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segunda-feira, outubro 2, 2023

Aula 1 | Razões para a Leitura das Institutas

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Introdução ás Institutas da Religião Cristã

Curso gratuito, no qual você aprenderá sobre a importância, a história, o conteúdo e a estrutura da grande obra de João Calvino.

Aulas

Professor

Ministro da Palavra e dos Sacramentos nas Igrejas Reformadas do Brasil, servindo como missionário da Igreja Reformada do IPSEP em um projeto de plantação de uma igreja reformada em São Paulo. Co-editor da Revista Diakonia e Editor do Toda a Escritura.

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Resumo

Por que deveríamos dedicar tempo em ler e estudar as Institutas da Religião Cristã? Esta é uma pergunta justa, por algumas razões.

  1. É uma obra antiga (cuja primeira edição foi publicada em 1536);
  2. A grande obra de João Calvino não é de fácil leitura.

Permita-me apresentar três razões para lermos as Institutas.

  1. Seu valor histórico;
  2. Seu valor teológico;
  3. Seu valor devocional.

A primeira razão para lermos as Institutas está no seu valor histórico.

Prova disso é que na obra “Como Ler Livros” de Mortimer J. Adler, as Institutas aparecem numa lista de cerca de 310 livros considerados como os grandes clássicos da literatura Ocidental.

As Institutas, também aparecem no livro “Os 100 livros que mais influenciaram a humanidade” de Martin Seymour-Smith.

Por isso, o editor de umas das edições das Institutas em inglês, John T. McNeil, escreveu:

O livro de Calvino ocupa um lugar na pequena lista de livros que afetaram notavelmente o curso da história.”

John T. McNeil

A segunda razão para lermos as Institutas está no seu valor teológico.

Steven Osment, um historiador da Universidade de Harvard, disse que as Institutas são: “a mais eloquente, afirmação teológica da Reforma.” E muitos estudiosos reformados ou não, concordam com essa afirmação.

O Dr. David Calhoun, um estudioso das Institutas, diz que a esta afirmação devemos acrescentar que as Institutas também “são a mais completa e importante declaração teológica da Reforma.”

Lutero apesar de suas muitas obras, escritas ao longo de sua vida, não escreveu uma teologia sistemática.

Philip Melanchthon escreveu uma teologia sistemática chamada “Loci Communes” (Lugares Comuns, 1521) que trata de diversos temas de grande relevância para a Reforma Luterana, mas após diversos acréscimos, a obra de Melanchthon ficou desorganizada, impedindo-o de alcançar devidamente gerações posteriores.

Alister E. McGrath diz que “o luteranismo nunca se recuperou realmente do fraco início provido por Melanchthon”. Segundo ele, “o domínio intelectual do protestantismo pelos teólogos de tradição reformada se deve à substância e à estrutura da edição final das Institutas de Calvino.”

Por fim, podemos mencionar o famoso amigo de Calvino, William Farel, ele escreveu Somayer (Sumário de Teologia) em 1525. Depois que Calvino escreveu as Institutas Farel escreveu a seus amigos, dizendo: “Não leia mais o meu livro, mais leia Calvino.”

O Dr. David Calhoun menciona algumas características das Institutas.

1. A teologia das Institutas é fundamentada nas Escrituras.

Às vezes, as pessoas têm a ideia de que este é um sistema muito lógico e rígido – que tudo é forçado a uma estrutura lógica. No entanto, essa ideia realmente entende mal o que Calvino está fazendo. Ele está realmente tentando usar as Escrituras para estabelecer uma teologia que seria organizada e sistemática, mas basicamente bíblica.

David Calhoun

A ponto do R. C. Reed que escreveu um livro chamado O Evangelho Ensinado por Calvino, dizer: “Calvino era um plagiador de Moisés e Davi, Isaías e Ezequiel, Jesus e João, Pedro e Paulo.” Com isso ele quer dizer que o plágio de Calvino veio de toda a Escritura.

Podemos dizer que a teologia de Calvino é um arranjo ordenado de temas bíblicos.

2. A teologia das Institutas têm uma estruturação antitética.

Em muitas passagens das Institutas é como se Calvino estivesse dizendo: “É isso que a Bíblia ensina. É nisso que devemos acreditar.” Então, ele se oporia a um determinado ensino, dizendo: “É nisso que não devemos acreditar. Isto está errado. Isto é falso.”

Um exemplo:
No início do Livro IX, depois de falar sobre a unidade da igreja e outros temas ligados à igreja, Calvino expõe alguns erros. Entre eles, este (Livro IV, Capítulo I, Seção 13):

Devemos suportar muito mais a imperfeição nos costumes e na vida, pois nisto é bem fácil cair, além do fato de que o Diabo é munido de grande astúcia para nos enganar. Ora, sempre houve os que, imbuídos de falsa persuasão de santidade absoluta, como se já fossem como que espíritos etéreos, desprezam o convívio de todos os homens nos quais percebam ainda subsistir algo humano. Tais eram outrora os cátaros e os donatistas, os quais se avizinhavam da demência desses. Tais são hoje alguns dentre os anabatistas que querem parecer haver avançado acima dos outros.”

João Calvino – As Institutas: Edição Clássica

É bom observarmos que Calvino é polêmico, mas não se alegrava com a polêmica. É possível encontrá-lo dizendo algo como: “Deveria ser suficiente simplesmente declarar a verdade e passar para outra coisa“. Era isso que Calvino adorava fazer, mas ele disse: “Por causa de falsos ensinamentos, não podemos fazer isso“. Então às vezes é preciso confrontar o erro, desmascarando-o.

3. A teologia das Institutas não é especulativa.

Às vezes, as pessoas pensam que as Institutas são um livro de grande lógica teológica ficam decepcionadas quando começam a lê-la, porque as coisas que pensavam que seriam respondidas não são respondidas.”

David Calhoun

Para onde a Bíblia o levou, ele foi. Onde as declarações das escrituras pararam, ali ele parou.

Benjamim Warfield

No Livro III, Capítulo XXI, Seção 4, Calvino nos diz (falando sobre a eleição):

… não perscrutemos as coisas que o Senhor deixou guardadas em secreto; não negligenciemos as que pôs a descoberto, para que não sejamos condenados ou de excessiva curiosidade, de uma parte, ou de ingratidão, de outra.”

João Calvino – As Institutas: Edição Clássica

No Livro IV, Capítulo 22, Seção VII, lemos (falando sobre a Ceia do Senhor):

Senão que, antes, exorto aos leitores a que não contenham o sentido de sua mente dentro destes limites demasiadamente estreitos; ao contrário, que lutem por subir bem mais do que o possam sob minha direção, porque eu próprio, sempre que se trata desta matéria, quando tento dizer tudo, em razão de sua dignidade, ainda sinto que disse pouco demais. Mas, ainda que a mente possa pensar mais do que a língua em exprimir, contudo também aquela é vencida e posta por terra pela magnitude do assunto. Portanto, enfim, nada me resta senão prorromper em admiração desse mistério ao qual o intelecto não pode estar em condições de ponderá-lo com clareza, nem a língua de explicá-lo.”

João Calvino – As Institutas: Edição Clássica

No Livro III, Capítulo XXI, Seção 3, lemos:

Isso é entrar em um labirinto, um labirinto”. Você entra nessas perguntas que são apenas perguntas curiosas que não temos como responder, e você entra nesse labirinto. Você se perde lá. Portanto, evite curiosidade excessiva. O labirinto, para ele, era uma figura das tentativas humanas de procurar Deus além da Palavra.”

João Calvino – As Institutas: Edição Clássica

Eu li um artigo do Dr. Hermistem Maia no qual ele menciona que em 1551, respondendo a uma carta de Laelius Socino (1525-1562), na qual este fazia várias especulações, Calvino (1509-1564) lhe diz:

Certamente, ninguém pode ser mais adverso ao paradoxo do que eu, e não tenho nenhum deleite em sutilezas. No entanto, nada jamais me impedirá de confessar abertamente aquilo que tenho aprendido da Palavra de Deus, pois nada, senão o que é útil, é ensinado na escola desse mestre. Ela é meu único guia, e aquiescer às suas doutrinas manifestas será a minha constante regra de sabedoria. (…) Se você tem prazer em flutuar em meio a essas especulações etéreas, permita-me, peço-lhe eu, humilde discípulo de Cristo, meditar naquilo que conduz à edificação da minha fé.”

João Calvino

No Livro IV, capítulo 17, seção 7, relacionados à doutrina do Senhor. Ceia e muitos outros lugares onde Calvino disse:

É o mais longe que posso ir. O que precisamos fazer agora é adorar e não responder a perguntas que não podemos responder.”

João Calvino

4. A teologia das Institutas ilustra o princípio da acomodação.

Isso se refere ao conceito de que Deus se acomoda em Sua Palavra ao nível de nosso entendimento.

Livro IV, Capítulo I, Seção 8:

Por outro lado, entretanto, porque previa ser-nos até certo ponto conveniente que soubéssemos quem fosse de nos ter por seus filhos, nesta parte ele se acomodou à nossa capacidade de entendimento.”

João Calvino – As Institutas: Edição Clássica

Em outro lugar escreveu: “Assim como Deus se acomodou ao nosso nível, nós nos acomodamos ao nível das pessoas que somos chamados a ensinar“.

5. A teologia das Institutas é apresentada de forma retórica.

Calvino está muito mais no modo da retórica humanista. Isso não é humanismo secular moderno, mas sim humanismo literário e retórico do século XVI.

A palavra “retórica” ​​aqui significa que a linguagem deve ser usada de uma maneira que seja capaz de persuadir. Em outras palavras, não basta apenas expor a verdade. Deve ser apresentado de maneira poderosa, comovente e eloqüente.

Um exemplo, da Carta ao Rei Francisco I:

Pois, o que melhor se coaduna com a fé e mais convenientemente do que reconhecer que somos despidos de toda virtude, para que sejamos vestidos por Deus; vazios de todo bem, para que sejamos por ele plenificados; escravos do pecado, para que sejamos por ele libertados; cegos, para que sejamos por ele iluminados; coxos, para que sejamos por ele restaurados; fracos, para que sejamos por ele sustentados; despojando-nos de todo motivo de glória pessoal, para que somente ele seja glorioso e nós nele nos gloriemos?

João Calvino – As Institutas: Edição Clássica

A terceira razão para lermos as Institutas está no seu valor devocional.

Mas uma leitura atenta das Institutas nos levará à conclusão de que sua teologia é também devocional. Com isso quero dizer que seu objetivo não é nos ensinar só a verdade mas nos conduzir à piedade.

O título da edição de 1536, nos ajuda a entender isso: “As institutas da religião cristã que contem quase toda a soma da piedade e o que é necessário saber na Doutrina da Salvação”.

O lema de toda a vida de Calvino era “Ofereço-te meu coração, Senhor, pronta e sinceramente”.

Nas Institutas não somos instados a aprender a teologia por causa da teologia em si mesma, mas por causa do próprio Deus. Ele deve ser o alvo de nosso interesse, o estudo da teologia é apenas um meio, para conhecer mais a Deus.

Conclusão

Essas três razões que aqui apresentei são para encorajá-lo a ler e estudar as Institutas.

  1. Seu valor histórico;
  2. Seu valor teológico ;
  3. Seu valor devocional.

Questionário

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Bibliografia

CALHOUN, David. Introducing the Institutes.

ADLER, Mortimer J.; VAN DOREN, Charles. Como Ler Livros: O Guia Clássico para a Leitura Inteligente. São Paulo: É Realizações, 2010.

SEYMOUR-SMITH, Martin. Os 100 livros que mais influenciaram a humanidade. Rio de Janeiro: Difel, 2002.

ORTEGA Y GASSET. A Rebelião das Massas. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2006.

MCGRATH, Alister E. O Pensamento da Reforma. São Paulo: Cultura Cristã, 2014. p. 284.

CALVINO, João. As Institutas: Edição Clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.


Material para Download


Ementa

  1. Razões para a leitura das Institutas;
  2. O título da obra e sua relação com as Escrituras;
  3. Edições e traduções das Institutas;
  4. A estrutura das Institutas e instruções para sua leitura.

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