Série “A Palavra” – Parte 1: Emílio Garofalo Neto e a literatura

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Livro aberto

Nós somos falados e a nossa vida é uma narrativa. O Autor de todas as coisas trouxe à existência todas elas pelo poder de Sua Voz, e nos conduz nesse belo Universo em aventuras, mistérios, dramas e romances dos mais diversos e agridoces. E Ele nos concedeu, graciosamente, o que há de valioso em nós: a Sua imagem! 

Por isso, também somos capazes de criar e compreender narrativas; além de sermos uma, contamos histórias e as nossas vidas são permeadas – e moldadas – por elas: desde as de ninar à História do Verbo em carne que habitou entre nós. 

E é por reconhecermos a preeminência da Palavra para nós, o povo de Deus, que traremos aqui uma série de entrevistas com pastores e presbíteros que nos ajudarão a compreender melhor o papel da leitura para o cristão e, definitivamente, nos servirão como incentivo a debruçarmo-nos sobre os livros.

Para iniciar essa série, entrevistamos o pastor presbiteriano Emílio Garofalo Neto: um cristão, leitor e escritor, que tem feito uso admirável das palavras para a edificação da igreja de Cristo. Ele é autor dos livros “As boas novas em Rute”, “Futebol é bom para cristão” e “Isto é filtro solar” (lançamento mais recente, em pré venda pela editora Monergismo), além de escrever muitas histórias em sua página do Medium. 

É com muita alegria, então, que vos deixamos com as palavras do reverendo:

O senhor poderia começar com uma apresentação e um breve relato sobre o início de sua jornada como leitor (como começou, quais os primeiros interesses, quando percebeu sua importância…)?

Sou pastor da Igreja Presbiteriana Semear em Brasília, onde estou servindo desde 2011. Ajudo ainda no preparo de futuros pastores como professor. Tenho aos poucos me aventurado também a me tornar escritor! Estou para publicar meu terceiro livro e tenho lançado muitos artigos de ficção e de não-ficção. Sempre fui incentivado à leitura por meus pais, a quem eu sempre via lendo e que sempre estavam dispostos a comprarem livros e revistas para mim. Sempre gostei de ficção e de história em quadrinhos! Acho que é importante na infância que se desenvolva esse gosta pela leitura, ainda que não seja por meio dos livros clássicos ou a lista de leituras obrigatórias do currículo escolar. 

De que forma a cosmovisão cristã modifica ou molda o seu relacionamento com a literatura? 

A cosmovisão cristã me ensina a ver em toda obra humana uma complexa mistura de erro e acerto. Vejo obras feitas por seres feitos à imagem de Deus, e assim sendo com muito resquício de verdade e mesmo beleza. Ao mesmo tempo, por se tratarem de seres caídos, suas obras vão de formas diversas apresentar rebeldia contra Deus. Além disso, verei impulsos redentivos no coração do autor, que de alguma forma busca soluções para as crises do mundo. Ter tudo isso em mente ajuda tanto no consumo como na apreciação das obras literárias.

Para o senhor, qual a relevância de estimular a leitura nas crianças, especialmente filhos de pais cristãos (tem alguma sugestão de como isso pode ser feito no âmbito da igreja)?

Creio que a importância passa pelo fato de que Deus nos deu um livro. É parte do discipulado fiel ensinar as crianças a amarem esse livro. Esse amor pode ser reforçado pelo amor a outros livros, e pode ainda ser um grande estímulo para que se busque mais conhecimento. Creio que quando pregadores e professores com certa frequência se utilizam de ilustrações, citações e alusões a obras literárias, isso ajuda os pais a perceberem que se trata de um tesouro de onde podem eles mesmo tirar vários tesouros para seus filhos. 

De que forma o senhor consegue perceber bons frutos advindos da leitura nos jovens e adultos que pastoreia? 

Percebo primeiramente o fruto da alegria que vem de consumir histórias. Mas pragmaticamente falando, percebo maior capacidade de empatia, em particular quanto a descrentes. Com isso vem, naturalmente, maior facilidade para construir pontes apologéticas e evangelísticas. 

A leitura é, sem dúvida, essencial. E com relação à escrita – especificamente a escrita ficcional -, para o senhor, é importante que seja incentivada? Há ovelhas suas que tenham esse talento?

Eu creio que todos somos chamados a escrever, em algum nível. Todos os jovens de minha igreja escrevem e muito, em geral em chats de apps e mídia social. Alguns vão além disso e escrevem para publicação, sejam textos teológicos, crônicas ou mesmo textos de ficção. Tenho muitas ovelhas, não somente jovens, com grande talento para  escrita e sempre busco incentivá-los. Creio que seja um ambiente em que podemos servir a igreja e desafiar o mundo de uma forma bela e atraente. 

Para finalizar, o senhor poderia dar um conselho e indicar 2 de seus livros favoritos para os jovens do Collegium Reformatus?

Eu diria para lerem! Não se preocupar tanto em estar seguindo os livros que “deveria estar lendo”. Alguns colocam o peso de que precisa-se antes de tudo ler os chamados clássicos. E eles têm seu enorme valor. Mas prefiro alguém lendo algo que não seja um clássico do que não lendo o livro supostamente importante. Leia no gênero que você gosta, seja fantasia, ficção científica, ficção militar, espionagem, o que for. E aos poucos vá se aventurando para novos materiais. Eu em particular gosto muito dos livros de espionagem de Frederick Forsyth. Tenho gostado muito dos livros de ficção científica de Cixin Liu. Amo a série de livros que se passa em Gilead, de Marilynne Robinson. 

Agradecemos imensamente ao Pr. Emílio por ter dedicado o seu tempo à nossa Revista, nos encorajando à árdua e prazerosa “disciplina literária”. 

Avante, colegas!

Soli Deo Gloria

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