O trabalho dos diáconos – perguntas e respostas

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moedas empilhadas em cima da mesa

Pergunta: Como diácono, encontro pessoas na igreja com necessidades financeiras, mas elas se recusam receber ajuda diaconal. Qual deve ser a posição da igreja quando membros em necessidade preferem receber ajuda do Estado?

Resposta: Esta é uma pergunta feita com frequência pois muitos diáconos são confrontados com isto de formas diferentes. Isto também levanta várias questões pois a Bíblia é clara ao dizer que a obra de caridade entre os cristãos é responsabilidade da igreja.

Uma busca no material bíblico no Antigo e Novo Testamentos estabelece esse ponto com facilidade. No Antigo Testamento encontramos o chamado constante para que a comunidade de Israel não explorasse o fraco e o vulnerável, e sim, cuidasse das necessidades das viúvas, órfãos e estrangeiros (Êx 22.22,23; Dt 10.18,19; Sl 146.9). Também encontramos leis e práticas que protegiam e davam assistência ao pobre, tais como empréstimos sem juros, perdoáveis (Lv 25.35-37; Dt 23.19-20), no dízimo trianual (Dt 14.28-29), no que restava das colheitas (Lv 10.9,10), e no direito de resgate da terra (Lv 25.23-24).

O Novo Testamento baseia-se neste legado. Vemos isto com clareza em Atos 6 e outros lugares no livro de Atos. Vemos isto na instituição do ofício de diácono (At 6.1-6). Outra referência de grande importância é encontrada em 2 Coríntios 8 e 9, onde vemos que compartilhar é seguir o exemplo de Cristo e o alvo é assistir as necessidades básicas dos outros.

Em resumo, os dados bíblicos não deixam dúvidas. A igreja tem um chamado quanto a questão dos pobres.

Mas, e o Estado? Eu diria que enquanto o atual envolvimento do Estado na ajuda aos necessitados é lamentável, ela não pode ser descartada. Alguém poderia argumentar de forma persuasiva que se a igreja tivesse feito o seu papel no passado e tivesse mantido o seu papel central na sociedade, o Estado não precisaria se envolver nesta questão. Contudo, o declínio da igreja e o crescimento dos descrentes resultou em uma grande parte da sociedade se tornar ignorante do papel da igreja, eassim, não ter acesso à ajuda econômica. É nesta brecha que o Estado entrou.

Portanto, isso significa que a igreja e seus diáconos precisam reconhecer esta nova realidade — apesar de triste. O envolvimento do Estado tem se tornado um fato na vida.

Isso significa que os necessitados dentro da igreja deveriam ser encaminhados para o Estado? Não; com o tempo tenho estado mais e mais convencido de que o Estado e a igreja precisam trabalhar juntos nisto. Se membros estão em necessidade financeira, eles deveriam ser encorajados a falar com os diáconos. Junto com eles, os membros deveriam ser encorajados a avaliar suas necessidades.

Se a ajuda é de curto prazo, administrável e de natureza emergencial, deixe que os diáconos lidem com isso por si mesmos. Por outro lado, se a assistência necessária será de longo prazo e envolverá uma quantia considerável de dinheiro, então deve-se explorar e utilizar os vários programas de assistência estatal disponíveis.

Agora, eu sei que alguns de vocês questionarão este conselho. Vocês podem pensar ser sempre errado encaminhar os membros da igreja para tais agências estatais e que a igreja tem o dever de cuidar disso sozinha.

Eu não concordo com esta ideia. É necessário reconhecer o fato de que se você trabalhar e é um cidadão, você está ligado a várias formas de assistência. No Brasil, funcionários pagam impostos para que os desempregados, aposentados e pensionistas possam ter algum recurso. Então, se você paga impostos, você também tem o direito de fazer uso dos benefícios, caso necessário.

Pergunta: Os diáconos deveriam esperar ser procurados pelos necessitados ou eles deveriam ser mais proativos?

Resposta: Em meu ministério e em meu papel como alguém que visita igrejas, eu tenho visto dois cenários. Eu tenho visitado igrejas nas quais os diáconos coletam dinheiro, contam, e então esperam pela ligação de alguém em necessidade. Eles não observam ativamente os pobres em seu meio. Eles não saem em busca deles. Os necessitados têm de ir até eles.

Por outro lado, também tenho visitado igrejas nas quais os diáconos são muito ativos. Eles verificam o pulso da congregação com frequência. Eles se informam rapidamente sobre onde há alguma necessidade ou possível necessidade, e então estes diáconos visitam tais pessoas. Na maioria dessas igrejas os diáconos tinham também alas ou setores pelos quais eram responsáveis.1 Então, um diácono estudaria seu setor e o separava em várias partes. Pessoas idosas e pessoas jovens, doentes e saudáveis, empregados e desempregados, aposentados e jovens casais, solteiros e casados. Depois de fazer isto, ele estabeleceria prioridades e visitaria primeiro aqueles em maior necessidade.

De acordo com as opções acima você já pode imaginar que sou mais favorável à última, e mais crítico da primeira. No Antigo Testamento a provisão feita para os pobres não dependia deles saírem e pedirem por isso. Ela deveria ser providenciada independente disso. No Novo Testamento os diáconos não inventaram o suporte às viúvas porque elas exigiam isso. A ajuda estava disponível como uma característica da vida da igreja.

Da mesma forma, diáconos hoje precisam estar na ofensiva. Leia a “Forma de Ordenação de Presbíteros e Diáconos”. Ela diz, dentre outras coisas, que “é a responsabilidade dos diáconos zelar pelo bom progresso do serviço de caridade na Igreja. Eles devem conhecer pessoalmente as necessidades e dificuldades que existem”.2 A última citação, em especial, é óbvia o bastante. Diáconos, vocês precisam conhecer as necessidades das pessoas! Vocês precisam ser proativos.

Pergunta: E quanto a questão de orçamento? Os diáconos têm o direito de exigir que os membros em necessidade apresentem um orçamento doméstico?

Resposta: A resposta para esta pergunta pode variar. Se um membro precisa de uma ajuda de curto prazo, e os diáconos estão convencidos de que o membro tem suas finanças sob controle, então não haverá necessidade de solicitar um orçamento doméstico.

Por outro lado, se a ajuda é considerável, de longo prazo, e existem sérias dúvidas sobre a habilidade do membro manejar bem o seu orçamento, então um orçamento pode ser solicitado. Eu diria até mesmo que a recusa do membro em apresentar um orçamento deve ser razão para encerrar a ajuda. Digo isto pois, enquanto os diáconos devem ser generosos eles também precisam agir de forma responsável. O dinheiro recebido é confiado a eles. Isso representa a generosidade de Jesus Cristo, nosso Senhor.

É claro, eu percebo também que, com frequência, não basta apenas aos diáconos solicitarem um orçamento de um certo membro, mas ensinar as pessoas como fazê-lo. Infelizmente, alguns membros não sabem como fazer um orçamento por não terem sido ensinados e/ou porque nunca quiseram aprender.

Esta parece ser uma tarefa frustrante e que consome muito tempo para os diáconos. Porém, precisa ser feita. Isto faz parte do trabalho. Falhar em ensinar como fazer um orçamento quase sempre resultará em pessoas presas em constante crise nas finanças e na administração.

Se como diáconos vocês precisarem de ajuda para ensinar os membros a como fazer um orçamento e lidar com suas finanças, eu os encorajaria a fazer uma visita a uma livraria. Em geral, eles possuem materiais que podem servir de ajuda. Busquem livros assim. Leia-os cuidadosamente.3

Bem, chegamos ao fim deste artigo. Espero que tenha servido de ajuda para vocês.

Notas:
1 Nas igrejas reformadas existe a prática de dividir a membresia em setores e grupos. O setor pode ser uma localidade (por exemplo: um bairro). Os grupos são compostos por famílias, casais e membros solteiros. Cada setor e grupo tem um ou mais oficiais diretamente responsáveis por eles. Esses oficiais visitam para supervisionar e servir os membros que lhes são confiados; e relatam ao Conselho (ou a Diaconia) o trabalho feito em seus setores e grupos. [N. do E.]
2 Para acessar todo o Regimento e a Forma de Ordenação de Presbíteros e Diáconos das Igrejas Reformadas do Brasil, acesse o seguinte link: http://www.igrejasreformadasdobrasil.org.
3 O autor sugere as obras de Larry Burkett, inclusive o site Crown Financial Ministries (https://www.crown.org/). Existe uma versão do curso da Crown Financial Ministries em português (https://www.udf.org.br/areas-atuacao/crown-2/). O conselho do autor do artigo a respeito deste material é: leia atentamente, pese suas ideias e implemente o que você julgar útil. [N. do E.]


Artigo publicado originalmente na Revista Diakonia (Canadá), 2002.

Tradução: Marcel Tavares.

Revisão: Thiago McHertt.

Licença Creative Commons: Atribuição-SemDerivações-SemDerivados (CC BY-NC-ND). Você pode baixar e compartilhar este artigo desde que atribua o crédito à Revista Diakonia e ao seu autor, mas não pode alterar de nenhuma forma o conteúdo nem utilizá-lo para fins comerciais.

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