Lucas 5.17 — O Poder Messiânico

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montanha verde com rio no meio

… e o poder do Senhor estava com ele para curar”. Lc 5.17b

O comentário que forma um prelúdio ao relato da cura do paralítico em Lucas parece misterioso, se não redundante.  Literalmente, o texto nos diz: o poder do Senhor estava com Ele para curar. Tanto Mateus como Marcos não incluem esta observação.  E, pode-se questionar a sua necessidade. O Senhor Jesus não teve sempre o poder de curar? De fato, Ele era Deus verdadeiro. E a proclamação do perdão dos pecados, comunicada ao paralítico serve precisamente para apontar isso.

 Ainda assim, esse é um complemento importante ao relato, pois nos mostra a maneira de trabalhar do Senhor. Certamente, Ele era Deus verdadeiro, e esse milagre contribuiu para o fortalecimento da fé nessa verdade.  Mas, da maneira que Lucas se refere à presença do poder do Senhor, devemos aprender que o Senhor Jesus nunca fez uso do Seu poder aleatoriamente. Na realidade, Ele se esvaziou do poder divino! E, como um Filho obediente, Ele esperou no Pai, o exercício de Seu poder de cura.

De fato, o poder de Deus irradiava do Senhor Jesus em todos os momentos.  Talvez por causa do foco especial de seu evangelho dirigido aos gentios, Lucas tenha especial atenção à alguns detalhes.  Cristo nasceu do poder de Deus (Lc 1.35); com autoridade e poder, Ele ordenou que os espíritos impuros saíssem (Lc 4.36).  Ele saiu no poder do Espírito (Lc 4.14). Cristo não é apenas um profeta dotado de poder; antes, toda a sua existência é determinada pelo poder de Deus.  Ele carrega o poder de Deus, de tal maneira que todas as Suas obras são manifestações do poder divino.

Por outro lado, este texto deixa claro que a origem desse poder está em Deus.  A expressão sugere uma dependência do Senhor, da vontade do Seu Pai. O Pai coloca diante dEle os tempos e as oportunidades para a cura, demonstrando o Seu poder no Filho.  Essa posição, de dependência em Deus retorna no relato da cura da mulher com o fluxo de sangue, (Lc 8.46), e em outras curas nas quais o Senhor Jesus percebe que o poder saiu dEle (Lc 6.19).  Nesses casos, o Senhor Jesus é tanto Servo, quanto Ele é Senhor. Ele é tanto um instrumento de Deus, quanto representante de Deus.

 E, como o Senhor Jesus saberia quando o Pai o chamou para revelar o poder divino?  Houve uma sintonia entre o Pai e o Filho? Antes, devemos pensar nos canais normais da oração. Pouco antes do milagre decisivo que mostrava o poder de Deus, o Senhor Jesus se retirou e orou (Lc 5.16).  Este milagre é a prova de que a oração de Cristo foi respondida.

Aqui encontramos uma linha na qual vemos o Senhor Jesus cumprindo as profecias do Antigo Testamento.  Certamente, Ele foi cheio do poder do Espírito. E, por Sua própria autoridade, expulsou demônios e perdoou pecados.  Contudo, o poder que saiu dEle e que foi demonstrado por Ele não era apenas dEle; também é descrito como o poder do Pai, e isso antes de tudo!  Assim, o Senhor Jesus cumpriu as palavras de Davi: “Assaltaram-me no dia da minha calamidade, mas o Senhor me serviu de amparo” e “O Deus que me revestiu de força e aperfeiçoou o meu caminho” (Sl 18.18, 32). Cristo travou a batalha no poder do Seu Deus.  Confiando no Deus que promete, Ele ganhou a nossa salvação.

Portanto, devemos ver o Salvador como Servo, tanto quanto o vemos como nosso Senhor.  E, nesta passagem a grandeza de Seu poder divino é complementada com a humilde obediência de Sua verdadeira humanidade.  Ele é aqui revelado como Filho de Deus e Filho do homem. Pois o coração deste milagre diz respeito ao perdão dos pecados – algo que sempre foi uma prerrogativa de Deus.  Mas, o milagre se passa no contexto da controvérsia com os fariseus. Precisamente esse milagre serviu como catalisador dessa controvérsia. O Senhor Jesus não escolheu de bom grado a controvérsia, mas foi imposta a Ele pelo Pai.  Era o Pai que queria Seu poder demonstrado, perante os fariseus, na pessoa do Filho. No entanto, isso iria incutir neles o ódio pelo qual Jesus seria morto.

Aqui devemos glorificar a majestade do Filho.  Ele é capaz de perdoar os pecados! Aqui também devemos ser gratos pela obediência do Filho!  Ele, não recuou dos deveres que Lhe foram designados pelo Pai. De fato, Ele também quis trazer o perdão dos pecados!  Ele desejou trabalhar nossa salvação! Portanto, testemunhamos a Sua humilhação diariamente, durante Sua vida na Terra pelo amor aos eleitos.

 Aqui encontramos um grande consolo: pois, como Cristo serviu de bom grado por isso, Ele serve a Sua Igreja hoje em Sua exaltação.  O poder de Deus repousa com Ele em plenitude. E, todos os que nEle confiam, podem ter certeza de que Ele fornecerá tudo o que for necessário para levar Seus filhos à salvação.  Pois Ele pagou o preço por nossos pecados! E, Ele provê a cura, através da qual podemos completar nosso percurso e herdar a vida eterna!


Tradução: Alaíde Monteiro.

Revisão: Ester Santos.

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