para mostrar que a lição que aprendemos com essa pergunta torna a tradição valiosa.

Não, não estou falando das tradições desta cerimônia. Uso a palavra tradição como referência aos ensinamentos que você recebeu. O que foi entregue a você? Você recebeu educação reformada. Você foi treinado na tradição reformada. Por quê? Por que seus pais o enviaram para uma escola reformada canadense? Afinal, foi e é uma escolha que teve muitas consequências para eles (pense apenas no aspecto financeiro) e para você (todos os dias você teve que viajar mais longe). Por que essa escolha? E você fará isso também quando, se Deus quiser, tiver filhos? Você vai continuar a tradição?

Eu pergunto isso porque você e eu chegamos a um marco em nossas vidas quando se trata de educação reformada. Você completou todos esses anos de treinamento e agora segue em frente. Está claro para você por que esse “bastão” foi dado a você e você o repassará? Eu também faço a pergunta porque eu também cheguei a um marco. É a última vez que posso fazer um discurso de formatura como pai. Nosso filho mais novo está se formando. Muitos anos nos envolvemos e nos beneficiamos da educação reformada.

Por que fizemos isso? Ao fazer a pergunta, olho para trás em minha família. Meu avô era diretor do que então se chamava uma Escola com uma Bíblia. Isso foi logo após o povo reformado da Holanda finalmente ter recebido a liberdade de ter suas próprias escolas. Ele passou pelos anos 1930! Aqueles não foram tempos fáceis. Meu pai também era diretor. Isso foi depois da Libertação de 1944. A pergunta que ele enfrentou foi: “Que impacto os eventos da igreja tiveram na educação reformada?”

Eu cresci na tradição reformada. Não só olho para duas gerações atrás, mas também olho para o futuro. Enquanto nossa filha caçula está se formando, nosso neto mais velho começou o Jardim de Infância na Escola Maranatha de Fergus. Cinco gerações envolvidas na educação reformada. Tradição? Sim, ela foi entregue a nós pelas gerações anteriores, e nós a entregamos agora também, mas precisamos estar dispostos a pensar sobre essa tradição e poder responder à pergunta ‘Por quê?’ Para que juntos possamos colocar um ponto de exclamação depois dela.

Para colocar esse ponto de exclamação, quero examinar três textos. Eles mostram que a tradição da educação reformada deve ser

  1. Viva,
  2. Cristã,
  3. Comum.

Viver
O primeiro texto é Josué 4:20-24. O povo de Israel é instruído a fazer um monumento de pedras; uma tradição é iniciada lá. As pedras vão durar mais do que os seres humanos. Portanto, as gerações vindouras terão motivos para falar sobre essas pedras. “Pai, por que elas estão lá?” A resposta seria clara: “Porque este é o lugar onde Israel atravessou o Jordão”. No entanto, observe que, na explicação do pai, a criança faz parte do que aconteceu no passado. “O SENHOR, teu Deus, secou o Jordão diante de ti, até que passasses.” Você! Essa discussão entre pai e filho pode ocorrer 200 anos depois, mas ainda é: você atravessou. Esse pai precisa fazer da criança uma parte da tradição. É uma tradição viva e deve ser mantida viva. É a obra do seu Deus.

Tradições reformadas são importantes, mas temos que explicar quais são seus significados. Cada geração precisa torná-las próprias novamente e precisa entender por que fazemos essas coisas. Tem que ser uma tradição viva; caso contrário, acabamos no tradicionalismo. Caso contrário, vocês preservam a concha externa, mas o interior é oco. Vocês foram ensinados em uma escola reformada do Canadá, uma tradição maravilhosa, mas deve ser uma tradição viva. Peço que vocês continuem pensando sobre isso. Desafio vocês a tornarem a tradição sua, para poderem explicar aos seus filhos. Graduandos, vocês sabem por que essa tradição é viva? Porque o SENHOR, teu Deus, é o Deus vivo. Ele fez de vocês o seu, não através das águas do Jordão, mas pelo seu sangue. É por isso que podemos manter viva essa tradição.

Cristã
Isso nos leva ao texto número 2, Colossenses 2: 6-8. Paulo escreve: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele,” Isto é seguido por um aviso para não sermos levados cativos através de vãs filosofias enganosas. Essa adição mostra a importância deste texto para o ensino. O ensino reformado tem como objetivo ajudá-lo a discernir, para que não sejam levados cativos pela filosofia e vã sutileza. “Assim como você recebeu a Cristo Jesus.” Como os colossenses receberam Jesus Cristo? Como Senhor. O que isso significa? Tudo é governado por ele. Nele todas as coisas se mantêm juntas (ver Colossenses 1:17). Para ensinar a discernir sabedoria, Cristo deve estar no centro. Toda área temática deve estar sujeita ao Senhor Jesus Cristo.

Existe ainda outro elemento. O Senhor, a quem você deve obedecer em todas as áreas da vida, é o Senhor que você conhece como cabeça da igreja (ver Colossenses 1:18). Quando você foi batizado, o Senhor não apenas disse: “Vocês são meus;” seus pais também se comprometeram a treiná-los na doutrina de Cristo, na fé cristã, conforme resumida pela igreja. Assim, temos escolas reformadas canadenses, unindo lar, escola e igreja, para que você possa continuar na tradição cristã e estar equipado para cumprir sua tarefa de profeta, sacerdote e rei. Se perdermos essa conexão viva com Cristo, assim como o Senhor da igreja governa sobre tudo (Ef 1:22), a educação reformada perderá seu significado.

Comum
O texto número 3 é de Hebreus 2:13b. Escolhi esse texto porque quero enfatizar que a educação da aliança faz parte da comunidade da aliança. Eu acredito que este é um aspecto que precisamos ser lembrados em nossa situação.

Mas a educação da aliança não é a respeito de pais e filhos? Certamente, essa é realmente uma parte importante da educação da aliança, mas há muito mais. Pois o batismo não é apenas um sinal e selo que mostra que vocês fazem parte da aliança, que vocês pertencem a Cristo, mas também mostra que vocês foram incorporados à igreja. Quando o Catecismo de Heidelberg pergunta no dia do Senhor 27: “Os bebês também devem ser batizados?” Então a resposta é: “Sim, eles e os adultos pertencem à aliança e à congregação de Deus”. Observe a conexão entre a aliança de Deus e a congregação. Vocês e seus pais pertencem à comunidade de aliança de Deus. Foi nessa comunidade que vocês receberam o sinal da aliança.

Eu poderia ter escolhido muitos textos que mostram esse aspecto comunitário, mas escolhi Hebreus 2 por causa de um discurso da Dra. Jelle Faber na abertura da Escola Guido de Bres em 1975. Vamos começar com Hebreus 2:13b. Lemos lá: “Eis aqui estou eu e os filhos que Deus me deu”. Quem é o “eu”? Ele é Cristo. Cristo não tem vergonha de chamar humanos pecadores; ele não tem vergonha de chamar vocês e eu de irmãos e irmãs. A carta aos hebreus, no entanto, cita Isaías 8. Lá lemos: “Aqui estou eu, e os filhos que o SENHOR me deu.” Isaías teve dois filhos, ambos com nomes muito estranhos. É até possível que a palavra “filhos” se refira aqui aos alunos de Isaías (ver 8:16). Seja qual for o caso, o ponto é o seguinte: Cristo assume as palavras de Isaías. Isso significa que Cristo coloca seus braços em volta desses filhos ou estudantes de Isaías e diz: “Aqui estou eu e os filhos que Deus me deu”. Ele afirma que essas crianças são dele. Cristo coloca seus braços em volta de vocês e de todos os nossos filhos e diz: “Pai, aqui estou eu e os filhos que tu me deste”. Porque Cristo faz isso, devemos fazê-lo também.

Os filhos nascidos na aliança de Deus pertencem à congregação. E, por esse motivo, a educação em aliança ocorre nesta comunidade. Ela é apoiada pela comunidade e tem como objetivo ajudá-los a funcionar nessa comunidade. Ela envolve todos nós: pais, membros solteiros, casais sem crianças, idosos, casais sem filhos. Juntos, damos o nosso apoio. Se perdermos esse aspecto comunitário, colocamos em risco a vitalidade da educação reformada.

Tradição?! Graduandos, não tenham medo de perguntar “Por que”? Vejam a maravilhosa resposta que recebemos. Coloquem o ponto de exclamação. Façam vocês mesmos e, no devido tempo, entreguem o bastão. Sim, vamos colocar juntos um ponto de exclamação, não por causa do que vocês ou nós fizemos ou podemos fazer. É um ponto de exclamação que se baseia na imensurável fidelidade da aliança de nosso Deus e Pai.


Tradutor: Marcel Tavares

Revisor: Thaís Vieira

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