A herança e o culto

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frente da casa com o portão de madeira

Se um ente querido morre, uma data após o funeral é marcada para ler sobre a última vontade ou testamento de quem partiu. Esta é uma ocasião importante e solene, um momento que ninguém da família quer perder. A herança será distribuída.

Proclamação e herança

De uma maneira real, nossos cultos de adoração no Dia do Senhor são dessa forma. Afinal, não nos é dito que, a proclamação da Palavra é sobre as riquezas que são nossas por causa da morte de Cristo? Ele morreu e, portanto, sua vontade ou testamento agora pode ser lido e a herança que Ele deixou deve ser distribuída! Esta é uma das razões pelas quais nós como cristãos não podemos perder o culto ao Senhor. As riquezas do Novo Testamento, que substituíram a antiga Aliança, são aqui proclamadas. E podemos nos alegrar com esses tesouros!

Jesus Cristo morreu, isto é, no contexto da herança, são boas notícias. Pois, como as Escrituras apontam, antes que um testamento possa ter efeito, aquele que fez o testamento deve morrer. Bem, Cristo morreu e, como resultado, temos uma grande herança vindo em nossa direção (Hb 9.15-17). Ele deu sua vida, porque Ele tinha que morrer — não apenas de acordo com a lei normal que rege vontades ou testamentos, mas também, especialmente, de acordo com os princípios que governam o testamento e a vontade de Deus feita com o homem. De acordo com a antiga Aliança (o Antigo Testamento), o sangue tinha de ser derramado para a expiação do pecado (Êx 24.8); e de acordo com a nova Aliança, é da mesma forma. O sangue da aliança tinha de ser vertido e derramado por Jesus Cristo (Mt 26.28; Hb 9-10).

É por isso que a morte de Cristo é tão cuidadosamente documentada nas Escrituras; sem essa morte, a vontade não poderia entrar em vigor. Sim, sem essa morte o pacto não pode ser cumprido. Percebe-se que existe uma relação muito próxima entre “vontade”, “testamento” e “aliança”. De fato, essas expressões têm origem da mesma palavra no grego em Hebreus 9.15-18, que trata do nosso assunto, mas essa palavra é traduzida em diferentes termos em inglês conforme o contexto.

A morte de Cristo significa que as riquezas da nova Aliança são nossas. A nova Aliança — não é mais com a morte e com o sangue de animais que a tornam válida. Agora, o cumprimento de todas essas sombras do Antigo Testamento chegou! O Filho veio para cumprir a função do testador, criador do testamento. “Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem” (Hb 2.9). Com a sua morte, Ele pôs em prática o Novo Testamento ou a Nova Aliança!

Celebrando a morte

A morte de Cristo forma o coração do Evangelho e é, portanto, um foco central da pregação das boas novas de Cristo. Isso faz do Dia do Senhor um tempo de alegria e celebração. Além da proclamação da Palavra, Cristo também ordenou que nos lembrássemos e celebrássemos a sua morte no sacramento da Ceia do Senhor. Pode parecer paradoxal celebrar uma morte. Para ter certeza, a Ceia do Senhor é uma lembrança sóbria de fatos solenes: o horror da agonia, do sofrimento e da morte de Cristo — uma morte é relembrada. Mas, no entanto, é também uma lembrança exultante! Pois o sangue da Aliança foi derramado para perdão! Sim, e tem mais. É a celebração e não uma reunião moderada, como quando uma propriedade está sendo dividida. Ele que através da sua morte, trouxe a herança como uma realidade nas nossas vidas! O testador que morreu, vive! “Ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela” (At 2.24).

Afinal, Ele morreu a fim de pôr em prática as provisões do seu testamento a respeito da nossa redenção. Portanto, Ele entregou sua vida e, tomou-a novamente (Jo 10.17-18). É por isso que relembrar sua morte pode ser uma celebração! Ele vive! Ele mesmo é a garantia de que essas riquezas da herança são nossas. Ninguém pode impedir que os benefícios da nova Aliança nos encontrem, pois esta é a vontade dEle, Ele deseja que sejamos ricos por meio dEle e nEle, pois Ele vive! Ele vive para distribuir suas dádivas de amor! E nem o diabo nem demônios podem impedir essa distribuição de Sua graça! Portanto, podemos ser corajosos.

Uma rica herança

As riquezas que fluem da morte de Cristo são muitas. Em primeiro lugar, como foi mencionado, temos o perdão de todos os nossos pecados (Hb 9–10). Esse tesouro enorme e inestimável faz-nos justos para com o santo Deus e nos qualifica para compartilhar a herança que nos foi dada como filhos de Deus (Cl 1.11-14). Como lemos na carta aos Romanos: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17). Isso instiga a imaginação para compreender o que significa — coerdeiros com Cristo. Permitam-me apenas mencionar o seguinte: Cristo é o herdeiro de todas as coisas (Hb 1.2). Com Cristo, portanto, herdaremos Reino (Mt 25.34).

Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?” — Tg‬ 2.5

O Reino que está vindo em toda a perfeição englobará esse mundo, porque os filhos de Deus, os mansos, herdarão a terra na qual vivemos agora (Mt 5.5). É esse mundo, agora em trevas, que um dia será renovado (cf. Rm 8.19-23). Então, nós iremos reinar com Cristo (2 Tm 2.12).

Mas, a nossa herança é ainda maior que um reino terreno. Quando somos coerdeiros com Cristo, não somente recebemos o reino, mas o próprio Deus é a nossa porção e nossa herança. Esta foi a herança que os cristãos do Antigo Testamento já podiam esperar. Como expresso no Salmo 73: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre” (vs. 25–26). E como o que lutava contra a ruína de Jerusalém podia confessar: “A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele” (Lm 3.24). A parte mais bela da herança é estar com Deus para sempre em glória para desfrutar da comunhão com Ele em perfeita paz e satisfação. Tudo isto surpreende a nossa mente. Não apenas herdaremos o reino, mas estaremos em perfeita comunhão com o próprio Deus e o veremos (Sl 17.15; Ap 22.4). Isso é possível por sermos coerdeiros com Cristo, que revela a glória do Pai (Jo 1.18; 17.24; cf. Rm 8.17).

Uma herança garantida

A maravilha do culto no Dia do Senhor é que esse glorioso Evangelho da herança é proclamado. Através da pregação regular da Palavra, o Espírito Santo de Deus confirma essa mensagem para que sejamos fortalecidos em nossa fé e possamos nos beneficiar diariamente do tremendo encorajamento e consolo que o Evangelho nos trás. Em sua graça, Deus também usa os sacramentos para essa confirmação, especialmente nesse contexto, a Ceia do Senhor. A herança é certa. O testador morreu e vive para dar sua bênção incessante (cf. Lc 24.50-51). Eis a outra maravilha de ir à igreja para adorar no Dia do Senhor. Nós recebemos a bênção, tal como:

A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” — 2 Co 13.13

Mesmo tendo Deus por herança, os herdeiros do reino não querem desperdiçar os cultos de adoração:

Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor” — Hb 12.28

E quando nós adoramos, Deus em sua graça confirma a herança através da proclamação, do sacramento e da bênção! Você gostaria de perder esse bem precioso?


Tradução: Morgana Mendonça.

Revisão: Ester Santos.

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