“Nada há nada melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus.“
(Eclesiastes 2.24)
Esta edição da Clarion chega até você por volta da época do Dia do Trabalho, após o qual as escolas, faculdades e universidades abrem suas portas, e o trabalho recomeça com força. Os dias de feriado terminaram; uma nova temporada de trabalho já começou.
Sei que há muitos entre nós que têm trabalho sazonal. Penso, especialmente, nos agricultores, paisagistas e outros que trabalham em profissões afins. Alguns desses devem tirar suas férias no período de inverno. Mas, para a maioria de nós, o verão é a estação na qual interrompemos nosso trabalho diário e relaxamos mais do que em outros momentos.
O Dia do Trabalho
Talvez, essa seja a razão pela qual o “Dia do Trabalho” tem sido tradicionalmente realizado durante o primeiro fim de semana de Setembro. Quando o verão termina, as pessoas ficam, novamente, mais sérias em relação ao trabalho. Para marcar a transição, o Dia do Trabalho foi organizado como um dia em homenagem aos muitos trabalhadores que formam a espinha dorsal de qualquer nação industrial.
Esse dia foi instituído – em meados de 1882 – como um reconhecimento da contribuição dos trabalhadores, ou seja, o trabalhador comum. No Canadá e nos Estados Unidos, esse dia é sempre na primeira segunda-feira de Setembro. Como um aparte, notamos que há países que observam o 1º de maio como um dia para honrar os trabalhadores.
No dia do trabalho, geralmente, há um desfile com carros alegóricos, bandas e outras atrações. Também observamos que se trata de um dia em que os líderes do movimento sindical adoram ficar no centro das atenções, proferir discursos inflamados e fazer ameaças gerais ao gerenciamento e propriedade de vários empregadores.
Graças a Deus, é sexta-feira
Tenho a impressão geral de que muitas pessoas não gostam do seu trabalho. Falo geral, pois há aqueles que realmente desfrutam de sua tarefa diária. Mas temos muitas expressões que indicam que as pessoas estão contentes quando o (livre) fim de semana chega, e, principalmente, quando é um longo fim de semana. Graças a Deus, é sexta-feira. Anúncios de cerveja dirão: ei, Canadá, o fim de semana chegou!
Existem outras expressões a esse respeito. Só trabalho, sem diversão, faz de Joãozinho um bobão. Precisamos do nosso tempo de folga. A vida cotidiana, com seus expedientes, é chamada de “corrida de ratos”. Isso se refere às atividades árduas e cansativas, onde não há progresso real ou mudança. Todos os dias, realizamos as mesmas tarefas chatas. Entretanto elas precisam ser feitas, e então “ralamos de trabalhar”. Ai.
Quantas pessoas dirão genuinamente: graças a Deus, é segunda-feira? Uma nova semana de trabalho começa. A vida retoma seu curso normal, após o término do fim de semana. Diz-se que o momento mais difícil de se levantar da cama é na segunda-feira, de manhã, especialmente se tivermos passado o fim de semana até altas horas da noite.
O trabalho e a vaidade
No livro de Eclesiastes, o trabalho e o labor são mencionados, muitas vezes. De um modo geral, o trabalho é considerado desgastante, sem sentido e um correr atrás do vento. Tudo o que construímos na vida é tomado por outros, quando morremos, e não sabemos o que eles farão com isso (Eclesiastes 3.19). O pregador experimenta um tipo de desespero sobre todo o seu trabalho debaixo do sol; parece tão inútil.
O trabalho de alguns, pela bênção de Deus, traz grandes riquezas em sua vida, mas, no final, significa nada. “Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio.” (Eclesiastes 5.15). Muitas vezes, os relacionamentos são injustos e favorecem mais a um do que a outro. Os ricos oprimem os pobres; os pobres procuram ser mais espertos que os ricos. Assim também ocorre nas relações de trabalho, este mundo é um lugar pecaminoso, onde a exploração e a sabotagem ocorrem, diariamente.
Devemos, por isso, ter uma visão mundana em relação ao trabalho? Nós a temos, mas a odiamos, e não podemos esperar até não precisarmos mais trabalhar. Mas podemos nos aposentar? Algumas pessoas tornam-se especialistas em parecer ocupadas, enquanto elas estão, na verdade, fazendo nada. Alunos aprimoraram essa tática na escola. Outros estão tão ocupados que, dificilmente, têm tempo para qualquer outra coisa. Já ouvi o ditado: meu trabalho também é meu passatempo.
Foque na alegria
No entanto, o mesmo livro da Bíblia nos diz, em vários lugares, que devemos nos alegrar com o nosso trabalho. Essa alegria deve ser vigorosamente perseguida e graciosamente dada. Em Eclesiastes 2.10, o pregador admite que, apesar da vaidade do trabalho e do labor,
“eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas.”
E, em Eclesiastes 2.24, lemos:
“Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?”
Apesar da dureza e do labor, somos encorajados a encontrar gozo e satisfação em nosso trabalho. Em Eclesiastes 3.12, lemos que encontrar satisfação em todo trabalho é “dom de Deus.” E, em Eclesiastes 9.7, encontramos um belo mandato: “Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras. Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol.”
A vida permanece sem sentido e vã em muitos aspectos, mas, sob a graça de Deus, ainda pode ser desfrutada; o dia a dia e os dons de Deus devem ser recebidos com gratidão e usufruídos com alegria. Podemos aproveitar o dia e os bons momentos, sobretudo quando somos jovens e estamos no meio dos negócios da vida. O tempo de labuta não exclui a recreação adequada.
No Senhor
Tudo isso encontra uma expressão maior e mais profunda no ministério de nosso Senhor Jesus Cristo. No livro de Eclesiastes, estamos apenas a meio caminho da história da redenção. A Bíblia também nos fala sobre a vinda de nosso Senhor a este mundo, sua morte e ressurreição.
É à luz dessa ressurreição, que é uma garantia da nossa própria ressurreição, que a vida ganha novo significado. Não podemos mais simplesmente dizer: “vaidade de vaidades, tudo é vaidade”. Pois Cristo ressuscitou. Essa vida de labor é vivida sob seu domínio. E Ele nos promete uma nova vida, mesmo a vida eterna, liberta do pecado e seus efeitos e livre também da dor do trabalho inútil.
Depois que Paulo finalmente demonstrou a verdade e o significado da ressurreição de Cristo, ele conclui com esta palavra:
“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.” (1 Coríntios 15.58)
Sei que “a obra do Senhor” significa, particularmente, o trabalho feito no ministério e serviço para construir a Igreja de Cristo. Contudo o nosso trabalho diário também deve ser visto nesta linha. Todo o nosso trabalho adquiriu um novo significado: não é vão no Senhor. Podemos construir com Cristo o reino dos céus e estarmos assegurados que ele voltará a exclamar: “Muito bem, servo bom e fiel”.
Talvez, em nosso trabalho diário, devêssemos concentrarmo-nos mais no Senhor Jesus Cristo e na vinda de seu reino. Isso dá sentido e direção ao nosso trabalho, em casa, no serviço, na fábrica, na escola ou seja lá o que for que façamos. Quando se trabalha com Cristo, você pode desfrutar do teu trabalho. Ainda haverá dias maçantes, mas podemos sempre olhar para o Senhor que dá força e bênção. Isso já provê alegria ao nosso trabalho.
Tradução: Gabriel Reis.
Revisão: Yuri Costa.
O website revistadiakonia.org é uma iniciativa do Instituto João Calvino.
Licença Creative Commons: Atribuição-SemDerivações-SemDerivados (CC BY-NC-ND). Você pode baixar e compartilhar este artigo desde que atribua o crédito à Revista Diakonia e ao seu autor, mas não pode alterar de nenhuma forma o conteúdo nem utilizá-lo para fins comerciais.