“E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor.” (João 20.20).
João descreveu a alegria dos discípulos ao reconhecerem Jesus de maneira um pouco diferente da forma como Lucas descreveu. Lucas enfatizou como os discípulos ficaram surpresos com a aparição de Jesus, e como a imagem de Cristo ressurreto deixou-os perplexos quanto ao que havia acontecido. Mas, João deu ênfase ao entendimento que os discípulos tiveram ao ver Jesus. A palavra “ver” que ele usa mostra como eles compreenderam o que havia acontecido, como tudo isso levou a uma profunda e sincera alegria, e muito contentamento entre os discípulos.
Qual foi o motivo da alegria deles? O medo deu lugar à fé e ao entendimento. Jesus frequentemente revelava a Si mesmo como o Senhor do cosmo, alguém que tinha poder e autoridade sobre a própria criação. Ele não havia alimentado os cinco mil com cinco pães e dois peixes? Ele não andou sobre as águas e curou muitos enfermos? Não é de todo incomum que Ele se manifeste repentinamente aos discípulos e apareça no meio deles, apesar das portas trancadas. Os discípulos poderiam esperar por isso!
A alegria se aprofunda quando os discípulos reconhecem Jesus como a mesma pessoa que viveu e andou entre eles, antes da morte na cruz. A disparidade entre Jesus e Seus discípulos foi notável. Ele estava do outro lado do túmulo, como um ressuscitado dentre os mortos! Mas a semelhança entre Jesus e Seus discípulos não havia sido apagada. Ele continua sendo homem! Ele ainda tem as marcas de Sua paixão em Suas mãos e em Seu lado.
Juntamente com Sua ressurreição, essas marcas são sinais de perdão e vida! Aqui os discípulos podem começar a juntar as peças e identificar que a reconciliação chegou. O Senhor de todos também é Senhor sobre Satanás, sobre o pecado e a morte! O conhecimento da reconciliação com Deus, como Cristo já havia proclamado para eles, agora toma forma em seus corações. Ao ver o Senhor, eles entendem o que Deus fez por eles em Cristo! Seus pecados foram perdoados e a vida triunfou sobre a morte!
Foi na manhã da ressurreição que esse entendimento foi oferecido. Antes deste momento, nunca lemos sobre esse tipo de alegria entre os discípulos. A Páscoa é um pré-requisito para essa alegria — a alegria da compreensão. Pois com a ressurreição, os discípulos podem finalmente juntar as peças do quebra-cabeça do conselho de Deus. Até que enfim, as coisas começam a fazer sentido para eles. Finalmente, as categorias espirituais da cruz — carregando a ira de Deus e derrotando o poder de Satanás — aparecem à vista. Com a ressurreição, todos os ingredientes da alegria duradoura estão finalmente presentes. A vitória essencial sobre o pecado e a sepultura foi realizada! E mesmo que haja mais etapas na exaltação de Jesus Cristo, a exaltação essencial ocorreu na ressurreição. As boas novas “Ele ressuscitou!” é a mensagem fundamental de alegria, à qual tudo o que se segue representa uma adição cada vez mais profunda.
Por essa razão, o Senhor Jesus pôde imediatamente comissionar os Seus discípulos. Pode parecer estranho que Jesus respire em Seus discípulos e transmita a eles o Espírito Santo, antes da chegada do Pentecostes, versos 21–22. Mas, neste momento, o Senhor estabelece um vínculo direto entre o dom concedido aos discípulos e o dom concedido à igreja. Os discípulos vêm para a alegria, a alegria do entendimento. Mas eles não podem guardar essa alegria para si mesmos. Este conhecimento alegre deve ser proclamado. As notícias de alegria devem ecoar pelo mundo: “Ele ressuscitou!”.
Através da mensagem apostólica, a alegria da Páscoa pode ser nossa! A ressurreição — a conquista da vida dentre os mortos — é a peça decisiva e fundamental no quebra-cabeça do conselho de Deus que evoca o avanço da nova alegria. E só podemos sentir essa alegria quando chegamos à mesma conclusão que os discípulos: quem ressuscitou é o mesmo que morreu e, morrendo e ressuscitando, age por nós. Portanto, Nele, morremos para o pecado, e ressurgimos para uma nova vida.
Então, podemos compartilhar a alegria da Páscoa! De fato, a aurora da alegria nascida na Páscoa, irradia por todo o mundo, onde quer que Deus reúna Sua igreja. A Páscoa é o alvorecer do evangelho completo, a hora em que a fé chega ao entendimento. Com esta mensagem, o poder da ressurreição também deve fluir das vidas dos santos. Nossa fé é mais do que palavras! A Páscoa nos traz um novo chamado: espalhem as boas novas! E assim: transmitam alegria! E vivam na alegria! Pois o Deus que traz vida aos mortos, também deixa a luz do evangelho brilhar em nossos corações para nos conceder vida eterna. Podemos nascer de novo para uma viva esperança através da ressurreição de Cristo dentre os mortos! Podemos estar convencidos do perdão de nossos pecados e sermos participantes da natureza ressuscitada, ascendida e celestial do Filho. Portanto, a alegria da ressurreição pode se manifestar em nossas vidas o tempo todo, também na dor e no sofrimento. Desde a ressurreição de Cristo, podemos até triunfar Nele quando Ele nos chama para a morte física. Pois, ao nos entregarmos a Ele, podemos glorificar o Filho em nossos corpos. Quer vivamos ou morramos, o tempo da alegria raiou decididamente para todos os santos. Com eles podemos cantar:
“Jesus o Salvador reina;
A Ele, deixe louvores soarem.
O Cristo que já foi morto
Ressuscitou como Rei vitorioso.
Eleve seus corações, eleve sua voz; Mais uma vez digo: Alegrai-vos! Alegrai-vos!”
— Hino 35.2.
Tradução: Morgana Mendonça.
Revisão: Ester Santos.
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