Por que uma Federação de Igrejas?

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À parte de algumas assim chamadas congregações “independentes”, a maior parte das igrejas faz parte de uma federação ou denominação. Aqueles que não são estranhos em Jerusalém sabem que a cooperação entre igrejas em um regime federativo tem experimentado certa tensão hoje em dia. Esta é uma simples conclusão, advinda de afirmações dos membros de igrejas e até mesmo ministros. A “federação de igrejas” significa pouco ou nada para muitos jovens membros. Eles vivem em sua própria congregação e sua atenção está restrita à ela. 

Também é possível notar na maneira como as pessoas falam de sua própria congregação. Falam sobre a “Igreja Ebenezer”, ou “Igreja Peregrina”, mas não sobre “a Igreja Reformada em…”. Esta tendência está provavelmente relacionada ao estilo de vida moderno no qual as pessoas são guiadas por seus sentimentos. A pessoa moderna não está interessada em conexões mais amplas, pensa em escalas menores, e não se preocupa com grandes organizações. 

Contudo, as Igrejas Reformadas vivem em uma federação de igrejas. Seria isto algo arbitrário, que pode ser abolido quando se experimenta como um impedimento ao florescer da vida congregacional local? Onde a Bíblia diz que igrejas devem juntar-se desta maneira? 

Discutiremos estas questões neste artigo. 

Fundamentos para estar junto

Começo a tratar sobre a razão fundamental para o “estar junto” das igrejas em uma federação nas características da igreja. Nos círculos reformados – até onde pesquisei – não temos nos dado conta dos fundamentos para o ajuntamento de congregações em uma federação de igrejas. Na maioria das vezes, argumenta-se em seu favor do ponto de vista da comunhão dos santos tal como é confessada na Resposta 55 do Catecismo de Heidelberg. A unidade comum em Cristo sobre a qual a Resposta 55 trata e a unidade entre todos existente nele levam à conclusão inescapável de que congregações devem expressar esta unidade também na forma de uma federação de igrejas. Pois a comunhão dos santos vai além de uma congregação local.¹

Creio que há mais a ser dito sobre o assunto e que devemos enxergar, especialmente nas características da igreja, que o ajuntamento como igrejas em uma federação é um privilégio e uma obrigação. Em minha opinião, a confissão no Credo Niceno, “cremos na igreja una, santa, universal e apostólica”, implica uma federação de igrejas. Pois estas características da igreja são dons que contêm, ao mesmo tempo, uma obrigação! 

A unidade da Igreja 

Viver juntos como igrejas nos lembra em primeiro lugar da unidade da igreja. Paulo fala sobre “um corpo” (1 Co 10:17) e sobre a “unidade do Espírito” (Ef 4:3). Jesus salvará “seu povo” dos seus pecados (Mt 1:21). E Simão Pedro descreveu à igreja como o próprio Deus determinou formar “um povo” para si mesmo para glorificar seu nome (Atos 15:14).

A unidade da igreja não é primariamente uma questão organizacional, mas profundamente espiritual. Os crentes são um em Cristo e, portanto, por esta razão, também têm unidade entre si (cf. Resposta 55 do Catecismo de Heidelberg).

Parafraseando C. Trimp: primeiro há união com Cristo e, desta união, vem a comunhão com todos. Autores reformados têm dito corretamente que viver junto em uma federação de igrejas é, em substância, uma questão de comunhão dos santos. Esta comunhão existe primariamente na igreja local, mas não está restrita à ela. 

Quando há outras igrejas que estão unidas conosco no mesmo Cristo e na mesma fé, temos o dever de procurarmos uns pelos outros e dar forma a essa unidade. O que é um em Cristo também precisa manifestar-se assim.² 

Portanto, quem quer que confesse que há uma igreja Cristã, tem o dever de procurar esta união, regional e nacionalmente, com igrejas que também servem a Cristo de acordo com sua Palavra. O que a Resposta 55 do Catecismo de Heidelberg confessa aplica-se aqui também: há uma unidade que é acompanhada pela comunhão e que deve ser vivida. 

A Catolicidade da Igreja 

A federação de igrejas também está enraizada na catolicidade da igreja. Confessamos uma igreja “universal”. O Artigo 27 da Confissão Belga afirma que a igreja não está confinada a um lugar em particular, mas está espalhada e dispersada pelo mundo inteiro. 

É inegável que o Novo Testamento muitas vezes fala sobre a igreja local (1 Ts 1:1; Ap 1:4, 11). Mas ele também usa a palavra “igreja” (ekklesia) para a igreja universal de Cristo (Ef 1:22; Cl 1:24). Podemos ver em Mateus 16 e 18 como o Novo Testamento fala alternadamente sobre a igreja. Quando o Senhor Jesus diz que irá edificar a sua igreja sobre a rocha de Pedro, a referência é claramente à igreja universal (Mateus 16:18). Mas em Mateus 18:17, a respeito de um pecador impenitente, a referência é claramente à igreja local. 

O modo como a Escritura trata sobre a igreja nos ensina a olhar além de nossa própria congregação. Há também uma igreja universal! A igreja local é de fato uma “igreja de Cristo” mas não é independente do povo de Cristo na região e nação nas quais a igreja existe. É realmente a igreja universal naquele lugar e está unida aos santos na região, nação, e de fato em todo o mundo. 

Lemos sobre essa unidade na epístola de Tiago, que a endereça às “doze tribos na Dispersão entre as nações” (Tiago 1:1). Em sua primeira carta, Pedro escreve “Aos eleitos de Deus, estrangeiros no mundo, dispersados no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1 Pe 1:1). Paulo dirige-se “às igrejas na Galácia” (Gl 1:1).

Aqueles que confessam uma igreja “universal” ou “católica” não podem evitar a comunhão com as igrejas na região e na nação! 

A Apostolicidade da Igreja 

Com os nicenos, também confessamos uma igreja apostólica. A igreja encontra-se sob a doutrina dos apóstolos. Com seu testemunho sobre Jesus Cristo, formam o fundamento da igreja (Ef 2:20; Ap 21:14). Atos 2:42 diz sobre a igreja em Jerusalém: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos”. Isto permanece a grande marca da igreja. É por isso que Lutero pôde dizer: “Onde está a Palavra, aí está a igreja”. As ovelhas de Cristo ouvem a voz do Bom Pastor. Sua Palavra é a regra delas. 

Mas esta Palavra não veio apenas à igreja local (1 Coríntios 14:36). As igrejas possuem-na em comum. Isto é demonstrado pela maneira como os apóstolos dirigem-se às igrejas em suas epístolas. E aprendemos a partir de Colossenses 4:16 que esta epístola foi lida também “na igreja dos laodicenses”. 

Porque a Palavra apostólica foi dada às igrejas em comum, elas também têm de permanecerem leais a esta Palavra e,

juntas, “lutarem pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 3). Portanto, a apostolicidade da igreja impõe uma obrigação às igrejas para “edificarem-se na fé santíssima” (Judas 20). 

A Santidade da Igreja 

Cremos em uma igreja “santa”. O viver juntas, federalmente, como igrejas, também vem da santidade da igreja. Esta santidade pertence à igreja local (1 Co 2: 3:17 [?]) mas também às igrejas, juntas (1 Pe 1:2; 2:9). Juntas, compartilham a santificação pelo Espírito (1 Ts 4:7; 1 Pe 1:2). É também por isso que há o chamado comum apoiar uns aos outros nesta santificação e para resistir à intrusão do pecado na vida da igreja. 

Juntas, as igrejas devem esforçar-se para ser uma “nação santa” (1 Pe 2:9) e cuidar para que mantenham-se incontaminadas pelo mundo (Tg 1:27). Igrejas têm a responsabilidade, umas para com as outras, de preservar a santidade da vida! Isto é evidente no que o Concílio de Jerusalém disse aos gentios, que vieram a Deus, para que se mantivessem afastados (Atos 15). A igreja em Jerusalém serviu aos cristãos de outros lugares com respeito a uma vida santa na prática. As muitas passagens no Novo Testamento que nos ordenam a cuidar uns dos outros (1 Ts 5:14; Hb 3:12-13) vão além dos irmãos e irmãs locais! 
Fica claro que a questão de uma federação de igrejas não é uma questão arbitrária em que se pode ser a favor ou rejeitar. Manter contato uns com os outros é resultado do que a Escritura diz sobre a igreja e o que confessamos sobre ela. Quando leva-se a sério as características da igreja como privilégios e obrigações, podemos dizer que no nome de Deus somos obrigados como igrejas a trabalhar juntos. A maneira como essa cooperação deve se dar é uma outra questão. Mas que deve haver correspondência, é algo indiscutível em minha opinião.

Algumas Referências da Escritura 

O Novo Testamento nos mostra que no tempo dos apóstolos as igrejas procuravam e ajudavam umas às outras. Elas entenderam que a união em Cristo leva à comunhão, umas com as outras. 

Profetas iam de Jerusalém a Antioquia para ajudar na proclamação da Palavra (Atos 11:27). Os irmãos em Antioquia decidiram enviar ajuda financeira aos cristãos que viviam na Judéia (Atos 11:29). Mais tarde, as igrejas na Macedônia e Acaia também contribuíram aos pobres em Jerusalém (Rm 15:26; 2 Co 8:4-5). Também lemos sobre um tipo de atestado eclesiástico: os irmãos em Éfeso deram a Apólo uma carta de recomendação aos discípulos na Acaia (Atos 18:27). 

Também havia consultas entre os irmãos: as igrejas na Macedônia juntas escolheram um irmão para ir com Paulo receber uma coleta para Jerusalém (2 Co 8:18-19). Quando surgiu uma diferença de opinião acerca da necessidade da circuncisão em Antioquia, a igreja consultou os apóstolos e presbíteros em Jerusalém sobre a questão (Atos 15:2).

Sobre a questão da conduta das mulheres na igreja, Paulo instrui aos coríntios sobre o costume “em todas as congregações dos santos” (1 Co 14:33) e sobre a prática “nas igrejas de Deus” (1 Co 11:16). Daí podemos deduzir que também a respeito da organização da vida da igreja local há uma medida de unidade entre as jovens igrejas. O apóstolo exorta aos coríntios para que não saiam da linha na questão da conduta das irmãs nos cultos. 

Não encontramos uma federação de igrejas no Novo Testamento como a mantida pelas igrejas reformadas hoje. Mas está claro que as igrejas, nos tempos apostólicos, entenderam que estavam unidas e que carregavam a responsabilidade de prover umas às outras todo tipo de ajuda e

assistência. A “unidade do Espírito” (Ef 4:3) era ativamente mantida e praticada. As igrejas davam a si mesmas a Cristo e portanto também umas às outras (2 Co 8:5). É impressionante que Paulo caracterize a assistência provida pelas igrejas na Macedônia como “comunhão” (koinonia) ministrada aos santos (2 Co 8:4). Esta prática juntou-se à comunhão dos santos! E isto alcança o coração de todo o trabalho que as igrejas fazem com e pelas outras. 

Nosso Governo da Igreja 

O Artigo 30 da Confissão Belga diz que a igreja deve ser governada “de acordo com a ordem espiritual que o Senhor Jesus nos ensinou em sua Palavra”. Isto se aplica à igreja local, mas também à maneira na qual a relação entre igrejas é regulada. 

É verdade que a Escritura não nos provê um projeto para o último item. Mas encontramos princípios fundamentais no Novo Testamento que devem ser levados em conta no governo da igreja. Menciono o seguinte: as igrejas estão sujeitas à cristocracia. Cristo é seu rei e sua Palavra governa todas as coisas. O governo da igreja é inconfundivelmente confiado ao colegiado de presbíteros. O caráter presbiteriano da igreja deve moldar seu governo. As igrejas foram dadas umas às outras. São responsáveis umas pelas outras e servem umas às outras para serem verdadeiras igrejas de Cristo. Sustentam umas às outras no que a igreja deve ser: santa, apostólica, universal, e una. Ao fazer isto, nenhuma igreja deve sobrepujar-se às outras. A comunhão é voluntária: as igrejas se procuram porque a união com Cristo as leva a procurar comunhão entre si. 

Isto implica que uma federação de igrejas pode nunca ser organizada de tal forma que as igrejas locais tornem-se ramos de uma única igreja nacional. De acordo com o Novo Testamento, cada igreja local é verdadeiramente uma igreja de Cristo.
Mas

isto não significa que igrejas locais podem permanecer sozinhas. Igrejas numa região ou país devem ser também “de uma mente” e devem pôr sua unidade em Cristo em prática. 

Todos estes princípios fundamentais devem ser levados em conta num governo de igreja se se deseja dar à relação entre igrejas uma forma que esteja de acordo com “a ordem espiritual com que nosso Senhor nos ensinou em sua Palavra”. A beleza do governo da igreja nas igrejas reformadas é que reflete claramente estes princípios. Por um lado a independência da igreja local é respeitada, por outro vê-se constantemente a unidade ou as igrejas são reconhecidas. K. Schilder definiu a relação entre as igrejas como “uma organização de mútua assistência”. Isto é aparente em nosso governo da igreja. 

Assembleias Eclesiásticas 

O Artigo 1 de nossa ordem eclesiástica pressupõe que para a boa ordem na igreja de Cristo é necessário que haja assembleias eclesiásticas. Estas assembleias são o consistório, classis, sínodo regional e geral. O consistório é uma assembleia com seu caráter único. É uma assembleia de oficiais uma reunião de presbíteros que trabalham juntos, colegialmente, e que, juntos, têm responsabilidade pela congregação. 

É diferente com um presbitério ou um sínodo. Neles, igrejas se juntam através de seus delegados. Os membros não participam por causa de seu ofício, mas porque foram delegados pelas igrejas. Assim, distintamente do consistório, estas não são assembleias de oficiais. Nós as chamamos de “assembleias maiores”, mas isto não significa que são superiores aos consistórios. A palavra “maiores” indica simplesmente que mais de uma igreja estão presentes. 

É importante que, hoje, apreciemos

novamente o caráter das maiores assembleias, especialmente aquela de um sínodo geral. Pois, em nossas igrejas, muito do que é dito sobre os sínodos é incorreto. As pessoas veem um sínodo geral como um tipo de autoridade (mais alta) que se intromete de uma forma irritante em assuntos que as pessoas das igrejas locais prefeririam tratar elas mesmas. Mas o sínodo não é composto de personagens importantes. Em vez disso, é um encontro em que as igrejas se reúnem para apoiar umas às outras e ajudar umas às outras a manter a “boa ordem”.

Por exemplo, o que um sínodo geral decide sobre liturgia e trabalho missionário são decisões que as igrejas alcançaram juntas. Assim, são assuntos em que as igrejas locais estão completamente envolvidas.

A cerca da autoridade do sínodo, as igrejas têm concordado acerca do artigo 31 do regimento: “…o que quer que for acordado sob o voto da maioria deve ser considerado como estabelecido e obrigatório, a não ser que seja provado esteja em conflito com a Palavra de Deus ou com o Regimento”. A história deste artigo deixa claro que diz respeito a mais do que simplesmente um apelo.³ A porção citada do artigo 31 estabelece a validade das decisões eclesiásticas. Igrejas locais devem tratar as decisões de sínodos como obrigatórias a menos que estejam em conflito com a Palavra de Deus ou o regimento. Consistórios não conferem efeito legal às decisões do sínodo, mas prometeram aceitá-las como válidas e a aderir a elas. É, fato, verdadeiro o que o Professor J. van Bruggen escreveu:

“Acordo é acordo!” Isto é mais aparente quando nos damos conta de que cada delegação a uma assembleia maior é acompanhada de uma carta de credenciais em que a autoridade encarregada explicitamente promete, mais uma vez, considerar as decisões do presbitério ou sínodo como obrigatórias, a não ser que…

Em minha opinião, já é hora de firmemente nos opormos a falas depreciativas cada vez mais comuns sobre decisões eclesiásticas. Isto se torna aparente quando as pessoas falam sobre as “regras” que um sínodo decreta. Não se trata de regras, mas sobre decisões válidas que as igrejas, juntas, têm tomado em suas assembleias maiores na convicção de que servem à edificação e à vida das igrejas! Se as pessoas, localmente, pensam que uma assembleia maior tem tomado decisões erradas ou hierárquicas, o regimento dá o direito de trazer o assunto pela via eclesiástica e apelar à ela. Nenhuma igreja é forçada a agir contra sua consciência. Mas o que foi validamente decidido, deve (sujeito ao “a menos que” do artigo 31) ser cumprido.

Sem Autonomia

Algumas pessoas hoje entendem as decisões de um sínodo geral como que em conflito com a “autonomia” da igreja local. Mas toda esta discussão sobre “autonomia” é doentia! Uma igreja local é certamente independente mas, certamente, não é autônoma. Que palavra horrível em seu sentido literal! Cristo rege com sua Palavra e isto implica que as igrejas têm uma mente, nele. Elas foram dadas umas às outras, para todas as outras. Assim como precisamos uns dos outros na congregação, com o fim de sermos igreja juntos, assim também, como igrejas irmãs, precisamos umas das outras para que, juntas, possamos permanecer com o Bom Pastor e com a sua Palavra.

Quando Schilder define o laço eclesiástico como “uma organização de mútua assistência”, está precisamente correto. Não há igrejas autônomas; apenas igrejas que têm sido dadas às outras igrejas, e que precisam das outras para assegurarem a “manutenção da boa ordem na igreja de Cristo” (cf. art. 1).

Em minha opinião, por trás da prática de nossas assembleias eclesiásticas (presbitérios, sínodos) também há uma

humildade cristã. Ela é baseada no entendimento de que a igreja local não sabe tudo e que a Palavra de Deus não se originou nela (cf. 1 Co 14:36). Daí as igrejas entendem que o chamado: “descubram o que é do agrado do Senhor” (Ef 5:10; cf. 1 Ts 5:21) é expresso no plural, isto sem falar sobre outras exortações no Novo Testamento.

Por esta razão, assembleias maiores existem para deliberar sobre assuntos vitais de doutrina, liturgia, trabalhos missionários, treinamento para o ministério e exames para admissão ao ministério, além da disciplina cristã. As igrejas lutam juntas nestas assembleias para seguir a vontade do Senhor e para ajudar umas às outras a manter todas as coisas de acordo com a Palavra do rei da igreja.

Isto também se aplica quando decisões têm de ser tomadas acerca do que deve ser lido e cantado em nossos cultos e sobre o contato com uma outra igreja de outra federação de igrejas. Igrejas locais não devem entender isto como uma padronização da parte de uma “autoridade maior”. As igrejas têm, juntas, decidido o que é apropriado e inapropriado para uma igreja local fazer em tais circunstâncias. Conquanto o artigo 31 permaneça válido, as igrejas devem aderir ao que as igrejas têm decidido em comum.4

“Acordo é acordo” não é um formalismo rígido, mas é derivado do mandamento de nosso Senhor: “Seja o teu ‘sim’, ‘sim’…” (Mt 5:37). Se os consistórios não aderem mais a isto com respeito às decisões das assembleias maiores, como, então, podem os presbíteros admoestar irmãos e irmãs sobre o que prometeram em sua pública profissão de fé?

Não podemos trivializar as falas depreciativas de que tratei. Porque o que está envolvido é nada mais do que fidelidade a nossa promessa. Também, no labor eclesiástico, devemos “deixar a falsidade e falar a verdade ao nosso

próximo” (Ef 4:25). É assim que devemos nos comportar na igreja de Cristo! Em um mundo em que a mentira impera, a igreja deve ser “o pilar e fundamento da verdade” (cf. 1 Tm 3:15).

Há alguns hoje em dia que discutem a favor de mais liberdade de ação para as igrejas locais. Às vezes trazem “todo o nosso sistema eclesiástico” à discussão. Isto não é uma calamidade, conquanto adiram a respeito do que as igrejas têm concordado juntas: “acordo é acordo”. E conquanto tenham a humildade para seguir pelo caminho eclesiástico e afirmar o entendimento de que as igrejas têm-se em alta estima. Pois os que assim advogam também não sabem tudo. No fim, o julgamento sobre a  questão permanece com as igrejas reunidas no sínodo geral (cf. art. 76).

E isto também está enraizado na afirmação “com todo os santos” (Ef 3:18). É a essência do laço entre as igrejas, que é um presente de Cristo, e também um trabalho a ser feito.

Notas:

¹ Veja, por exemplo, S. Greijdanus, Schriftbeginselen van het kerkrecht inzake meerdere vergaderingen, (Enschede: no date), p. 28; J. Kamphuis, Verkenningen III (sem data), p. 82. 

² F.L. Rutgers, De geldigheid van de oude kerkenordening der Nederlandsche gereformeerde kerken, reimpressão (Amsterdam-Pretoria: 1971), afirma que o primeiro sínodo da igreja Reformada Holandesa se deu em Emden, em 1571, sob o fundamento da unidade espiritual: “esta unidade veio primeiro; e porque toda a aparência exterior depende dela, quando o Sínodo se reuniu não apenas o reconheceu, mas também a salvaguardou tanto quanto possível” (pp. 16-17). 

³ J. Kamphuis, Kerkelijke besluitvaardigheid (Groningen: 1970), escreveu sobre o artigo

31: “O que é mais surpreendente é que [o Sínodo de] Middelburg [1581] juntou duas regulamentações formuladas por seu predecessor. A primeira parte lida com o direito à apelação, a segunda com a validade das decisões eclesiásticas. É importante notar que a segunda parte foi adotada como uma regulamentação separada em Dordrecht, 1578. O que deixa claro que o artigo 31 não se trata apenas das questões de apelação, mas também com a validade das decisões eclesiásticas em geral (p. 51). 

4 Que as igrejas também decidam em comum quais canções devem ser cantadas nos cultos é uma decisão baseada por meus argumentos sobre a unidade, apostolicidade e catolicidade da igreja.


Tradução: Renan Lima

Revisão: Thaís Vieira

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