As contribuições voluntárias e a doação de nossos dons financeiros para o serviço do Senhor são um aspecto importante no planejamento orçamentário e financeiro de um povo cujo coração está em chamas e regenerado pelo Espírito de Deus. O saber como orçar e decidir qual será a nossa prioridade na gestão do nosso dinheiro pertence à nossa vida espiritual1. No Dia do Senhor 38, confessamos que manter o ministério do evangelho e as escolas é a primeira maneira como guardamos o dia do sábado como santo.
Além disso, somos instruídos a dar ofertas cristãs para os pobres. Mas existe uma diretriz bíblica que devemos seguir para determinar a quantidade de dinheiro que devemos contribuir para manter o ministério do evangelho, ou quanto devemos dar aos pobres? Temos ainda a mesma obrigação de dar se estamos desempregados, com dificuldade para pagar as dívidas ou estudando na faculdade ou na universidade?
As pessoas usaram o princípio do dízimo do Antigo Testamento como um padrão para as ofertas. O dízimo é dar uma décima parte das posses ao Senhor. A Israel foi ordenado fazer isso. Será que o mesmo princípio se aplica ao Novo Testamento? Em caso afirmativo, a que o dízimo se aplica? Essas são algumas das questões que responderemos neste artigo.
A primeira referência ao dízimo
Gênesis 14.20 é a primeira referência bíblica ao dízimo. Depois de uma batalha contra vários reis, Abraão é conhecido e abençoado por Melquisedeque, rei de Salém. Em troca, Abraão dá a ele “o dízimo de tudo”. Note bem, Abraão não deu a Melquisedeque um décimo de todos os seus bens ou de sua renda anual total, mas simplesmente um décimo de todo o despojo que tomou na batalha. A motivação de Abraão em dar é dupla.
Primeiro, ele dá uma contribuição voluntária em gratidão ao Senhor seu Deus; segundo, ele oferece a sua gratidão ao cuidar de um servo de Deus e prover a ele.
Após Deus aparecer a Jacó em Betel, Jacó fez um voto, dizendo,
“Se Deus for comigo … então, o Senhor será o meu Deus; e a pedra, que erigi por coluna, será a Casa de Deus; e, de tudo quanto me concederes, certamente eu te darei o dízimo.” (Gênesis 28.20-22)
Os dízimos, portanto, eram uma espécie de voto. Jacó promete dar o dízimo ao Senhor de acordo com a medida das suas bênçãos.
Preceitos para o dízimo
Quando o povo do Senhor recebeu a lei, o dízimo tornou-se obrigatório para mantê-lo na liberdade da salvação que tinha sido obtida para ele. A este respeito, existem várias passagens importantes que precisam ser investigadas. A primeira passagem é Levíticos 27.30-33:
Também todas as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor. Se alguém, das suas dízimas, quiser resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. No tocante às dízimas do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo do bordão do pastor, o dízimo será santo ao Senhor. Não se investigará se é bom ou mau, nem o trocará; mas, se dalgum modo o trocar, um e outro serão santos; não serão resgatados.
Nesta passagem, um outro princípio é ensinado. As regras comuns aos votos são aplicadas aos dízimos também. Um homem não deve prometer dar algo a Deus no calor do momento e depois se retrair do que prometeu fazer. Se uma pessoa prometesse dar o décimo de seus ganhos ao Senhor, mas falhasse em pagar seu voto, ela seria penalizada com uma sobretaxa de vinte por cento.
O dízimo tinha a ver com a fidelidade exigida ao povo de Deus. A ninguém seria autorizado ludibriar o Senhor. Israel tinha que reconhecer o direito de Deus como o dono e provedor de todas as coisas. O motivo subjacente para apresentar os dízimos ao Senhor era a confissão de que tudo o que o crente possui pertence ao Senhor.
O segundo texto importante está em Números 18.21-24. Lemos assim:
Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação. E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram. Mas os levitas farão o serviço da tenda da congregação e responderão por suas faltas; estatuto perpétuo é este para todas as vossas gerações. E não terão eles nenhuma herança no meio dos filhos de Israel. Porque os dízimos dos filhos de Israel, que apresentam ao Senhor em oferta, dei-os por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel, nenhuma herança tereis.
Esse dízimo é o salário para os sacerdotes e levitas. Deus assegurou que esses ministros do evangelho receberiam o sustento adequado sem preocupações. Os sacerdotes e os levitas não tinham fonte de renda de si próprios. Os israelitas deveriam dar dez por cento dos seus ganhos ao levita; para manter a ministério do evangelho. Os levitas, por sua vez, dariam dez por cento do que recebiam para o serviço dos sacerdotes.
O livro de Deuteronômio nos diz que os israelitas deveriam trazer seus dízimos para o lugar que o Senhor tinha escolhido para ser a sua habitação. O povo de Deus deveria apresentar seus dízimos como um ato de adoração no santuário de Deus (12.6, 11, 17) e para apoiar as festas e celebrações cerimoniais, como a Páscoa. Deuteronômio 14 e 26 apresentam um terceiro dízimo que aconteceria a cada três anos. Esse dízimo era destinado a atender às necessidades dos pobres, dos indefesos, das viúvas, dos estrangeiros etc.
Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os recolherás na tua cidade. Então, virão o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o Senhor, teu Deus, te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem. (Deuteronômio 14.28,29; cf. 26.12)
Observe como a misericórdia do Senhor também foi mostrada para aqueles que vieram de fora da comunidade de crentes. Eles não deveriam ser excluídos da graciosa provisão de Deus para o Seu povo. No terceiro ano, o dízimo era uma dádiva especial (extra) para os ministros do evangelho, para pessoas que vieram de fora da comunidade da aliança, para os órfãos e para as viúvas. Esses dízimos deveriam ser armazenados nas cidades de Israel e usados durante um longo tempo.
Ofertas voluntárias
Além do dízimo, o Antigo Testamento fala sobre ofertas voluntárias. Isto é demonstrado em pelo menos duas ocasiões. Uma oferta voluntária é dar o que você está disposto sem qualquer tipo de avaliação ou tributo envolvido.
O primeiro exemplo de uma oferta voluntária é encontrado em Êxodo 35 e 36. Moisés pediu ao povo ofertas de todos os tipos, incluindo pessoas para usar suas habilidades para ajudar a construir o tabernáculo, fazer decorações, tecer materiais e engastar as pedras preciosas que foram doadas. A resposta das pessoas foi arrebatadora. Elas doaram tanto que Moisés teve que pedir-lhes para parar de doar porque os artesãos tinham mais que suficiente para completar a obra!
O mesmo aconteceu quando Davi fez os preparativos para a construção do templo. O rei Davi decidiu coletar materiais de construção para que seu filho Salomão pudesse começar a construir o templo. O rei deu o exemplo de ser o primeiro a doar e de novo o povo deu de bom grado e de todo o coração (1 Crônicas 29.1-9).
Várias conclusões já podem ser extraídas das informações que obtivemos do Pentateuco e do livro das Crônicas.
- O que era dado como dízimo? Produtos agrícolas (animais e alimentos) ou dinheiro, se fosse mais conveniente. Se uma pessoa preferisse dizimar com dinheiro, ela precisaria adicionar mais vinte por cento. Isso asseguraria de que ela não pagaria suas obrigações ao Senhor com dinheiro de menor valor.
- Para quem os dízimos eram dados? Para os levitas e sacerdotes, para os pobres, viúvas e indefesos e para manter o serviço do Senhor em sua santa morada. Vale ressaltar que o dízimo era dado para prover para aqueles que serviam como ministros da Palavra e não para a manutenção das instalações do culto. A construção e manutenção do tabernáculo e do templo surgiram de um financiamento separado (Êxodo 35.20-29; 1 Crônicas 29.6-20; 2 Crônicas 34.8-13).
Por que os dízimos eram requeridos? Para Israel, os dízimos deveriam ser uma indicação de sua:
- Fidelidade. Os israelitas receberam bens materiais para serem usados para a glória do Senhor. O dízimo seria um reflexo de sua saúde espiritual. Através do dízimo, Israel cumpria seus votos ao Senhor (Levíticos 27).
- Justiça. Os direitos e os privilégios de outros membros da aliança deveriam ser mantidos; especialmente aqueles que não tinham nenhuma fonte de renda (Números 18).
- Misericórdia. O povo de Deus deveria mostrar compaixão e simpatia pelos que estavam em aflição (Deuteronômio 12, 14, 26).
Quantos dízimos Israel pagava? Alguns leem a legislação nos primeiros cinco livros da Bíblia sem qualquer pensamento ou consideração que mais de um dízimo podia estar em discussão. Nós tendemos a pensar que o dever de Israel era um dízimo e, depois disso, sua obrigação de dar era encerrada. No entanto, Israel era obrigado a pagar um dízimo aos levitas, um dízimo às festas sagradas (Deuteronômio 14) e um dízimo a cada três anos aos necessitados. Israel pagou muito mais de dez por cento dos seus ganhos. A maioria das vezes era entre vinte a trinta por cento de sua renda. Mais tarde, os reis também exigiriam um imposto sobre o que era dizimado.
Além do dízimo, os israelitas também precisavam dar dinheiro para redimir o primogênito, o imposto do meio-siclo, uma série de animais para os sacrifícios, e as primícias (estimado em cerca de um sexagésimo de todos os produtos dos campos e rebanhos).
Israel demonstrou frutos de fé por sua boa vontade em dizimar e contribuir voluntariamente das bênçãos que Deus lhe dera. Era um reflexo de sua saúde espiritual.
Roubará o homem a Deus?
Um texto importante é Malaquias 3.8-10. O Senhor adverte os exilados que retornaram sobre sua falha em trazer a Ele o que Ele exigiu deles. Ele diz:
“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida.
O problema
Por que o Senhor precisou dizer isso? Por que o povo de Deus deveria trazer seus dízimos para a casa do Tesouro? Aqueles que foram abordados pelo profeta Malaquias tinham tornado a vida da aliança de cabeça para baixo. Eles disseram: “Nós traremos os dízimos, mas o Senhor deve primeiro fazer sua parte. Precisamos ver e receber mais de suas bênçãos antes de podermos dar. Como poderemos dar se não recebemos muito?” Para colocar isso nos termos de hoje: “Como podemos contribuir com o orçamento da igreja quando não temos dinheiro?” Mas o Senhor refuta esse raciocínio. Ele lembra ao seu povo, e a nós também, que na relação da aliança devemos primeiro trazer nossos “dízimos” e mostrar que confiamos, obedecemos e acreditamos que Ele nos abençoará.
Israel é acusado de uma ofensa grave. Eles tinham violado o oitavo mandamento por roubarem a Deus. No entanto, o povo escolhido pelo Senhor age como se não soubesse do que o Senhor está falando. “Por que precisamos nos arrepender e nos voltar para Deus? Nunca nos afastamos dEle. Como estamos roubando Deus?” Como Israel não vê seus próprios pecados, a única coisa que resta fazer é envergonhá-los apontando para um exemplo flagrante de onde recusaram recorrer ao Senhor. Por não trazer seus dízimos, Israel não só foi simplesmente mesquinho e negligente, mas eles quebraram a aliança com o Deus imutável. Eles se desviaram dos estatutos de Deus e não os guardaram. Mesmo assim, o Senhor continua a chamá-los para retornar: “Tornai-vos para mim… e eu me tornarei para vós outros”.
Quando nosso coração está com o Senhor, isso se manifestará em nossa vontade de dar dos produtos e ganhos de nosso trabalho para manter o serviço do Senhor. O Senhor nos pergunta a todos: “Vocês me amam? Vocês se deleitam em me adorar?”. É fácil para nós respondermos,” Sim, nós Te amamos com todo o nosso coração.” Quem não diria isso? Mas isso também deve se manifestar em ação. Nossa prontidão para dar ao Senhor e manter o ministério do evangelho expõe o que vive em nossos corações. O Senhor queria que Israel trouxesse seus dízimos para sua casa sem reservas. Ele queria que eles mostrassem fidelidade, confiança e obediência. Ele exigiu isso de seu povo da aliança na antiga dispensação, mas ainda mais de nós hoje. Pois conhecemos mais plenamente a fidelidade imutável de Deus. Ele não nos demonstrou isso da maneira mais profunda possível? Não enviou Ele seu Filho para ser o Salvador de todo o nosso ser?
Dando apesar/independentemente das circunstâncias
Além disso, Malaquias 3 nos ensina que o povo de Deus também deve dar para o serviço do Senhor sob circunstâncias econômicas difíceis. Os exilados retornados não davam porque achavam que não tinham o bastante. Eles haviam sido atormentados pela seca e por uma infestação de gafanhotos. Mas dificuldades não mudam a lei de Deus concernente ao dízimo. Ao povo da aliança não era permitido usar o mau estado da economia ou seus próprios problemas financeiros como desculpa.
Os atingidos pela pobreza também devem dar ao serviço do Senhor. A viúva com as duas moedas certamente entendeu esse princípio. Encontramos a história registrada nos dois primeiros versículos de Lucas 21.
Estando Jesus a observar, viu os ricos lançarem suas ofertas no gazofilácio. Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas; e disse: Verdadeiramente, vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. Porque todos estes deram como oferta daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, todo o seu sustento.
Os ricos e os pobres devem dar, uma vez que ambos devem confiar em Deus para ajudá-los.
Dizimando um ato de adoração
O dízimo estava envolto em confissão e adoração. Dar para a continuação do ministério do evangelho e para prover os necessitados é um ato de adoração que não deve ser feito descuidada ou desconsideradamente. O que você coloca no coletor de oferta ou o quanto você dá para o orçamento da igreja é um ato de fé. No entanto, a contribuição financeira não é o único meio em que devemos dar ao Senhor. Falhar em dar o nosso dinheiro não é a única maneira pela qual podemos roubar a Deus. A doação financeira nunca deve se tornar a saída da pessoa preguiçosa ou uma desculpa para não dar nosso tempo, talentos e energia. O corpo local de crentes precisa do tempo e talentos de todos ao longo da semana — não apenas no Dia do Senhor.
O dízimo de Israel era acompanhado por uma profissão de fé e confiança em Deus. Eles colocariam seus dízimos diante do altar do Senhor e adorariam a Deus, declarando sua gratidão e louvando a Deus por tudo o que eles e suas famílias receberam. Devemos aprender a fazer o mesmo.
Nesta passagem, o Senhor nos desafia a colocá-Lo à prova:
“Provai minha fidelidade. Ofertai com coração alegre e generoso e eu ricamente vos abençoarei.”
Este é um ato de fé, especialmente para os afligidos pela pobreza. No entanto, Deus diz: “Oferte. Lance-se completamente em minhas mãos e você não ficará desapontado.”
O dízimo é ainda requerido?
O povo de Deus é ordenado a trazer o dízimo para mostrar que é totalmente dependente do Senhor seu Deus. Eles devem acreditar que Ele os abençoará com suas provisões diárias. Mas o dízimo ainda é válido hoje da mesma forma obrigatória como era no Antigo Testamento? Precisamos dar dez por cento do nosso salário para a igreja ou para o trabalho dos diáconos? Malaquias 3.10 é muitas vezes referido como uma razão pela qual devemos manter a prática hoje. Deus não ordena a eles e a nós que tragamos os dízimos à casa do Tesouro?
Devemos ter cuidado para não esquecer que Deus acusa seu povo de roubá-lo nos dízimos e nas ofertas. O dízimo e a oferta pertencem a uma parte substancial da manutenção da equipe do templo. A oferta é claramente uma parte da lei cerimonial (ver Êxodo 29.27, 28, onde esta oferta é descrita).
É então correto pegar o dízimo de todo o sistema de contribuição do Antigo Testamento e aplicá-lo à igreja cristã? A regulamentação do dízimo do Antigo Testamento, para ser aplicada hoje, deve ser mantida na sua íntegra. Alguns argumentam que o dízimo não pertence às leis cerimoniais, mas às leis morais imutáveis. Eles baseiam seu argumento no fato de que Abraão e Jacó também deram dízimos. Mas isso pode ser apoiado com evidências do Novo Testamento? Isto, é claro, é o teste final.
Dizimando no Novo Testamento
Há duas referências ao dízimo no Novo Testamento: Mateus 23.23 e Lucas 11.39-44. Ambas se referem ao mesmo incidente. Jesus repreende os fariseus e escribas,
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!”
O dízimo devia ser uma oferta alegre de amor, mas os fariseus o tornaram em um fardo para ser calculado nos mínimos detalhes. Tais detalhes não eram exigidos pela lei de Deus. Cristo não condena o dízimo, mas condena o fato de que eles negligenciam questões mais importantes. Os fariseus se concentram no supérfluo e ignoram o que é importante. Exatamente as coisas que o Senhor queria ver presente no dízimo — a misericórdia, a justiça e a fidelidade — faltam. No entanto, só porque Cristo não abole o dízimo, isso não significa que Ele quer nos ver usar essa prática hoje. Não esqueça que as cerimônias do Antigo Testamento são cumpridas na morte de Cristo.
Confessamos no artigo 25 da Confissão Belga que as cerimônias e símbolos da lei foram cumpridas em Cristo, “de modo que o uso delas deve ser abolido entre os cristãos”. Mas o artigo continua:
“Contudo, a verdade e a substância delas permanecem para nós…”. Embora o dízimo não seja mais exigido de nós, manter o ministério do evangelho e cuidar dos pobres com certeza o é. Nosso Senhor Jesus nos liberta do pecado, mas não nos liberta de nossos compromissos.
Ele nos manda “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. (Mateus 6.33)
O Senhor quer que demos de acordo com a medida de nossas bênçãos. O princípio do dízimo nos fornece uma diretriz clara sobre o que devemos dar.
Os regulamentos do dízimo não podem ser aplicados ao Novo Testamento como eram ao Antigo. Nós não vamos à igreja com vacas, ovelhas ou sacos de grãos.
A verdade e a substância da oferta do Antigo Testamento
Tendo dito isso, nós acreditamos que a verdade e a substância do dízimo permanecem conosco. O Senhor nos ensina muitos princípios valiosos através do dízimo. Por exemplo, aprendemos:
- A vida cristã exige um bom orçamento de acordo com a Palavra de Deus. Você não deve “matar-se de compras.” É preciso fazer uma distinção entre necessidade e ostentação. Vivemos em um momento em que muitas ostentações foram transformadas em necessidades. Um estilo de vida que uma vez estava associado à realeza tornou-se uma necessidade e qualquer pessoa que não é capaz de ter esse padrão é considerada como que vivendo abaixo da linha de pobreza. O cuidar de suas necessidades tornou-se uma questão de cuidar de seus desejos. As necessidades são aquelas coisas que são necessárias para servir o Senhor nesta vida e que promovem o bem-estar de sua igreja e a vinda de seu reino. Sabendo que o Senhor providenciará todos as nossas necessidades e percebendo que o Senhor colocou restrições sobre o que podemos pedir, Agur ora em Provérbios 30.5-9,“Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso. Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra: afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o Senhor? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus.”
- As contribuições voluntárias devem ser um ato de amor, fidelidade, justiça e misericórdia. Aqueles que amam O Senhor não deveriam ser forçados a dar. Como membros da igreja de Cristo, seguimos o princípio de 2 Coríntios 9.7,
“Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.”
“Voluntariedade” certamente não significa que seja nossa decisão se queremos ou não dar, mas nós damos partindo de um coração dedicado ao Senhor.
- Dar para o orçamento da igreja e para o trabalho dos diáconos é uma questão espiritual. A fidelidade à vontade de Deus deve ser aparente na maneira como gerenciamos nosso dinheiro e nossas posses. O Senhor possui tudo. Todas as nossas posses são nos dadas por Ele. A falha em reconhecer Deus como o dono de todas as nossas posses é uma violação do oitavo mandamento (não furtarás).
- Em nossa sociedade, o grande estresse é colocado em investir sabiamente para um futuro financeiramente seguro. De fato, o Senhor nos manda usar nosso dinheiro de forma responsável. No entanto, estamos usando incorretamente nosso dinheiro se ele for todo investido no nosso futuro sem ter qualquer preocupação com as responsabilidades que Deus coloca sobre nós. Precisamos ser bons investidores no reino dos céus. O dinheiro e as posses que o Senhor nos permite devem ser usados em seu serviço. Eles pertencem ao Senhor (Salmo 24.1; Levíticos 27.30) e são para ser usados para seu propósito e obra.
- Sustentar o ministério do evangelho, para a formação de estudantes para o ministério e para a obra missionária deve ser uma das nossas principais prioridades (Dia do Senhor 38). Esses são todos os itens incluídos no orçamento da igreja.
- Se o princípio do dízimo do Antigo Testamento é usado como orientação, devemos ter cuidado para evitar a armadilha do legalismo que sugere: “Enquanto pagarmos nossos dez por cento à igreja, então nós fizemos nossa parte e não teremos um presbítero batendo em nossa porta”.
- Contribuir para a igreja não significa que todos devem dar a mesma quantia. Nós devemos dar de acordo com a medida que o Senhor nos abençoa. Para um israelita, isso poderia significar dar cinco vacas e, para outro, dez. Pagar absolutamente nada quando temos uma renda é um mau uso dos dons de Deus.
- Quando nosso coração estiver com o Senhor e quando realmente desejarmos viver de acordo com sua Palavra, a entrega de contribuições voluntárias não será o último item no nosso orçamento, mas o primeiro. Todos os anos (ou mais frequentemente) estaremos dispostos a analisar se estamos realmente fazendo nossa participação.
- Os jovens devem ser ensinados sobre responsabilidade financeira. Vivemos em uma sociedade que se prega “o eu primeiro”. Nossos filhos devem ser ensinados que, assim que começarem a ganhar dinheiro, eles têm a obrigação de dar. Muitas vezes, o dinheiro é posto de lado para comprar um veículo, para mais educação, para um casamento em breve, para um pagamento inicial na propriedade, mas nada ou muito pouco é dado às despesas da igreja. Além disso, os pais devem ensinar seus filhos a conhecer a diferença entre contribuições voluntárias e provisões para os necessitados. Ambas precisam ser supridas.
Nota:
1. Esta responsabilidade é assumida pelos membros das igrejas reformadas por ocasião das suas profissões de fé. O artigo 11 da Forma de Pública Profissão de Fé diz: “11. Você promete observar o Dia do Senhor, especialmente para dar culto a Deus junto com os demais crentes e ajudar a manter o ministério da Palavra e a obra diaconal com as suas ofertas? Prometo.”
Rev. P.G. Feenstra é um ministro da Igreja Reformada Canadense de Grand Valley, Ontário.
Tradução: Gabriel Reis.
Revisão: Iraldo Luna.
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