Conselheiros (para) ou o Natal?

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A indústria de serviços cresceu enormemente nas últimas décadas, e não tenho objeções quanto a isso. Afinal, eu também preciso de ajuda para domar e controlar aquele monstro na minha mesa, conhecido como computador. Mas há uma parte da indústria de serviços com a qual não estou tão satisfeito. Refiro-me ao florescente crescimento dos serviços de aconselhamento; Eles crescem tão rápido e tão abundantemente quanto cogumelos no meu gramado de inverno. E isso é consequência da demanda que existe por estes serviços de aconselhamento.

É de se entender que um público que não conhece a Deus, buscará conselho dos gurus deste mundo. As pressões das circunstâncias os levam a buscar ajuda no único lugar que parece ser racional. E, como não sabem como olhar para o alto, suas visões são limitadas as coisas desta terra. Seu casamento está murchando? A esposa deste mundo procurará um conselheiro na cidade! Você não consegue se livrar das suas dívidas? O chefe de família contará sua história de aflição ao Centre Link1, e receberá um ouvido compreensivo da parte deles. Você está estressado porque alguma calamidade atingiu você? Sua autopiedade pode ligar para um programa de mídia, a fim de que seu senso de “pobre de mim” possa ser publicado. Eu posso entender que é assim que nossa sociedade busca a salvação e o bem-estar. É assim que ela busca alívio para os tempos difíceis.

Mas certamente, não aqueles da igreja. Certamente diante de conflitos matrimoniais, nenhum de nós procuraria um conselheiro no centro da cidade, procuraria? Enquanto lutamos para superar as lembranças ruins do passado, nenhum de nós iria pegar o telefone e ligar para uma destas linha que resolvem crises, iria? Ou nenhum de nós iria procurar um grupo de apoio para buscar direção para uma crise que enfrentamos, iria?

Eu não usei nenhuma enquete. Mas sei que este hábito do mundo não é desconhecido da igreja de Cristo. Enquanto erguemos nossos corações ao alto, onde Cristo está sentado à destra de Deus (Colossenses 3:1), simpatizamos com o consultório de aconselhamento no centro da cidade.

Não, meu leitor, não vou dizer que não há lugar para um conselheiro, psicólogo, ou grupo de apoio neste assunto. Então, por favor, continue lendo este artigo. Mas queria defender a ordem correta das coisas. O anjo disse a José para chamar o bebê de “Jesus”, pois (Ele disse): “Ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mateus 1:21). É por isso que confessamos no Dia do Senhor 11 do Catecismo que “a salvação não deve ser buscada ou encontrada em nenhuma outra pessoa“. E ainda mais forte: “ou Jesus não é um Salvador completo, ou aqueles que pela verdadeira fé aceitam este Salvador devem encontrar nEle tudo o que é necessário para sua salvação“. Essa confissão precisa significar algo quando pensamos nos serviços oferecidos por um profissional de aconselhamento.
Deixe-me tentar explicar. Não podemos separar a vida cotidiana da religião, ou seja, de Deus. De fato, o Deus que uma vez criou o céu e a terra está ocupado nas nossas vidas de todos em todos os momentos. Em cada problema em que nos encontramos, o mesmo não tem a ver meramente com o vizinho chato, nem com as pressões da pobreza ou da doença. Em todas as provações que enfrentamos nesta vida, em primeiro lugar, isto tem a ver com Deus. Ele sempre está presente. Nunca estamos fora da sua presença. Salmo 139: “Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá…” (v. 8-10). Esse Deus se fez carne e habitou entre nós (João 1:14), experimentou até mesmo as mesmas provações sob as quais gememos todos os dias (Hebreus 4:15). Em Seu Espírito, Ele ainda está presente, e até geme junto conosco ao Pai (Romanos 8:26). Ele é o único conforto do cristão: todo dia, em cada momento, em todo passo que dou estou nas mãos do Deus que entregou Seu Filho para me resgatar.

Caro leitor, é por isso que é tão tolo deixar de considerá-Lo diante das provações que existem. Bancar o forte para resolver os próprios problemas, recorrer às agências de apoio (conselheiros), ou afogar os problemas nas mágoas de alguns copos de cachaça, todos estas opções têm um erro fundamental. Todos buscam a solução para os problemas nos lugares errados. Como verdadeiros horizontalistas, esquecemos que doenças, tribulações, etc, tudo tem a ver com o pecado. Tudo é a resposta de Deus ao pecado. Por isso, no meio da doença, das lutas e conflitos, é para Deus que devemos nos voltar. Tudo tem a ver com Ele (vertical). É com Ele que devemos resolver.

Por isso, a primeira coisa que o cristão deve fazer diante das provações é ir até Deus em oração. É Ele quem envia essa provação em nosso caminho. Devemos pedir a Deus, qual é a sua resposta ao problema que tu colocaste diante de mim? E a resposta de Deus invariavelmente nos direciona para o Natal: “Eu dei meu Filho para tirar seus pecados. Agora, meu filho, você crerá que não há condenação para você, mesmo diante dos problemas que coloquei em seu caminho? É minha promessa a você selada no santo batismo! No calor de sua miséria, você crê que está seguro em minhas mãos paternais? Você crê que eu irei carregá-lo, e que proverei alívio? Ou você irá, no calor dos seus problemas, recusar-se a crer em minha aliança? Irá recusar-se a confiar-se em mim, buscando alívio das pressões nos paliativos criados por você?

É uma perspectiva que não podemos esquecer. Toda aflição é um teste de Deus, um teste para buscarmos nossa ajuda em o nome do Senhor. Ou seja: todo problema me confronta com a questão de reconhecer ou não se acredito que Jesus veio a este mundo para me salvar do pecado. Se acredito ou não que o Filho de Deus pagou pelos meus pecados, para que não houvesse condenação sobre mim. Creia que, mesmo nas pressões desta vida, Deus é meu Pai, por amor de Jesus, e por isso estou totalmente seguro com Ele. Essa é a pergunta que Deus coloca diante de mim todas as vezes que penso que Deus está chateado comigo: eu realmente creio que a crise em que estou é obra do meu amoroso Pai, me levando a um maior crescimento nEle? Creio que meu Pai tem as respostas para minhas perguntas em Sua Palavra? Meu único caminho para o meu bem-estar e alívio em minhas tribulações é buscar as respostas em Sua Palavra? Ou, penso em termos de Deus estando distante das minhas tribulações (Ele não se envolve realmente com as questões do dia a dia)? Penso em termos de sair sozinho para encontrar minhas próprias respostas? Cada aflição é um teste: procuro felicidade e bem-estar apoiando-me em minhas próprias capacidades, apoiando-me na capacidade de meu advogado, na liberalidade das agências de apoio, na força de minha mente, meu dinheiro, minha boca, meus músculos? Essa é a pergunta: aqueles que buscam alívio e bem-estar nos serviços de aconselhamento, nas agências governamentais, ou nas suas próprias habilidades, confiam no único Salvador Jesus?

A resposta do Senhor é categórica. É com Deus que estamos envolvidos em cada momento da nossa existência. Então, é para Deus que precisamos nos voltar; todas as vezes que precisamos de alívio, ajuda e bem-estar. Toda vez que deixamos de nos voltar para Deus, negamos o bebê nascido em Belém. Negamos que Jesus de fato é o Salvador. Ele é o Salvador tão completo que, “aqueles que pela verdadeira fé aceitam esse Salvador devem encontrar nEle tudo o que for necessário para sua salvação” (Dia do Senhor 11). Simplesmente não é bom pensarmos que Jesus dá a salvação para a vida eterna, mas são os conselheiros que dão o bem-estar necessário para hoje. Simplesmente não será bom pensar que Jesus te reconcilia com Deus e, por outro lado, depende de nossa mente esperta (ou língua suave ou boas relações), obter alívio dos problemas que Deus envia nesta vida. É com Deus que estamos envolvidos, não importa as circunstâncias. Sempre é para Ele que precisamos nos voltar e buscar o Seu favor através da obra salvadora de Jesus Cristo. E então, com as mãos dadas com as dEle, ande pelo caminho que Ele especificou em Sua Palavra. Confie que nosso Pai, em Jesus Cristo, não permitirá que nenhum cabelo caia de nossas cabeças a menos que sirva para o nosso bem.

O que fazer então com os serviços de apoio que nossa era oferece? Estou dizendo que nesta vida não há lugar para procurar ajuda de grupos de apoio, médicos, ou conselheiros? Por favor, não me entenda errado. Mas agora confio que meu leitor reconheceu que há uma ordem nas coisas. Nem grupos de apoio, conselheiros, garrafas de álcool, ou qualquer outra coisa pode aliviar meus sofrimentos, pois é primeiro com Deus que tenho que lidar. Minhas provações vêm dEle. Devo ter uma boa relação com Deus: é uma questão de saber se meus pecados estão perdoados no sangue de Jesus Cristo. Enquanto Deus permanecer irado comigo, eu posso jogar todo o dinheiro e recursos do mundo para cima dos meus problemas para resolvê-los, mas não sairei de debaixo da ira de Deus. E enquanto a maldição dEle permanecer sobre mim, por causa dos meus pecados, o meu problema não desaparecerá. Ao resolver um problema em uma certa área da vida, Sua maldição se expressará em outra. É somente quando me reconcilio com Deus, através do sacrifício de Jesus, que a maldição dos problemas que enfrento se vai. A reconciliação através da obra de Cristo produz uma sensação de paz, bem-estar, salvação – pois não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus.

E então, uma vez que o perdão está lá, com a sua paz resultante, eu também sou capaz de aceitar o que o Senhor em sua sabedoria colocou no meu caminho. Pois quando conheço Jesus como meu Salvador, então conheço a Deus como meu Pai. Sim, então vejo um Pai amoroso (embora incompreensível) trabalhando em minha vida, um Pai que me dá o que Ele em sua sabedoria determina. Portanto, não me desespero com minhas provações e não me desespero para resolver o problema desta maneira ou daquela maneira. Em vez disso, há uma paz de Deus que sossega a alma no meio das tempestades. Eu sei que estou seguro nas mãos graciosas do meu pai.

Quando essa paz existe, uma paz enraizada na obra de Jesus Cristo, sim, então posso contar com a bênção do Senhor. Posso procurar aproveitar as oportunidades que Deus coloca em meu caminho para resolver as necessidades que tenho. Em espírito de oração, seguindo as instruções da Palavra de Deus, podemos usar nossas mentes, nosso dinheiro, nossas bocas para superar os problemas que enfrentamos, usar recursos na igreja, na comunidade, etc. Mas, nós entendemos que usar esses recursos não é mais uma questão de buscar o bem-estar; temos salvação, temos bem-estar, um estado de não condenação por causa da obra de Jesus, o Salvador. E porque temos esse bem-estar, podemos trabalhar com as oportunidades que o Senhor coloca em nosso caminho, oportunidades para melhorar a vida.

1 Nota do tradutor: Centrelink é um departamento de serviços sociais do governo australiano


Tradução: Marcel Tavares

Revisão: Thaís Vieira

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