Entrevista com Doutor Gerson Junior

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Em setembro, no Collegium Reformatus iniciará um novo curso – Introdução à Lógica –  ministrado pelo Dr. Gerson Junior, professor de filosofia e membro da igreja Reformada do Ipsep. Antes das aulas começarem, a revista Verbum trouxe aos caríssimos leitores a presente entrevista, com o professor, e uma breve introdução do que é lógica e o que esperar desse novo curso.

– Fale um pouco sobre você.  Profissão, cursos, áreas de atuação e alguma informação que queria acrescentar.

Chamo-me Gerson Júnior, e sou professor de filosofia na Universidade Católica de Pernambuco, no Instituto João Calvino e no Seminário Presbiteriano do Norte. Minhas áreas específicas de ensino e pesquisa são a Filosofia da Linguagem e a Lógica.

Perguntas:

  1. Em poucas linhas, qual a definição de Lógica?

A lógica pode ser definida de várias maneiras. A mais comum delas é a que define a lógica como sendo uma disciplina que estuda os princípios gerais usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto.

  • Muitas vezes vista como um assunto bastante complexo, qual a importância do Estudo da Lógica para as pessoas, e especificamente, para os jovens cristãos do Collegium Reformatus?

O estudo da lógica se torna importante para qualquer pessoa e, especificamente, para os jovens cristãos por diversas razões. Em primeiro lugar, porque as ferramentas formais oferecidas pela lógica nos ajudam a pensar corretamente sobre o mundo e sobre as coisas. Por exemplo, os princípios gerais da lógica nos ajudam a entendermos melhor alguns aspectos fundamentais e estruturais da realidade. Em segundo lugar, e em decorrência da primeira razão, porque nos ajuda a entendermos melhor alguns aspectos fundamentais e estruturais da realidade, a lógica nos ajuda também a falar corretamente sobre a realidade, nos fornecendo instrumentos formais e informais para uma descrição mais precisa e mais bem elaborada sobre o mundo. Por “falar corretamente” queremos dizer simplesmente discursar sobre as coisas de modo verdadeiro. Em terceiro lugar, a lógica nos ajuda a organizar melhor nossas ideias, sobretudo quando, num contexto de diálogo ou discurso, necessitamos defender um pensamento, ideia, noção ou conceito, e quando precisamos expor argumentos. 

  • Quão fundamental é aprender a Lógica, para os jovens que estão expostos a falácias por todos os lados desde a Universidade até a internet?

Essa resposta poderia ser uma extensão da anterior, e ela já está, em parte, na própria pergunta, a saber, é fundamental para que os jovens possam identificar as inúmeras falácias a que muitas vezes somos expostos no âmbito acadêmico e universitário. Nesse âmbito, predominam as chamadas “narrativas” e, não poucas vezes, elas são permeadas de várias falácias. Um jovem que sabe bem os princípios da lógica poderá não só identificar essas falácias, como também refutá-las.

  • Dois dos principais fundamentos da Lógica são a veracidade das premissas e a validade dos argumentos. Qual a relevância, em sua opinião, de chegar à verdade não apenas com premissas corretas, mas com um argumento cuja estruturação seja correta?

A distinção entre verdade e validade é muito importante na lógica. A verdade sempre está relacionada às proposições, ou seja, àquilo que dizemos sobre o mundo. Já a validade está relacionada aos argumentos formais. Uma proposição é verdadeira ou falsa, mas nunca válida ou inválida. Um argumento formal é válido ou inválido, mas nunca verdadeiro ou falso. A verdade ou falsidade das proposições de um argumento formal não definem a validade ou invalidade desse argumento. Isso implica dizer que podemos ter um argumento formal válido com todas as suas proposições (premissas e conclusão) falsas. O ideal procurado por todos os amantes das verdades é que os argumentos sejam corretos ou sólidos, ou seja, que suas premissas sejam verdadeiras, isto é, que digam exatamente o que ocorre no mundo, e a sua conclusão também seja verdadeira, sendo justificada pelas premissas. A relevância disso é porque, nesse caso, não só dizemos proposições verdadeiras sobre o mundo, mas podemos demonstrar várias consequências do uso dessas proposições.

  • Douglas Wilson, em seu livro Educação Clássica e Educação Domiciliar, fala que o ensino da lógica deve ser ensinado entre 11 a 13 anos tendo em vista o método da Educação Clássica.  Como professor de Filosofia com foco em Lógica e que ensina adultos na faculdade, qual sua análise ou pensamento sobre esse ensino para crianças?
    Hoje, existem vários tipos de lógica. Porém, quando se fala de lógica no âmbito da Educação Clássica e da Educação Domiciliar, estamos falando de, basicamente, dois tipos de lógica: a lógica proposicional (formal e informal) e a lógica aristotélica. Essas são lógicas fundamentais, e julgo que, resguardando alguns de seus temas que são mais técnicos e específicos, os seus aspectos essenciais possam ser ensinados de modo apropriado na faixa etária indicada. Agora, claro, à semelhança de quase tudo na vida, aprender lógica requer dedicação, esforço e muito treino.
  • Quais as expectativas – e conselhos – que você tem ao ministrar esse curso no Collegium Reformatus?

As minhas expectativas em ministrar esse curso são as melhores possíveis. Destaco duas delas: primeiro, pela importância do tema, pois é fundamental saber lógica hoje em dia; segundo, pelo desafio imposto, uma vez que essa turma será minha primeira turma de lógica no âmbito do Ensino Domiciliar (espero que não fique só nessa!). Diante disso, se puder dar alguns conselhos, gostaria de indicar dois. O primeiro deles diz respeito a não ter medo de estudar lógica. Acredito que muitas coisas serão novidades para a maioria dos alunos; mas não se deve temer. Segundo, para encarar as dificuldades é necessário dedicação. Organizem-se e reservem tempo para o estudo da lógica, até que ela “faça parte” da sua vida.

Assim encerra-se a entrevista e esperamos que esse curso seja uma bênção, que os alunos aprendam bastante e que tudo seja feito para a glória de Deus!

Fonte: revista.collegiumreformatus.org
Projeto: collegiumreformatus.org

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