2 Coríntios 3:8 – O Espírito e os Ofícios Especiais

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“…como não será de maior glória o ministério do Espírito!” 2 Coríntios 3:8

Para muitas pessoas há um forte contraste entre a obra do Espírito Santo e a dos ofícios eclesiásticos na igreja. Grupos pentecostais e o movimento carismático, especialmente, fazem importantes questionamentos acerca da estrutura dos ofícios especiais tais quais os das igrejas Reformadas. Não seriam estes ofícios uma ameaça à espontânea e penetrante obra do Espírito? O ministério dos oficiais  não sufocaria a liberdade da congregação? Deveria uma congregação verdadeiramente carismática livrar-se de todas estas estruturas tradicionais de ofício?

Quão pouco entendem da Escritura fica imediatamente evidente pelo fato de que no Novo Testamento não há o mínimo contraste entre o Espírito Santo e os ofícios especiais na igreja. É surpreendente que o ofício especial é chamado de “charisma”, um dom gracioso de Cristo através do Espírito. Paulo fala da graça de seu apostolado (cf. Rm. 1:5; 1 Co. 3:10; 15:10). Em Efésios 4:11 o mesmo apóstolo ensina a congregação a considerar os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres como dons alegres de Cristo ao seu povo.

Que o Espírito e os ofícios especiais estão realmente conectados é claro também nas impressionantes palavras de despedida de Paulo aos presbíteros em Éfeso: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.” (Atos 20:28). Paulo diz aqui que é o Espírito Santo quem escolhe os presbíteros sobre a congregação. Os presbíteros são

instrumentos do Espírito de Cristo. É do seu agrado fazer sua obra nos corações e vidas do povo através dos oficiais na igreja.

É bastante evidente, em 2 Coríntios 3, que o Espírito e os ofícios especiais não formam um contraste entre si. Neste capítulo, claramente encontramos o Espírito e o apostolado juntos. Em nosso texto, Paulo até mesmo define seu trabalho apostólico como “o ministério do Espírito que será de maior glória.”

Alguém tipificou a segunda carta de Paulo aos Coríntios como o “apostolado em opressão e consolação.” É possível dizer algo a respeito, pois em nenhuma de suas cartas Paulo fala tanto sobre seu apostolado como o faz aqui. Havia uma razão para isso. Na congregação em Corinto algumas pessoas fizeram muitas críticas a respeito do apóstolo Paulo. Alguns o consideraram um apóstolo de segunda categoria. Paulo tinha grandes pretensões, mas seria ele verdadeiro? Poderia requerer reconhecimento por seu trabalho entre os coríntios, sendo que muitas vezes este trabalho era tudo, menos espetacular?

Aqui o apóstolo vai mais fundo nestas questões críticas. Paulo não precisa de cartas de recomendação. A própria congregação em Corinto é sua carta de recomendação, uma carta de Cristo, escrita com o Espírito, conhecida e lida por todos. A existência da congregação é a prova de que Paulo é, de fato, um apóstolo, e pode exigir ser reconhecido. A existência da congregação demonstra, sem dúvida, o abundante fruto do trabalho de Paulo em Corinto. Há crentes em Corinto, há uma congregação, e há ricos dons do Espírito. Tudo isto deveria convencer os coríntios de que o apostolado de Paulo é legítimo. Para uma prova tangível, deveriam apenas olhar para si mesmos!

Falando sobre o maravilhoso fruto de seu apostolado, Paulo chega a comparar seu ministério àquele outro importante ministério do Antigo Testamento, a saber, o de Moisés.

Aquele ministério também veio em glória. Em Êxodo 34 lemos que a face de Moisés brilhava, porque tinha falado com Deus no Monte Sinai. O brilho da face de Moisés era tão glorioso que os israelitas não podiam suportá-lo. Moisés teve de colocar um véu sobre seu rosto para poder associar-se com o povo.

Ainda em comparação com o apostolado de Paulo, o ministério de Moisés era muito imperfeito. Surpreendentemente, Paulo o chama de “o ministério que trouxe a morte, gravado com letras em pedra.” Do Monte Sinai Moisés trouxe as tábuas gravadas com as Dez Palavras da aliança, mas não trouxe o poder necessário para observar esta santa e boa lei de Deus (cf. Rm. 7:12).

Em 2 Coríntios 3 Paulo não nega a obra do Espírito na antiga aliança. Ele sabe que alguns israelitas temeram ao Senhor. Mas ele chama o ministério de Moisés de acordo com o que mais o definiu: o levar à morte. Trata-se de uma história que, ao fim, terminou na rejeição de Israel no exílio.

Contra o triste resultado do ministério de Moisés, Paulo agora proclama a glória do seu apostolado. É o ministério do Espírito, ainda mais glorioso. Toda a glória do ministério de Moisés é superado por esta glória maior. Pois Paulo, como um apóstolo, pode trabalhar com base na nova aliança, no sangue de Cristo (cf. Lc. 22:20). E o grande dom desta nova aliança é o Espírito Santo, o Espírito que muda e renova corações e vidas, que não mata, mas faz viver (cf. 2 Co. 3:6). Este Espírito faz o que a lei exige e dá o poder para viver de acordo com a lei. Portanto, Paulo pode tipificar seu ministério como aquele que traz justiça (2 Co. 3:9). Onde quer que o povo ouça a esta pregação, é trazido à justa relação com Deus, e anda como um povo justo.

Moisés deu a Israel a carta da lei. Mas o ministério de Paulo é maior: seu apostolado traz o Espírito à congregação da nova aliança, o Espírito que cumpre a profecia de Jeremias 31:33 e Ezequiel 36:27. Assim, o ministério de Paulo é infinitamente mais glorioso do que aquele de Moisés. Pois através do ministério de Paulo a congregação recebe o Espírito Santo!

Quem quer que pense estarem em oposição o Espírito e os ofícios especiais, falha em reconhecer o modo pelo qual o Espírito de Pentecostes deseja atuar. Os ofícios especiais são os instrumentos do Espírito. Através do ministério dos ofícios, o Espírito deseja transmitir aos crentes o que têm em Cristo. Desta forma, ele traz às nossas vidas toda a salvação obtida por Cristo.

O livro de Atos mostra claramente que os ofícios são o ministério do Espírito, em glória; é este nosso ponto. Os apóstolos pregam o evangelho. Paulo faz

suas viagens missionárias, conduzido pelo Espírito Santo (cf. Atos 13:2; 16:6). Através de todo este labor do oficial ordenado, o Espírito trabalha e estabelece congregações em todo lugar.

Quando congregações são estabelecidas pelo milagre do Espírito, Paulo e Barnabé escolhem presbíteros (cf. Atos 14:23). Eles são assim escolhidos pelo Espírito Santo (cf. Atos 20:28). Eles têm de cuidar do rebanho; são seus supervisores. Mas eles estão a serviço do Espírito que traz vida. Quem quer que despreze os ofícios e questiona sua legitimidade, falha em reconhecer o modo pelo qual o Espírito age.

Um ministro prega, presbíteros fazem visitas nos lares, diáconos cuidam dos necessitados. Mas é o Espírito quem, através disso tudo, faz o seu trabalho glorioso.

Tudo parece tão simples e inexpressivo. Mas é o ministério do Espírito em glória. Esta glória, de longe, ultrapassa a glória do ministério de Moisés! Pois através deste trabalho dos oficiais o poder do Espírito vem a nós e a congregação se torna uma carta de Cristo, conhecida e lida por todo o povo.


Tradução: Marcel Tavares

Revisão: Thaís Vieira

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