Já que o coração humano é enganoso, como podemos ter certeza de que somos salvos?

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A Palavra de Deus nos ensina que é possível ter certeza para os cristãos. No Novo Testamento, encontramos cristãos que gozaram não apenas de uma certeza de que seus pecados foram perdoados, senão que também possuíam uma persuasão interna, capaz de resistir à mais terrível oposição. Lemos sobre a morte de Estêvão, o primeiro mártir cristão,

“E apedrejavam Estêvão, que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito! Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado! Com estas palavras, adormeceu.” (Atos 7:59:60)

Como podemos obter segurança? Como a segurança se torna uma realidade ao povo de Deus?

A resposta a essa pergunta não é que devemos simplesmente ser sinceros. Há um perigo no que certas pessoas dizem: “Eu sou um cristão sincero. Não sou um hipócrita. Portanto, creio que tudo ficará bem.” Isto é inútil. O próprio Senhor Jesus Cristo nos ensina que o povo pode sinceramente crer que são cristãos, enquanto podem estar absolutamente errados. Jesus diz que no dia do julgamento haverá muitos que o chamaram “Senhor, Senhor”, e que este dia virá sobre eles como uma tempestade, e se descobrirá que edificaram sobre a areia. Cristo disse certa vez a toda uma igreja: “Pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Apocalipse 3:17). eles eram sinceros. Mas sinceridade não é uma

garantia para nada. Precisamos de algo mais além de sinceridade.

O Testemunho de nossa Consciência

Um modo pelo qual podemos ter certeza de que somos cristãos verdadeiros vem do testemunho de nossa consciência, nosso próprio espírito. O apóstolo Paulo diz em 2 Coríntios 1:12,

Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com santidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas, na graça divina, temos vivido no mundo e mais especialmente para convosco.

Então, a consciência é testemunha do poder transformador da graça de Deus em nossa vida.

A evidência de que pertencemos a Cristo é a evidência da santidade pessoal. A Bíblia diz, “sem santidade ninguém verá a Deus” (Hb. 12:14). Obediência a Cristo é uma evidência inseparável de nossa salvação. Da fé e do amor a Cristo é que desejamos andar em obediência aos seus mandamentos. Se isto é verdade para nós, se a graça de Deus transformou nosso coração de tal forma a desejarmos viver para agradá-lo, então temos, de fato, a evidência e o testemunho. O apóstolo João diz que sabemos que temos passado da morte para a vida não “porque aceitamos a Cristo”, mas “porque amamos os irmãos” (1 João 3:14). João não está dizendo isso porque, se amamos as outras pessoas, Deus nos abençoará com a sua salvação. Ele está dizendo que sabemos que nossa fé é real porque nossa vida foi transformada. Agora, amamos o povo de Cristo. Novamente ele diz: “…Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamento” (1 João 2:3). A graça de Deus na vida de seu povo é um testemunho eloquente de que algo foi feito em nosso coração, algo que não fizemos por nós mesmos.

O Testemunho do Espírito Santo

Vocês devem se lembrar de que, no Antigo Testamento, se houvesse um julgamento, a única evidência aceitável era a de, no mínimo, duas testemunhas. É o mesmo em nossa salvação.

o testemunho do espírito do crente, mas há também outro testemunho, o do Espírito de Deus. É isto o que Romanos 8:15-16 ensina:

Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.

Romanos capítulo 8 trata, especialmente, sobre o lugar do Espírito Santo na vida dos crentes. Este capítulo ensina que o Espírito Santo habita o crente com vários propósitos. O primeiro é o de fazê-lo santo. Mas ele também habita o crente para certificá-lo de seu relacionamento com Deus.

Paulo escreve: “Pois não recebestes o espírito de escravidão.” Você notará que, aqui, a palavra “espírito” não tem letra maiúscula, embora devesse haver uma. “O Espírito de escravidão” se refere ao Espírito Santo. Então, à medida em que Paulo continua, ele se refere ao “Espírito”. “Temos recebido o Espírito (com “E” maiúsculo) da adoção.” Versículo 16: “O próprio Espírito… testifica com o nosso espírito (sem letra maiúscula).”

Estes versículos dizem que o Espírito Santo é uma Pessoa que trabalha e age em nosso coração e em nossa vida. Ele testifica. Ele é ativo. Ele não é uma influência vaga. Ele é uma Pessoa, a terceira Pessoa da Trindade. Não avançaremos no assunto da segurança [da salvação] até que entendamos que ele é uma Pessoa, divina. O Senhor Jesus Cristo diz,

Quando eu for, enviarei outro Consolador, outro – o mesmo que eu, uma Pessoa divina.

Assim como Cristo tinha sua obra a fazer, viver e sofrer, para levar sobre si a ira de Deus ao pecado, redimir sua igreja com seu próprio sangue, assim também o Espírito Santo é uma Pessoa que tem a sua obra a fazer. Sua obra é iluminar os nossos olhos, dar-nos entendimento, vir e habitar o coração dos crentes, ser a garantia de nossa santificação, de que nossos corpos se levantarão do pó. O Espírito Santo tem o

controle da nossa vida, é a segurança do povo de Deus.

O Espírito Santo também é responsável pela segurança do crente. É a sua obra suprema dar segurança da salvação. Um cristão que tem uma sólida segurança de sua salvação não é alguém que simplesmente vê a graça de Deus em sua vida e diz: “Eu sou um cristão”. Ele é alguém a quem o Espírito Santo testifica: “Você é um filho de Deus”.

A Ordem da Obra do Espírito Santo

O Senhor Jesus Cristo nos lembra: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito (João 3:8). Porque o Espírito Santo é Deus, seus caminhos são inescrutáveis. Como poderíamos, de qualquer forma possível, entender a maravilha da obra do Espírito? Não podemos, e mesmo assim há certas coisas que são claras. Nós sabemos que, antes de conhecer o Espírito Santo como o Espírito de adoção, primeiro temos de experimentar sua obra como o Espírito da escravidão.

Olhe novamente para as palavras de Romanos 8:15. Paulo diz: “Porque não recebestes o Espírito da escravidão… outra vez.” “Uma vez”, ele diz, “conhecestes o Espírito da escravidão”. O Espírito Santo nos dá um senso de escravidão. Não vai acontecer novamente, mas já aconteceu uma vez. Agora “recebestes o Espírito” que traz a adoção, o significado e certeza de nossa filiação. Você foi adotado e trazido à família de Deus. O Espírito Santo é o Espírito que faz conhecida a sua adoção. Mas perceba a ordem: primeiro escravidão, depois adoção.

Quando o Espírito Santo trabalha na sua vida, não vem para produzir alegria e paz mas para convencer do pecado. Naturalmente temos uma visão elevada de nós mesmos. O Espírito Santo vem para nos humilhar.

Ele vem para mostrar-nos nosso pecado – podem ser pecados particulares, podem ser gerais, mas ele traz-nos um senso de nosso pecado. Ele nos ensina que “o coração é enganoso, mais do que

todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Jeremias 17:9).

Até aqui, não estamos conscientes de que é o Espírito Santo trabalhando em nós. Quando ele nos faz conscientes de nosso pecado, resolvemos melhorar. Resolvemos ser mais obedientes à Palavra de Deus. Sabemos que deveríamos amar a Deus, confiar nele, e orar a ele. Sabemos muitas coisas. Enquanto o Espírito Santo vai nos convencendo, e começamos a temer, dizemos a nós mesmos: “Farei o que é certo. Passarei a amar a Deus. Passarei a orar de verdade.” Mas é isto o que fazemos? Não, porque, à medida em que tentamos fazer a vontade de Deus, descobrimos que não conseguimos. Não o amamos. Não conseguimos orar. Não conseguimos fazer as coisas que a Palavra de Deus requer. Não conseguimos mudar nossos pensamentos. Tente obedecer a Palavra de Deus com todo o seu coração e uma coisa é certa: você descobrirá que é um desgraçado e miserável prisioneiro – desamparado e em escravidão. É isto o que Paulo está dizendo. O Espírito Santo vem para fazer-nos saber que estamos perdidos e necessitados. Nosso Senhor Jesus Cristo diz que quando este abençoado Espírito é enviado, “Convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8). Esta é a sua obra. Quando o Espírito Santo convence, vem com o poder divino para nos humilhar. Ele nos faz tristes e nos convence, e então vemos pela primeira vez, em nossa vida, que, deixados por nós mesmos, estamos sem esperança, e perdidos sem a ajuda de Deus.

Esta é a obra do Espírito. É isto o que aconteceu no dia de Pentecostes. Três mil pessoas, que outrora rejeitaram a Cristo, descrentes e com desprezo por ele, foram de repente trazidos à convicção de que aquele que rejeitaram era o Filho de Deus.

Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?” (Atos 2:37).

Eles mergulharam nas profundezas de sua necessidade. E isto era o trabalho do Espírito Santo.

Quando nosso Senhor iniciou seu ministério, disse que foi enviado para pregar, curar os oprimidos, pregar libertação aos cativos, recuperar a visão aos cegos, libertar os feridos (Lucas 4:18). É isto o que Paulo está ensinando. Até que estejamos cativos, feridos, até sabermos que somos cegos, que necessidade temos do Senhor Jesus Cristo?

Então o Espírito Santo, antes de vir como o Espírito de adoção, vem como o Espírito de convencimento para nos dar um senso de escravidão. E ele tem de fazer isso, porque o Espírito é o Espírito da verdade. Ele não testifica da mentira. O Espírito Santo nunca diz a alguém: “Você é um cristão”, até que esteja convencido e arrependido e crente no Senhor Jesus Cristo.

Precisamos perguntar a nós mesmos, se dizemos que temos certeza de nossa salvação: “Como éramos antes de recebermos esta certeza da salvação?”. “Ó”, alguém pode dizer, “eu não consigo responder a esta pergunta, porque sempre tive certeza da salvação. Eu nunca soube como era ser qualquer coisa além de um filho de Deus.” Então eu pergunto: “Você, alguma vez, já se convenceu de que estava perdido? Já se convenceu da miséria da descrença? Já soube como é se sentir desamparado e necessitado da graça de Deus?” Talvez você diga: “Nunca soube o que são estas coisas.” Veja, meu amigo. Não estou dizendo que Deus opera o mesmo nível de desamparo em todas as pessoas. Ele não age assim. Há muitas variações. Podemos ser acordados pela manhã por um alto barulho ou pelo beijo de nossa mãe. Ainda assim, acordamos. E Deus acorda o seu povo, do pecado, de maneiras diferentes. Não é o mesmo que dizer que precisamos ter uma experiência padrão para todos os cristãos. Mas é dizer (porque a Palavra de Deus assim o diz) que, antes de sermos salvos, estamos perdidos. Antes de estarmos felizes, somos entristecidos. Antes de irmos até o Espírito de adoção, experimentamos um senso de nossa própria necessidade. Se dissermos qualquer coisa menos que isso, estamos nos afastando do Novo Testamento.

No início da Reforma certos homens que diziam ser profetas de Deus chegaram em Wittenberg. Falaram eloquentemente e começaram a atrair as pessoas a si. Melâncton escreveu a Lutero em 1522, perguntando:

Como devemos provar estes profetas? Talvez venham de Deus. As pessoas estão ouvindo a eles. Como sabemos se eles estão realmente pregando a verdade?” Lutero respondeu: “Para conhecer o espírito de cada um, você deve perguntar se eles experimentaram angústia espiritual e o nascimento divino, morte, e o inferno. Se você ouvir que todas as suas experiências são agradáveis, quietas, devotas e espirituais, então não os aprove. Mesmo que digam que foram levados ao terceiro céu, o sinal do Filho do homem ainda falta.

Lutero estava simplesmente dizendo o que Paulo diz: o Espírito de Deus convence antes de dar segurança e paz.

Um dos muitos problemas na igreja, hoje, é que estamos saudáveis demais. As pessoas não se angustiam. Muitos não estão chorando pela certeza de salvação. Eles acham que têm esta certeza. Muitos não temem. Poucos vêem a si mesmos como perdidos. É esta a saúde do Novo Testamento? Ou seria a “saúde” da morte e descrença? Precisamos encarar esta questão. É certo que, quando O Espírito Santo age com poder, a primeira evidência desse reavivamento é uma preocupação e angústia e seriedade sobre o assunto. Nunca houve um avivamento na história sem que isto tenha acontecido.

Em último lugar, a evidência da presença do Espírito de adoção é que temos um acesso consciente à presença de Deus. Paulo diz: quando o Espírito de escravidão é tirado de nós, e o Espírito Santo vem como o Espírito que nos mostra nossa adoção, então “clamamos Abba, Pai.”

O Espírito Santo nos dá a segurança de que a presença de Deus é um lugar onde temos o direito de estar. Ele é o nosso Pai. O Senhor Jesus Cristo deleitava-se em oração porque era a sua comunhão com o Pai. Ele usava esta palavra: “Abba.” Paulo afirma que o que

acontece com os cristãos é que Deus envia o Espírito de seu Filho ao nosso coração, “e clamamos Abba, Pai.”

Aplicação

A aplicação é breve. Se você está sendo convencido e se, por vezes, sob a pregação da Palavra de Deus, sente-se desconfortável e infeliz, esta pode ser a melhor coisa que já lhe aconteceu. Deveríamos valorizar estas convicções. Elas são o caminho para a vida eterna. Quando Deus nos repreende, quando passamos a nos sentir desamparados, então começamos a sentir que não podemos agradar a Deus, que é o primeiro sinal do agir gracioso de Deus em nossa vida. E precisamos responder a Deus, orando pelo Espírito e olhando para o Senhor Jesus Cristo, sabendo que em Cristo somente há liberdade para nós. 
Finalmente, quão grande é a verdade de que Deus nos dá segurança. Se tudo dependesse de nós, quão tristes estaríamos! Mas Deus dá testemunho. Dá segurança. Isto é objeto de enorme ação de graças. Devemos deixar este mundo. Devemos descer ao vale da sombra da morte sozinhos. Mas o Espírito de Deus está com o seu povo. Ele “testemunha com nosso espírito”, Paulo diz, “que somos filhos de Deus”. Isto é verdade para você? Pergunte a si mesmo. Não tenha vergonha de pedir ajuda. Converse sobre isso com seu presbítero, com o seu pastor. Acima de tudo, peça a Deus para lhe ajudar, para esclarecer as coisas para você. E o próprio Senhor Jesus Cristo prometeu: “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” (Lucas 11:13). Peça e, certamente, lhe será dado… convicção de pecado, sim, mas também a cura, alegria, perdão e certeza da salvação.


Tradução: Renan Lima

Revisão: Thaís Vieira.

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